Além das distorções salariais
em relação aos homens, as mulheres enfrentam um outro desafio no mercado de
trabalho - quanto mais filhos elas têm, menor é o salário que elas ganham. A
diferença não é pequena, uma brasileira com três ou mais filhos recebe até 40%
menos que uma colega que não é mãe.
Números da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, compilados pela consultoria
IDados apontam que, enquanto mulheres sem filhos ganham em média R$ 2.115 por
mês, ter o primeiro filho reduz o salário em 24%. Se a família crescer e o
número de crianças chegar a três ou mais, a queda no rendimento é de quase 40%.
Para diminuir distorções, o
levantamento considerou trabalhadoras de 25 a 35 anos e casadas. Nesse grupo,
as que têm filhos são a maioria no mercado de trabalho. No primeiro semestre,
elas somavam 2,92 milhões de trabalhadoras, contra 1,36 milhão das que não são
mães.
A bibliotecária Heloisa
Spolador, de 30 anos, optou por esperar. "Para muitas vagas, as primeiras
perguntas que o empregador faz são 'é casada?' e 'tem filhos?'. Acho que o fato
de não ter tido filhos e ter me casado um pouco mais tarde, aos 28 anos, me
ajudou a conseguir vagas melhores." Heloisa diz que ela e o marido
pretendem esperar um pouco mais antes de ter filhos, porque ela quer voltar a
estudar.
Igualdade distante - Alguns fatores, como questões
culturais, falta de acesso a creches e dificuldades para conciliar os cuidados
familiares com o aprimoramento da formação ajudam a explicar a desigualdade
salarial entre as mulheres com filhos das demais, diz o economista do Ibre/FGV
e pesquisador do IDados, Bruno Ottoni.
Quando aumenta o número de
filhos, todas as questões que normalmente pesam para uma mulher vão se
acumulando, diz ele. "Há desde problemas ligados ao preconceito, quando o
chefe acha que ela vai se dedicar menos ao emprego, aos empregadores que não
querem reorganizar a equipe para as mudanças que uma gravidez e filhos pequenos
provocam."
Ele cita, ainda, que grande
parte do problema se deve à falta de políticas públicas pensadas para manter a
mulher no mercado de trabalho. O Brasil terminou o ano de 2017 com menos da
metade das crianças de zero a três anos matriculadas em creches em todos os
Estados. Só 32,7% das que estão nessa faixa etária são atendidas, segundo o
IBGE.
Uma pesquisa da consultoria
LCA, também feita a partir de dados da Pnad, aponta que as mulheres eram a
maioria entre os desalentados, os trabalhadores que desistiram de procurar por
um novo emprego.
"Às vezes dá vontade de
desistir", diz a técnica de qualidade Vanderleia Silveira, de 30 anos.
"Quando minha filha completou dois meses de vida, pedi demissão do meu
emprego, porque ficar longe dela me fazia mal." Dois anos depois, ela
tenta voltar ao mercado, mas quando recebe uma resposta dos entrevistadores o
salário é muito baixo. "Numa entrevista recente, fizeram várias perguntas
sobre a minha filha. Se eu não fosse mãe, aquela vaga seria minha."
Se os homens enfrentassem os
mesmos obstáculos das mulheres no mercado de trabalho, também desistiriam, diz
Regina Madalozzo, economista do Insper. "Por isso, políticas públicas,
como a adoção da licença parental dividida obrigatoriamente entre pai e mãe
(mesmo sistema adotado na Suécia e Dinamarca), ajudam a acabar com a ideia
equivocada de que a licença é uma folga que a mulher tira do mercado de
trabalho."
Ela lembra que muitas mulheres
optam pelo empreendedorismo para ter sucesso ou alguma renda. Até porque,
algumas propostas que aparecem quando elas se tornam mães são tão ruins que não
valem a pena. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (JB)
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