sábado, 22 de setembro de 2012

De Olho na Língua – Antonio da Costa (*)


Ouvir e escutar (Qual a diferença?)
Esses verbos não devem ser empregados como sinônimos. ESCUTAR é prestar atenção, preparar o ouvido para ouvir. OUVIR é perceber pelo sentido do ouvido. Assim, tanto podemos escutar sem ouvir, como ouvir sem ter escutado. Exs.: Flávia ouvia sem escutar as observações psicológicas de sua ama (Camilo, A enjeitada, pág. 217, 2ª edição); Ergue-se trêmula, a moça, escutou, e ouviu o tropear de cavalos (Id.  Doze casamentos felizes, pág. 48, edição 1861.


Ninguém... Não
Antes de verbo na forma negativa não se pode empregar, na língua hodierna, o pronome indefinido “ninguém”. Assim, devemos evitar construções como estas: Ninguém não viu; Ninguém não quis; Ninguém não quer, muito empregadas na linguagem popular. Na forma padrão, culta, devemos substituí-las pelas expressões: Ninguém viu; Ninguém quis; Ninguém quer, excluindo o “não” que não faz falta.
OBS.: No Português antigo e na linguagem popular hodierna, bem como na literária mas “por um requinte de arcaísmo”, costuma aparecer, antes do verbo, a combinação pleonástica – Ninguém não: A ninguém não me descubro (Gil Vicente); Ninguém não foi como eles (G. Dias, Poesias, II, pág. 321).

Negociata suja (Redundância?)
Visível redundância: Há negociata que não seja suja? Um deputado, todavia, da tribuna, disse recentemente que não se envolvia em negociata “suja”. Verdade, deputado? Talvez essa figura impoluta acredite que exista negociata “limpa”.

Salvo as exceções ou salvas as exceções
Podemos dizer corretamente: Salvo as exceções ou salvas as exceções. A primeira forma (com a palavra salvo invariável) é de emprego frequente; a segunda é de uso literário. Exs.:  Salvo uns versos de anfitrião. (Machado de Assis: Relíquias de Casa Velha, pág 164); Salvo dois ou três lugares. (Id. Ib. pág. 160); Salvas as devidas exceções. (Id. Outras Relíquias, pág. 107); Salva a ideia enérgica e generosa que representava (A. Herculano: O Monge de Cister, I, pág. 172); Salvas aquelas quatro regalias. (Id, História de Portugal, III, pág. 66, 2ª edição).

Satisfazer o desejo /Satisfazer ao desejo
Podemos empregar esse verbo como transitivo direto ou transitivo indireto. Exs: Satisfazer o seu desejo ou Satisfazer ao seu desejo. A eufonia (= bom som) e a clareza é que influem na escolha da regência: Não podia decentemente satisfazer os desejos dos meus editores. (A. Herculano, Opúsc. I, pág. 9); Essa autoridade moral não satisfaz aos príncipes. (Rui Barbosa, Queda do Império, I, pág. 368).

Preveni-lhe que...
A expressão correta é: “Preveni-o de que...” com objeto direto de pessoa e indireto de coisa: Preveni-o de que irei vê-lo. (Camilo, Mem. Cárcere, I, pág.81. Quando o objeto indireto é representado por oração integrante, a preposição “de’ pode ficar elíptica (= elítica): Preveni-o que não foi entregue o cabaz de morangos. (Camilo, Sangue, pág. 6).


(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos: (088) 3611-4695 // (088) 9655-1801.

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