sexta-feira, 14 de junho de 2019

POUCAS E BOAS – artemisiodacosta@hotmail.com (Do Jornal Correio da Semana - Sobral-CE - Sábado - 15.06.19)

Rádio Educadora: 60 anos a serviço da Evangelização, da Cultura e da Informação
Como a segunda emissora criada em Sobral, a Rádio Educadora do Nordeste – ZYH 593 / 950 kHz – nasceu do idealismo e dos esforços do Monsenhor Sabino Guimarães Loyola, que teve como primeiros colaboradores os amigos José Patriarca de Lima e do Monsenhor José Aloísio Pinto. O sonho do religioso era criar uma emissora mais voltada para os interesses da Educação e da Igreja Católica. Com esse objetivo, por muito tempo levou a educação pelas ondas hertzianas a muitos locais da região norte do Ceará, através de programas genuinamente educativos e até avançados para aquela época.

A emissora foi ao ar, em caráter experimental, a 20 de maio de 1959. Sua fundação oficial data de 21 de junho de 1959, e teve como primeiro locutor Francisco Marques dos Santos (Marcos da Cruz). Este saudoso radialista também atuou como mestre-de-cerimônias na festa inaugural realizada em 8 de julho do mesmo ano, no (extinto) Cine Rangel. A solenidade contou com as presenças de ilustres personalidades municipais e estaduais, dentre elas, o governador do Ceará, Parsifal Barroso.

Depois de anos sob o comando do Mons. Sabino Loyola, a emissora foi adquirida pela Diocese de Sobral. Durante décadas funcionou em vários locais, todos na Avenida Dom José. Inicialmente, no histórico sobrado de Domingos José Pinto Braga, que fica na esquina da Av. Dom José com Rua Domingos Olímpio, onde funcionou a Academia Sobralense de Estudos e Letras. Também esteve, provisoriamente instalada, no prédio do Museu Diocesano Dom José. No período mais longo, funcionou em frente ao Colégio Sant´Ana. Atualmente, está na Cúria Diocesana, na Praça Quirino Rodrigues.

Merece destaque especial o amor e o trabalho incansável dispensados por seu fundador e sócios-fundadores, superintendentes (bispos, ecônomos da Cúria), diretores da emissora e funcionários de todos os níveis. A obra iniciada por Mons. Sabino Loyola teve como continuadores os bispos da Diocese de Sobral Dom José Tupinambá da Frota, Dom João José da Mota e Albuquerque, Dom Walfrido Teixeira Vieira, Dom Aldo di Cillo Pagotto; Dom Fernando Antônio Saburido, Dom Odelir José Magri e, atualmente, Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos. Cada um merecedor de reconhecimento e aplauso por sua importante parcela de contribuição.

No decorrer desses sessenta anos, a Emissora passou por significativos melhoramentos. Dentre as diversas reformas, merece menção a ocorrida em 2000, na administração de Dom Aldo di Cillo Pagotto: a Rádio Educadora e o Jornal Correio da Semana ganharam novas instalações, passando a funcionar na Cúria Diocesana. Tempos depois, já na gestão de Dom Fernando Antônio Saburido, foi adquirido um moderno transmissor de 6 kW e sua programação foi reformulada. Atualmente, Dom Vasconcelos vem desenvolvendo importantes melhoramentos na Emissora da Diocese de Sobral.

Foi imprescindível o trabalho dos ecônomos. Cônego Egberto Rodrigues de Andrade dedicou grande parte de sua vida à Cúria, à Radio Educadora e ao Jornal Correio da Semana no governo episcopal de Dom Walfrido. Além do Cônego Egberto, notável atuação teve Francisco Valmir Andrade, conceituado contador e empresário sobralense, que colaborou com Dom Aldo Pagotto na construção de obras como o novo Seminário. Hoje, Edna Maria Chaves da Silva esbanja dedicação e competência no cargo, prestando relevante auxílio a Dom Vasconcelos.

Além desses importantes colaboradores, muito ajudou no engrandecimento da emissora a atuação de diretores, como Mons. Francisco Sadoc de Araújo, Professor José Ribamar Coelho e Carlos Gomes Carneiro. A dedicação e o empenho dos três vêm servindo de exemplo e estímulo ao novo diretor Padre Lucas do Nascimento Moreira, que também comanda o hebdomadário da Diocese com muita maestria.

