Cidade do Vaticano (RV) – Dom João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação
os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida de Apostólica, recebeu
neste sábado o barrete cardinalício das mãos do Papa Bento XVI. Cardeal Braz de
Aviz também recebeu o título cardinalício da Diaconia de Santa Helena de fora
da Porta Prenestina, em Roma.
Nesta entrevista
exclusiva concedida ao nosso colega Silvonei Protz, Cardeal Braz de Aviz fala
sobre o papel de um cardeal, da sua criação e relembra também a infância e a
família.
Rádio Vaticano –
O Senhor já está aqui no Vaticano há mais de um ano, colaborando diretamente
com o Santo Padre. O que muda na sua vida ao receber o barrete cardinalício?
Cardeal João Braz de
Aviz –
Uma das coisas mais bonitas para mim é o relacionamento – que não é de muitas
palavras com o Santo Padre – mas a relação do olhar, da reação que ele tem
quando se encontra conosco e esse ano isso cresceu muito. Eu passei a entender
melhor o olhar do Papa, a “meia” palavra que ele diz, isso para mim foi muito
importante.
O que muda é que
você recebe oficialmente uma missão que, em certo sentido, você já está
exercendo. Mas agora, com essa iniciativa do Santo Padre, da criação de novos
cardeais, a gente sente que é confirmada essa confiança. Nos é dado, em mãos,
um instrumento para o diálogo com os outros irmãos que estão trabalhando em
outras áreas da igreja e qualifica mais o que nos estamos fazendo. Vai
crescendo dentro da gente essa consciência que você tem que estar atento a
missão, que tem uma consequência na igreja, naquilo que você faz. A gente toma
uma consciência maior.
E foi bom que isso
aconteceu um tempo depois de eu chegar a Roma porque antes eu não tinha visão
nenhuma de como se moveria este trabalho dentro da Cúria Romana, dentro das
várias necessidades que vão aparecendo. Agora, depois de um ano, já tenho
alguns pontos de referência e já sabemos também como medir os relacionamentos.
Sempre em função da missão que a gente tem. E uma conversão pessoal também.
RV – Qual era o sonho de Dom João quando era criança?
Cardeal João Braz de
Aviz – Eu sou filho de
açougueiro…meu pai era um homem do campo que trabalhava com esse ramo. Minha
família é numerosa, somos em oito irmãos vivos e outros que faleceram. Sempre
vivemos no limite, às vezes melhor, às vezes pior. Mas uma coisa que eu posso
dizer que é forte na minha família é a Igreja. Meu pai e minha mãe sempre
amaram a Igreja de um modo absoluto. Não tinha outra situação que orientava a
vida deles, outra direção. Meus pais tiveram muitos problemas de entendimento,
momentos em que erraram a administração de casa, nos negócios, mas foram
pessoas que lutaram muito para manifestar Deus e para respeitar nos filhos os
desígnios de Deus.
Isso para mim é uma
coisa extraordinária. Meus pais, ao verem que eu e meu irmão íamos bem no
seminário, eles vibraram, apoiavam mas nunca disseram para nós: vocês têm que
ser padres. E quando nós nos ordenamos, agora nós podemos dizer que era o nosso
maior sonho, que vocês fossem sacerdotes. Então, isso indica maturidade, amor.
Eu sou de uma família assim, a parte religiosa me tocou muito. Não me lembro de
ter algum dia dito: para mim Deus não vale ou a Igreja não presta. Passamos por
dificuldades, mas Deus sempre nos deu a direção. Eu fui aprendendo esse caminho
da disponibilidade. Eu mudei muito de lugar, ganhei diocese, perdi diocese,
perdi seminário, ganhei Cátedra para ensinar, perdi depois de um ano. Minha
vida é um “rebuliço”, mas numa direção só e até hoje é assim e essa firmeza
tenho no coração. Sobre isso, eu não tenho dúvida. (Rádio Vaticano)
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