sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

LITERATURA CEARENSE: Betanistas em Brasília: Velhos meninos! (Leunam Gomes*)

Um encontro de ex alunos do Seminário de Sobral é sempre algo muito agradável. Eles vão chegando com aquele ar de gente muito séria. Senhores de cabelos brancos. Sisudos uns. Outros, nem tanto.  De longe, alguns logo são reconhecidos. São aqueles que mais frequentam os encontros.  Os de primeira vez, nunca são reconhecidos pelos outros. Mas também, são cinquenta ou mais anos de distância.

Hoje, são responsáveis senhores Professores, Empresários, Escritores, Poetas, Jornalistas, Políticos, Padres casados, Padres em pleno exercício do sacerdócio, Juristas, Médicos, Engenheiros, Cientistas. Exercem as mais variadas profissões. Nenhum, no entanto, se perdeu na caminhada.  Todos, invariavelmente, saindo-se bem nas atividades que desenvolvem.

Os primeiros momentos dos reencontros são de dúvidas. Quem é este? Não se lembra? Uma dica aqui, outra ali. E então vem aquele abraço. Grandes abraços. Às vezes, algumas lágrimas.

Após a descoberta é como se fosse retirado um véu. Ou como se desembaciasse um espelho. E logo ressurgem os meninos. Passam a ver-se vestindo a velha batina preta, circulando pelo Seminário da Betânia, rezando em latim, caminhando de braços cruzados, nas extensas filas para a capela ou para o refeitório.  Relembram-se os apelidos. Tudo acompanhado de muitos sorrisos e gargalhadas. Histórias, encobertas por muitos anos, vêm à tona. Parecem meninos velhos insultando-se. Somente coisas boas são relembradas. Muitas saudades. Nenhuma mágoa. O Seminário de Sobral só fez bem aos que por lá passaram.

Todos os professores, grandes professores são lembrados. Como era possível que homens tão jovens fossem capazes de tanta sabedoria. Cada um tem uma história a contar de seus professores.

Os mais velhos contam história da convivência com Dom José. Relembram, com graça, até alguns carões ou pitos, como eram chamadas as admoestações. Os feriados inesperados eram concedidos através de duas pancada rápidas na sineta. Dom José fazia aquilo para ver a alegria da meninada correndo para a rouparia para vestir calções e correr para o campo de futebol. A Semana da Pátria, na Meruoca, sempre vem à tona. Eram dias inesquecíveis para todos. Tudo é repassado nos encontros.

E mais: todos se alegram com os êxitos alcançados pelos companheiros. É como se o sucesso de um pertencesse a todos. Afinal de contas, eram nove meses de convivência por ano. Muito mais tempo do que com as próprias famílias. E muitos laços se criaram. Uma irmandade. O reencontros são cheios de alegria.

E aqueles, que se parecem meninos velhos, não passam de velhos meninos que se amam.



(*) Leunam Gomes, betanista, de Guaraciaba do Norte. O texto acima está nas últimas páginas do livro SEMINÁRIO DA BETANIA - AD VITAM – 65 DECLARAÇÕES DE AMOR, de sua autoria com Aguiar Moura.

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