Ouvir e escutar (Qual a
diferença?)
Esses verbos não devem ser empregados como sinônimos. ESCUTAR é
prestar atenção, preparar o ouvido para ouvir. OUVIR é perceber pelo sentido do
ouvido. Assim, tanto podemos escutar sem ouvir, como ouvir sem ter escutado.
Exs.: Flávia ouvia sem escutar as observações psicológicas de sua ama (Camilo,
A enjeitada, pág. 217, 2ª edição); Ergue-se trêmula, a moça, escutou, e ouviu o
tropear de cavalos (Id. Doze casamentos
felizes, pág. 48, edição 1861.
Ninguém... Não
Antes de verbo na forma negativa não se pode empregar, na língua
hodierna, o pronome indefinido “ninguém”. Assim, devemos evitar construções
como estas: Ninguém não viu; Ninguém não quis; Ninguém não quer, muito
empregadas na linguagem popular. Na forma padrão, culta, devemos substituí-las
pelas expressões: Ninguém viu; Ninguém quis; Ninguém quer, excluindo o “não”
que não faz falta.
OBS.: No Português antigo e na linguagem popular hodierna, bem como na
literária mas “por um requinte de arcaísmo”, costuma aparecer, antes do verbo,
a combinação pleonástica – Ninguém não: A ninguém não me descubro (Gil
Vicente); Ninguém não foi como eles (G. Dias, Poesias, II, pág. 321).
Negociata suja
(Redundância?)
Visível redundância: Há negociata que não seja suja? Um deputado,
todavia, da tribuna, disse recentemente que não se envolvia em negociata
“suja”. Verdade, deputado? Talvez essa figura impoluta acredite que exista
negociata “limpa”.
Salvo as exceções ou
salvas as exceções
Podemos dizer corretamente: Salvo as exceções ou salvas as exceções. A
primeira forma (com a palavra salvo invariável) é de emprego frequente; a
segunda é de uso literário. Exs.: Salvo
uns versos de anfitrião. (Machado de Assis: Relíquias de Casa Velha, pág 164);
Salvo dois ou três lugares. (Id. Ib. pág. 160); Salvas as devidas exceções.
(Id. Outras Relíquias, pág. 107); Salva a ideia enérgica e generosa que
representava (A. Herculano: O Monge de Cister, I, pág. 172); Salvas aquelas
quatro regalias. (Id, História de Portugal, III, pág. 66, 2ª edição).
Satisfazer o desejo
/Satisfazer ao desejo
Podemos empregar esse verbo como transitivo direto ou transitivo
indireto. Exs: Satisfazer o seu desejo ou Satisfazer ao seu desejo. A eufonia
(= bom som) e a clareza é que influem na escolha da regência: Não podia
decentemente satisfazer os desejos dos meus editores. (A. Herculano, Opúsc. I,
pág. 9); Essa autoridade moral não satisfaz aos príncipes. (Rui Barbosa, Queda
do Império, I, pág. 368).
Preveni-lhe que...
A expressão correta é: “Preveni-o de que...” com objeto direto de
pessoa e indireto de coisa: Preveni-o de que irei vê-lo. (Camilo, Mem. Cárcere,
I, pág.81. Quando o objeto indireto é representado por oração integrante, a
preposição “de’ pode ficar elíptica (= elítica): Preveni-o que não foi entregue
o cabaz de morangos. (Camilo, Sangue, pág. 6).
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