O desenvolvimento de uma bactéria que contamina o
mosquito Aedes aegypti, aliado à aplicação de vacinas contra a
dengue, podem erradicar a doença no Brasil dentro de cinco a dez anos. A
previsão é do secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas
Barbosa.
Ele participou hoje (24) do anúncio do novo método de controle do mosquito
transmissor, com a utilização da bactéria Wolbachia, durante o 18º
Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, na capital fluminense.
“Nós vamos levar ainda alguns anos [para solucionar
o problema da dengue]. Em um cenário otimista, se tudo der certo, talvez em
cinco anos a gente tenha uma vacina antidengue. O teste da [bactéria] Wolbachiatambém
levará cerca de cinco anos. Quando estas novas tecnologias estiverem
comprovadamente disponíveis, a gente vai ter condições de dar um pulo. E talvez
pensar não só no controle da dengue, mas em uma futura eliminação da doença
como problema de saúde pública. A partir de cinco anos, tendo a vacina e a Wolbachia,
em mais cinco ou dez anos a gente estaria livre da dengue”, disse Barbosa.
Segundo ele, uma vacina testada recentemente se
mostrou efetiva contra três dos quatro subtipos da dengue. “A vacina que estava
mais próxima de ser usada, desenvolvida pela [empresa farmacêutica] Sanofy,
teve divulgado agora resultados que não foram o que todo mundo esperava. A
vacina conseguiu proteger para três dos sorotipos da dengue, mas não protegeu
contra o tipo 2. Com esse resultado, ela fica inviabilizada para uso imediato
na população. Ao mesmo tempo, começam no Brasil os primeiros ensaios clínicos
da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo”, declarou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que
ocorram anualmente de 50 milhões a 100 milhões de casos de dengue no mundo. No
Brasil, em 2010, foram registrados 1 milhão de casos, a um custo para o governo
federal de R$ 800 milhões, segundo Barbosa.
Enquanto as pesquisas com vacinas prosseguem em
laboratórios, o desenvolvimento do método de combate com a bactéria Wolbachia já
está em teste de campo na Austrália e começa a ser testada contra o Aedes
aegypti, no Brasil. Os testes estão programados para 2014, segundo o
cientista Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz, e um dos coordenadores do
Programa Eliminar a Dengue – Desafio Brasil.
“A gente acredita que possa trazer uma grande
esperança na redução do número de casos de dengue aqui no Brasil com essa nova
estratégia. Estamos bastante confiantes nisto. A vantagem desse método é que
ele é natural, pois a bactéria já ocorre na natureza. Além disso, é seguro e
autossustentável, pois no momento em que a bactéria vai para a natureza ela se
espalha e não precisa ficar colocando mais desses mosquitos”, explicou Moreira.
Os estudos relacionando a Wolbachia como
fator de controle da dengue começaram em 2006 na Austrália. O líder das
pesquisas é o professor Scott O´Neill, que esteve presente no anúncio do novo
método, juntamente com Barbosa e Moreira. O trabalho reúne pesquisadores em
cinco países: Austrália, Brasil, China, Indonésia e Vietnã. Eles conseguiram
introduzir a bactéria nos ovos do Aedes aegypti e descobriram
que, ao contaminar o mosquito, a bactéria diminuía pela metade a vida dele, de
30 para 15 dias, além de eliminar os vírus da dengue que o contaminavam.
Na experiência feita na Austrália, em janeiro de
2011, na localidade de Yorkeys Knob, após dez semanas da primeira soltura, 100%
dos mosquitos estavam contaminados com a Wolbachia.
As pesquisas no Brasil começam no próximo ano, com
a contaminação de um grupo de mosquitos em viveiro. Em 2014, eles deverão ser
soltos em alguma cidade do Rio, preferencialmente em local mais isolado, para
que contaminem os demais mosquitos. A expectativa é que isso provoque uma queda
no número de casos de dengue na região. (Ag. Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário