quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Violação de direitos humanos em programas de TV no Ceará

É grande o número de pessoas que ainda acha que a violência através da mídia não impacta tanto e nem influencia o telespectador. A essas, principalmente, e aos leitores do blog sugiro procurar conhecer mais e fazer uma reflexão sobre a publicação “Televisões: violência, criminalidade e insegurança nos programas policiais do Ceará”. O lançamento ocorreu ontem, em Fortaleza, durante o debate Mídia e Direitos Humanos, na Universidade Federal do Ceará.

Trata-se de um projeto do Fórum Cearense de Direitos Humanos (FCDH) executado pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) do Ceará, no nordeste brasileiro. O objetivo é analisar a abordagem de programas policiais televisivos no tocante a direitos humanos, questão de gênero, raça e juventude.
A publicação analisou mais de uma centena de edições dos cinco programas policiais de veiculação local entre 6 de abril e 19 de junho de 2010. Do total, foram estudadas 42 edições na íntegra, dez de cada um dos quatro programas diários (Barra Pesada, Cidade 190, Comando 22 e Rota 22) e, proporcionalmente, duas do programa semanal (Os malas e a lei).

Assessora de comunicação do Cedeca, Aline Baima explica que, durante a análise dos cinco programas policiais locais, dividida em 19 capítulos, percebeu-se muitas abordagens violadoras de direitos humanos. "Parece que não existe presunção de inocência, mas sim presunção de culpa. As pessoas ficam expostas e a abordagem muitas vezes reforça estereótipos e criminaliza segmentos da população”, assinala.

Na construção das matérias, alguns princípios norteadores da prática jornalística, como imparcialidade, foram desrespeitados. "Critérios basilares não foram levados em conta em algumas matérias – direito de resposta a uma pessoa que está sendo acusada; falhas na apuração da informação, inconsistência de dados; falta de respeito com a fonte que está sendo ouvida. São falhas claras que acarretam consequências graves”, enfatiza.

Por outro lado, Aline destaca que as abordagens têm semelhanças, mas também pontos que as diferenciam. "Não é totalmente uniforme, mas se assemelha muito de uma edição para outra. Contudo, a gente percebe diferença entre a fala do repórter e do apresentador, por exemplo, nas vezes em que este se diferencia e traz olhar mais amplo. Porém, em outras ocasiões, o âncora faz abordagem semelhante à da matéria”, pontua.

Apesar de abordagens violadoras, também foram percebidos pontos positivos, que correspondem ao que se espera de uma matéria jornalística eticamente produzida.

A assessora observa ainda que a intenção da pesquisa não era fazer uma crítica aos programas, mas avaliá-los, percebendo que tratamento davam aos temas e que fontes ouviam. "O que está dito tem como base os programas, e nós citamos os trechos para que as pessoas possam perceber. Há um diálogo sobre como foi feito e como poderia ser”, cita.

Nesse sentido, o trabalho se volta para a discussão sobre o papel do jornalismo e como o respeito aos seus critérios pode garantir informação de qualidade, fundamental em uma sociedade democrática.

"A mídia, principalmente a televisão, que é uma concessão pública, tem obrigação de garantir o respeito aos direitos humanos. Inclusive, a Constituição afirma que meios de comunicação precisam fornecer conteúdo de qualidade. Então, a publicação provoca reflexão sobre isso”, afirma.

A análise de conteúdo, cujo texto foi escrito pelo jornalista Raimundo Madeira, em diálogo com membros do FCDH, teve contribuição de quatro jovens de movimentos e organizações sociais. Além disso, a publicação traz entrevistas realizadas com quatro apresentadores de programas policias locais. (Com informações da Adital)

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