Em artigos produzidos
para 'O Estado', especialistas analisam as perspectivas para o ano
Num
ano que começa com níveis dramáticos de incerteza, o Brasil tem as armas para
fazer a difícil travessia, crescendo acima de 3%, reduzindo um pouco a inflação
e mantendo as contas externas em relativa ordem. Tudo muda, claro, se houver
ruptura catastrófica na zona do euro. Por outro lado, mesmo com trunfos
conjunturais que o colocam numa posição de destaque na economia global
fragilizada, o Brasil não vai superar seus gargalos estruturais, que limitam a
velocidade de crescimento e estão minando a indústria, se não abordar problemas
de fundo, como a má qualidade da educação e a escassez de poupança. Esses são
alguns destaques da série de artigos nas próximas páginas. Para analisar as
perspectivas para 2012, o Estado convidou um time seleto de economistas
brasileiros e internacionais para escrever sobre temas específicos.
Na
seara externa, o que se depreende dos artigos é que há uma tênue melhora nas
expectativas do mundo avançado em 2012, especialmente dos Estados Unidos, em
relação aos cenários catastrofistas de pouco tempo atrás. Não se trata de
expectativas otimistas, mas sim menos pessimistas. Porém, para que esse cenário
menos ameaçador se materialize, é preciso, como escreve Mohamed El-Erian -
principal executivo do Pimco, o maior fundo de investimentos do mundo -, que a
"equipe das autoridades econômicas ocidentais" vença a "corrida
de revezamento" que disputa contra a "equipe da desalavancagem",
referência aos mercados que não param de vender toda a sorte de ativos,
derrubando preços, puxando o custo das dívidas e estrangulando a viabilidade
financeira da zona do euro.
El-Erian
alerta que a reta da chegada é em 2012, e que a equipe da desalavancagem está à
frente. A boa notícia, acrescenta, é que ainda há tempo para a equipe das
autoridades econômicas reagir e vencer. Ele acha, porém, que a zona do euro
terá de se livrar de alguns membros. Barry Eichengreen, professor da
Universidade da Califórnia em Berkeley, e autoridade em sistemas cambiais,
arrisca, em seu artigo, uma aposta na valorização do dólar em 2012. O
desempenho melhor dos Estados Unidos em relação à Europa e a desaceleração dos
emergentes contribuirão para fortalecer a moeda americana.
Apesar
do foco global na situação europeia, que pode ter desfecho calamitoso, alguns
articulistas notaram que, para o Brasil, um fator decisivo em 2012 será a
intensidade da desaceleração chinesa, que pode derrubar o preço das commodities
exportadas pelo País. Em seu artigo sobre a China, Michael Pettis, professor de
Finanças da Universidade de Pequim, e grande especialista no gigante asiático,
alerta que o modelo de crescimento baseado em investimentos maciços vai trombar
com seu limite quando o retorno deficiente de projetos cada vez mais
injustificados tornar insustentável a dívida contraída para financiá-los. A
dúvida, para ele, é se em 2012, ano de transição política na cúpula chinesa, as
autoridades econômicas vão acelerar o ajuste, o que significa desacelerar mais
fortemente a economia, ou adiá-lo.
Em
termos das perspectivas brasileiras, Guido Mantega, ministro da Fazenda, prevê
que o País vai crescer de 4% a 5% em 2012. Ele nota que o crescimento de 2011,
que projeta em 3%, "foi, em parte, programado e planejado para conter
desequilíbrios que surgiriam se fosse mantido o ritmo exuberante de 2010".
O ministro lista os trunfos brasileiros para enfrentar 2012, das reservas
internacionais às medidas de estímulo pela via monetária, tributária e
macroprudencial, além do efeito do aumento do salário mínimo.
Embora
não endossem a meta otimista de crescimento de Mantega para 2012, três
influentes economistas brasileiros traçam cenários moderadamente otimistas para
o Brasil no próximo ano, levando-se em conta a delicadíssima conjuntura
internacional: o consultor Affonso Celso Pastore, o economista-chefe do Itaú, Ilan
Goldfajn, e o diretor do Bradesco, Octavio de Barros. Do ponto de vista
estrutural, alguns problemas brasileiros são abordados e diversos artigos, como
política industrial, problemas da indústria (pelo economista José Roberto
Mendonça de Barros), escassez de poupança e qualidade da educação. O maior
problema do Brasil não é encarar as enormes incertezas de 2012, mas sim o que
vem depois: o desafio de médio e longo prazos de convergir para o padrão
socioeconômico do mundo avançado. (Estadão)

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