Por dever de justiça, deve obrigatoriamente ser lembrado que também entrou para a história o trabalho feminino nos órgãos de comunicação da Diocese. Umas atuaram e ainda autuam diretamente na locução; outras, na retaguarda. Aqui, todas são lembradas em nome de Zuleika Viana Ximenes. Ainda hoje, aos 90 anos, dona Zuleika ainda cumpre religiosamente sua carga-horária de trabalho com muita competência. Isso, não obstante em sua trajetória na Cúria de mais de meio século também ter prestado relevantes serviços à Educadora e ao Jornal.

Além de todos os colaboradores retromencionados, há um grupo especial sem o qual a história da Rádio Educadora teria estagnado logo no seu nascedouro. São aqueles e aquelas que diariamente emprestaram e ainda emprestam seu conhecimento técnico, sua criatividade e seu talento e, enfim, suas vozes para levar longe a mensagem da Emissora.

E não são poucos os locutores, locutoras e sonoplastas que deram ou continuam dando tudo de si para que a Rádio Educadora atingisse o lugar de destaque e de respeito na Comunicação. Grande número deles atuando como funcionários da empresa; outros trabalhando sob o regime de arrendamento de horários. O amor. O talento e a garra dessas pessoas à comunicação continua sendo o grande propulsor da Rádio Educadora.

É grande o número dos que profissionalmente nasceram na Emissora da Diocese, nela se aperfeiçoaram e cresceram, garantindo, assim, seus espaços entre os mais gabaritados e competentes na comunicação. Aos que já cumpriram sua missão na terra, respeito e gratidão eternos. Aos que continuam sua caminhada na “emissora do povo cristão”, força e amor para continuar empunhando fielmente uma das bandeiras da Educadora que, além de evangelizar, também contempla “instruir divertindo” e “divertir instruindo”.

O tempo passa e a missão precípua de evangelizar, instruir e entreter da Rádio Educadora continua inabalável. Em tempo algum sentiu-se propensa a desviar-se de sua filosofia inicial, que escuda seus dirigentes e colaboradores para não cederem diante das armadilhas do mal. O respeito e a confiança depositados na Emissora por quem consome seus produtos radiofônicos ou nela faz divulgação de publicidades prende-se ao fato de a Rádio Educadora permanecer coerente com sua missão, endossada pela fé católica: propagar o amor a Deus e ao próximo; respeitar e zelar as tradições sadias; respeitar o Vernáculo e promover o entretenimento sadio, através de uma comunicação séria, responsável, equilibrada e cativante.

Atualmente, como a mais potente em Amplitude Modulada (AM) da região e com seu seleto quadro de profissionais, a emissora católica busca o constante aprimoramento. Sempre no intuito de continuar oferecendo o que há de melhor em informação, educação, cultura e na promoção da fé e da paz. Além poder ser captada através da frequência AM 950, sua seleta programação também está disponível na rede mundial de computadores no endereço www.radioeducadora950.com.br

Tendo como Superintendente o Bispo da Diocese de Sobral, Dom José Luís Gomes de Vasconcelos, a Rádio Educadora atualmente tem o seguinte quadro funcional efetivo: Padre Lucas do Nascimento Moreira (Diretor Geral); José Wilson Fernandes Calixto (Assessor Financeiro); Breno Mendes Aguiar (Assessor de Comunicação); Francisco Firmino Filho (Comunicador); José Alberto Lopes Pereira e José Evanildo Liberato (Sonoplastas).
Programa Artemísio da Costa

Já como arrendatários de horário, mantêm programas os comunicadores Educadora: Antônio Ponte, Araújo Pachelle, Artemísio da Costa, Bethy Salsa, Chagas Lopes, Gilvan Aragão, Inácio de Brito, Ivan Moreira, João Batista Cruz (JB), Joab Aragão, Júnior Linhares, Oswaldo Aveliño, Norone Souto Angelim, Dra. Patrícia Tavares, Salmito Campos, Vicente e Sandra Nogueira, William Vasconcelos, Vavá Bastos e Zezé Bastos.

Graças a todos os seus colaboradores do passado e do presente a emissora da Diocese de Sobral vem cumprindo religiosamente seu papel.

Dessa forma, tanto os que contribuíram para isso, como os que hoje fazem sua parte, merecidamente entrarão no rol dos que tudo fizeram/fazem para que essa RÁDIO não somente ultrapasse os 60 anos, mas também continue por mais muitos anos fazendo jus ao honroso nome de EDUCADORA.
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ENTREVISTA DO MONS. SABINO LOYOLA, CONCEDIDA EM 2002, AO REDATOR DO JORNAL CORREIO DA SEMANA

Mons. Sabino Loyola concedeu em 2002 entrevista histórica a Artemísio da Costa, Redator do Jornal Correio da Semana àquela época. O religioso destacou pontos importantes da luta que empreendeu para fazer nascer sua querida filha, Rádio Educadora do Nordeste. Acompanhe.

