Trata-se de um projeto do Fórum Cearense de Direitos Humanos
(FCDH) executado pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) do
Ceará, no nordeste brasileiro. O objetivo é analisar a abordagem de programas
policiais televisivos no tocante a direitos humanos, questão de gênero, raça e
juventude.
A publicação analisou mais de uma centena de edições dos cinco
programas policiais de veiculação local entre 6 de abril e 19 de junho de 2010.
Do total, foram estudadas 42 edições na íntegra, dez de cada um dos quatro
programas diários (Barra Pesada, Cidade 190, Comando 22 e Rota
22) e, proporcionalmente, duas do programa semanal (Os malas e a lei).
Assessora de comunicação do Cedeca, Aline Baima explica que,
durante a análise dos cinco programas policiais locais, dividida em 19
capítulos, percebeu-se muitas abordagens violadoras de direitos humanos.
"Parece que não existe presunção de inocência, mas sim presunção de culpa.
As pessoas ficam expostas e a abordagem muitas vezes reforça estereótipos e
criminaliza segmentos da população”, assinala.
Na construção das matérias, alguns princípios norteadores da
prática jornalística, como imparcialidade, foram desrespeitados.
"Critérios basilares não foram levados em conta em algumas matérias –
direito de resposta a uma pessoa que está sendo acusada; falhas na apuração da
informação, inconsistência de dados; falta de respeito com a fonte que está
sendo ouvida. São falhas claras que acarretam consequências graves”, enfatiza.
Por outro lado, Aline destaca que as abordagens têm semelhanças,
mas também pontos que as diferenciam. "Não é totalmente uniforme, mas se
assemelha muito de uma edição para outra. Contudo, a gente percebe diferença
entre a fala do repórter e do apresentador, por exemplo, nas vezes em que este
se diferencia e traz olhar mais amplo. Porém, em outras ocasiões, o âncora faz
abordagem semelhante à da matéria”, pontua.
Apesar de abordagens violadoras, também foram percebidos pontos
positivos, que correspondem ao que se espera de uma matéria jornalística
eticamente produzida.
A assessora observa ainda que a intenção da pesquisa não era fazer
uma crítica aos programas, mas avaliá-los, percebendo que tratamento davam aos
temas e que fontes ouviam. "O que está dito tem como base os programas, e
nós citamos os trechos para que as pessoas possam perceber. Há um diálogo sobre
como foi feito e como poderia ser”, cita.
Nesse sentido, o trabalho se volta para a discussão sobre o papel
do jornalismo e como o respeito aos seus critérios pode garantir informação de
qualidade, fundamental em uma sociedade democrática.
"A mídia, principalmente a televisão, que é uma concessão
pública, tem obrigação de garantir o respeito aos direitos humanos. Inclusive,
a Constituição afirma que meios de comunicação precisam fornecer conteúdo de
qualidade. Então, a publicação provoca reflexão sobre isso”, afirma.
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