sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

ARTIGOS: A violência na República brasileira (Eudes de Sousa*)


Com a fria constatação do título acima citado que perguntamos: por que a violência está mergulhada no banditismo? A primeira reação a essa pergunta seria a praga dos assaltos, para, em seguida, exigir punição mais severa, ou não raro a pena de morte, para o bandido. Isso define muito bem a banalidade da violência, na República brasileira. 

Pois bem, trazer a violência para o centro da análise de sua causa e, sobretudo, aos pés dos tribunais, é como convidar o inimigo para um combate leal. É por isso que não só a minha opinião, mas de outros interessados nesta causa, têm carregados pesados fardos de tentarem explicar a falta de uma política social real, que o poder político prefere ignorar e manter sua ideologia, que tem na forma e na matéria a cara da violência servida pelos braços cruzados de um sistema político republicano. 

Para entender como isso acontece, não precisamos invocar inúmeros fundamentos jurídicos vinculados na lei escrita, à jurisprudência ou à doutrina, fontes do direito. Basta saber como funcionou o tabuleiro político na velha República, que na sua proclamação teve no seu Manifesto, em que usava a palavra democracia como liberdade democrática, nada menos 28 vezes, mas não dizia uma palavra sobre a escravidão e ainda votou contra a lei livre. Isso já era uma advertência porque, quando falha, perde credibilidade, e esta é a razão pela qual não é eliminada a violência da imoralidade, mas realimentada. 

Ora, por esse tabuleiro histórico, remonta à velha República, quando o Brasil foi dividido pela violência política das velhas oligarquias, elas prosperaram, na nova República. Como se sabe, passa por inumeráveis formas de violências deflagradas nas fraudes, nas propinas, nas falcatruas e mais: na centralização da máquina do poder que domestica uma educação esdrúxula, elitista e preconceituosa para os mais pobres dos brasileiros. Só mudou o jeito de fazer a tradição na política republicana brasileira. 

Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar mais, diante de tamanha obviedade que reúne elementos jurídicos, econômicos, políticos e históricos. Como se sabe, as instituições de justiça não estão funcionando como deveriam, com as exceções de praxe. Ou seja, por falhas de suas normas, muitas vezes os bandidos se transformam em reações violentas, como forma de uma possível resposta aos projetos mirabolantes e inviáveis no combate à violência urbana. 

Esse cenário, portanto, constrói uma criminalidade assustadora, como se ver, nas cidades brasileiras, entre elas, estão, as do Ceará, com um dos maiores laboratórios da violência do Brasil e não vimos à cobaia. E o pior: não vimos o laboratório da violência, a não ser quando a polícia usa a morte, como “única solução”. 

Assim, o círculo vicioso da violência persegue o povo cearense, o bandido fazendo sua parte, onde o Estado se ausenta; a exemplo, do que aconteceu em Fortaleza e nas cidades de Sobral e Massapê. O povo teve seus bens queimados, e o pior: de acordo com a cartilha do bandido, muitos morrem a pontapés e a tiros. 

Assim pode-se, de logo, constatar que o Estado Brasileiro carrega uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a classe política dominante enferma de descaso, a bom entendedor meia palavra basta, os políticos ainda não se regeneraram. Eles fingem que o tempo resolve questões que se agravam. Ontem, era os coronéis da política que não se limitava de saquear o povo! Ou seja, o saque vinha sob a forma de discursos demagogos indiferentes com aqueles que tinham a perversão política social como sua companheira. Hoje, são os engravatados ladrões dos cofres públicos formadores da Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional), que torna a justiça social em um simples teatro político. 

Aí está o colapso da segurança pública brasileira, sem eira e sem beira, nos instantes de uma violência organizada, engendrada por uma política arrogante, além de controlar uma matriz de um sistema jurídico arcaico, empurra a polícia, para ser pisada pela criminalidade, que se faz passar rotulada como ‘vandalismo’. 

Neste cenário, o povo deve saber que a legislação brasileira não consegue acompanhar os fatos sociais. E é por essa via, cresce a bandidagem. Essa bandidagem tem guarida na lei surda e envelhecida. Assim, o direito penal acaba criando uma solidariedade de uma classe de “panos quentes”, com o direito a impunidade. 

Basta ver a fria calculadora das mortes dos policiais e a falência do sistema prisional brasileiro, de tal modo, que exerce uma criminalidade muito forte que invalida as inúmeras tentativas de correção feitas por sucessivos governos, na hora de debater a questão com maior franqueza.  

Enfim, como não existe continuidade administrativa na República no Brasil, o poder político não aprendeu a pescar, mas a esperar sempre por quem lhe desse o peixe! Continua do mesmo jeito! Infelizmente o povo tem que esperar pelo novo governo que se inicia. Segundo Maquiavel: “Governar é fazer acreditar”.



Jornalista, Historiador e Crítico literário  - atribunadoescritor@gmal.com 
Contato: (98) 98746-9478  


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