Artemísio da Costa (AC): Quando e como começou a ideia de fundar a Rádio Educadora do Nordeste?
Monsenhor Sabino (MS): No início de 1955, num curso em Sorocaba (SP), eu e mais quatorze sacerdotes recebemos muitas instruções sobre educação quanto a problemas agrários. De lá fui a São Paulo e tomei conhecimento de que o Padre José Salsedo, na Colômbia, havia introduzido a educação através de pequenos rádios, educação agrícola para camponeses. Ao passar pelo Rio de Janeiro solicitei um canal, dando-lhe um nome, que depois reformei para Rádio Educadora do Nordeste.

AC: O senhor enfrentou muitas dificuldades?
MS: Naqueles tempos criavam tanta dificuldade que para serem superadas tive de voltar ao Rio várias vezes. Pedi também o auxílio do Mons. José Aloísio Pinto no sentido de conseguir a aprovação do canal e a outras pessoas como Pe. Joaquim Almeida. Apeguei-me também ao Ministro do Trabalho, Parsifal Barroso, mas este se descuidou e foi a mulher dele quem me ajudou bastante. A dona Olga Barroso, mulher do Parsifal, foi quem insistiu e um dia recebi um telegrama citando que o canal ia sair, mas que dependia da minha ida ao Rio de Janeiro-RJ.

Na época eu estava como vigário de São Benedito. Tive de tomar um transporte, mesmo pensando que era um golpe do Pe. Palhano contra mim. Vim a Sobral para preparar toda a papelada que era necessário. Comprei quatro pneus para o Jeep e larguei-me para Fortaleza, a fim de pegar um voo para o Rio. Chegando lá, fui diretamente para o Ministério do Trabalho. Não foi possível falar com o Parsifal Barroso, mas falei com alguém designado por ele, um substituto seu, que agilizou toda a documentação para que eu assinasse o contrato, responsabilizando-me em assumir a direção da Rádio Educadora do Nordeste.

AC: O senhor contou com a colaboração de mais alguém para atingir esse objetivo?
MS: Contei com o José Patriarca de Lima e com o Mons. Aloísio, mas o Mons. Aloísio não tinha entusiasmo pela efetivação da Rádio Educadora do Nordeste. Um dia ele me perguntou: “Você tem dinheiro?” Respondi-lhe: Tenho não. Ele continuou: “Então deixe disso, deixe de mão. Você não pode fazer isso”. Quanto mais criavam dificuldades, mais eu me sentia estimulado a continuar lutando para atingir esse ideal. E continuei.

Estive em Fortaleza, contatei com uma pessoa que era diretor de Rádio, apresentei as despesas e ele disse: “O Senhor está muito enganado. O Senhor não faz uma Rádio com esse dinheiro. É preciso mais dinheiro, muito mais.” Tive uma onda de desânimo, mas resolvi: Eu vou fazer, eu tenho de fazer.


E as dificuldades foram desaparecendo. Uma das maiores era a compra da antena e da mesa de som. Mas sucedeu que a mesa de som e o transmissor viriam por um caminhão porque era muito caro trazer de avião. Chegaram em Sobral todas desfeitas, desmanteladas. Mas a pessoa que vendeu disse que não havia conserto para elas. Pediu-me que mandasse de volta e disse que mandaria novos equipamentos. Depois recebi um transmissor em perfeito estado sem gastar coisa alguma, só que desta vez veio por via aérea. 

Outro incidente foi com a torre. Foi despachada em São Paulo e não chegava em Sobral. Depois tomei conhecimento dela em Recife, jogada, com cargas sobre ela, e que depois desapareceu. Passamos vários telegramas, comunicando que já havia sido remetida, e só dois ou três meses depois recebemos.
Prédio (sobrado) onde a Rádio Educadora iniciou suas atividades em 1959

AC: Na fase inicial, algum político quis interferir na Emissora?
MS: No dia da inauguração eu vim de São Benedito para Sobral. Vários políticos participaram da solenidade, inclusive Parsifal Barroso e Chico Monte, que nos ofereceram um almoço. Dom José me chamou e disse: “Essa Rádio, Sabino, não vai dar certo porque está muito influenciada pela política”.  Eu respondi: Senhor Bispo, eu garanto que eles não influenciarão lá dentro em nada. E assim foi. Na verdade, não influenciaram em nada.

AC: E Dom José Tupinambá da Frota foi importante na execução desse projeto? Ele ajudou em alguma coisa?
MS: Lamentavelmente, não! Porque ele estava engajado na aquisição de uma Rádio para o Pe. Palhano. Uma vez eu pedi a ele que passasse um telegrama para o Rio de Janeiro dando-me uma força. Ele não atendeu o pedido porque já havia solicitado para o Palhano e não queria pedir para mais um.

AC: Como Emissora católica, o Senhor estabeleceu regras. Que regras foram essas?
MS: Primeiramente: Não se fazia propaganda de bebidas alcoólicas. A Rádio era 100% pela moral. Em ausência minha, um funcionário recebeu uma propaganda de um dono de alambique de Ubajara. Quando voltei, repreendi o funcionário e telegrafei para o anunciante pedindo que não levasse a mal, mas que a Rádio não fazia comercial de bebida alcoólica. O mesmo aceitou sem dizer uma palavra.

AC: Como a população recebeu a Rádio Educadora?
MS: Havia naquela época a Rádio Iracema dirigida pelo José Maria Soares. Mas como os programas dela eram muito rotineiros, saímo-nos melhor porque a Rádio Educadora do Nordeste apresentava novidades, dentre elas, programas de educação, que eram bem ouvidos, através de pequenos rádios repetidores que o Ministério da Educação nos enviou. Inicialmente, ganhamos trezentas unidades desses rádios. Depois, com a influência do deputado estadual Guilherme Gouveia, de Granja, juntamente com Dom Coutinho, Vigário Capitular depois da morte de Dom José, consegui mais quinhentos, de modo que uma pessoa dava aula com esses rádios de acordo com as nossas instruções.

AC: Que tipo de ajuda o senhor recebia do povo de Sobral?
MS: Havia uma dificuldade muito grande para se conseguir um anúncio. Fui a São Paulo e consegui muitos anúncios, mas lamentavelmente a pessoa que os recebeu ficou com todo o dinheiro; me enganou.

AC: A Rádio era propriedade sua ou da Diocese de Sobral?
MS: Era minha, do José Patriarca de Lima e do Mons. Aloísio Pinto. Eu vendi a minha parte por quatorze contos réis. Dei um agrado aos funcionários, fiz a limpeza do prédio e entreguei tudo em ordem.

AC: Como se deu o repasse da Rádio para a Diocese de Sobral?
MS: Como as coisas do governo são difíceis, demorou. Mas a Emissora acabou passando para a Diocese. Depois de mim foi o José Patriarca de Lima que vendeu suas ações e, mais tarde, o Mons. José Aloísio Pinto também vendeu a parte dele, de modo que a Rádio Educadora se tornou totalmente da Diocese.

AC: O senhor deve guardar muitas boas lembranças do tempo da Rádio Educadora. Dá para citar algumas?
MS: Dentre muitas, posso citar os programas de saúde. Nós tínhamos uma equipe constante de um agrônomo, um assistente social, uma enfermeira, todos diplomados. Só não conseguimos um médico. Pedimos ao Governador do Estado, na época era o Paulo Sarasate. Estando este ausente, recorri ao vice-governador, cujo nome não lembro. O vice-governador me autorizou a tentar conseguir qualquer médico, mas não foi possível.

AC: Que tipo de música tocava na época?
MS: Só tocávamos músicas convenientes. Tínhamos discos recebidos no Ministério da Educação com explicações sobre a vida agrícola, orientação para não fazer queimadas. Íamos para o campo fazer demonstrações de curva de nível, de adubo, com o material que encontrávamos no lugar, folhas, excrementos de gado etc.

AC: Havia programa puramente religioso?
MS: Fazíamos também. Uma vez que a Rádio era católica, duas vezes por semana se fazia programa de ordem religiosa.

AC: Como o senhor vê atualmente a Rádio que fundou?
MS: A Educadora tocava discos que nós não admirávamos. Por exemplo: músicas da “boca da garrafa” e outras.  Com a chegada de Dom Aldo, providências foram tomadas e ele pôs fim a tudo isso. Hoje a Rádio Educadora do Nordeste se dá ao respeito; não toca mais esses discos inconvenientes de sentido duplo.

AC: O que senhor teria a dizer àqueles que tentam levar adiante a obra que o senhor começou?
MS: A Rádio deve realizar mais programas doutrinários de acordo com a mentalidade do povo. Ainda acho pouco o que ela faz. Deveria haver uma participação maior dos padres, bem como colocar católicos instruídos para fazer educação religiosa no sentido de educação cristã, católica, pois ainda considero deficiente esta forma de educar. (Por Artemísio da Costa)








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