A facilidade de se criar partidos políticos e, com
eles, receber Fundos Partidários, participar de eleições e negociar apoios
demonstra, segundo especialistas no assunto, a fragilidade do sistema eleitoral
brasileiro.
Hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
o sistema político brasileiro convive com 30 partidos políticos, o mais novo
deles é o Partido Ecológico Nacional (PEN), cujo registro foi deferido
pelo tribunal no último mês de junho. Destes, seis sequer têm representantes no
Congresso (no Senado apenas 14 agremiações têm representação).
No entanto, a quantidade de siglas no país sugere
um pluripartidarismo que, segundo o cientista político e professor da
Universidade Federal Fluminense (UFF) Eurico Figueiredo, é falso. De acordo com
Figueiredo, a lei brasileira permite muita facilidade na criação de partidos
políticos, o que “parece ser uma reação à ditadura, que proibiu muitas
legendas”. O professor explica que, dos 30 existentes no país, poucos têm a
chance de chegar ao poder.
“A crítica corajosa é de que esse pluripartidarismo
brasileiro é falso e conduz à corrupção. A licenciosidade é muito grande na
formação de partidos. Por outro lado, isso permite, e leva, à corrupção do
sistema partidário, porque essas siglas são muito mais de conveniência, de
aluguel, do que forças que pretendem representar interesses definidos”,
defendeu Figueiredo
Acusações - Este
pluripartidarismo permite coligações como a que apoia o prefeito Eduardo Paes
(PMDB) na sua campanha pela reeleição, que conta com uma coligação com 19
partidos. Isto faz com que ele tenha o bem mais cobiçado em uma disputa
política atual: o maior tempo de propaganda no rádio e na TV.
Eduardo Paes com o governador do Rio, Sérgio
Cabral, e a presidente da República, Dilma Rousseff, em inauguração do Bairro
Carioca: exemplo de apoio entre partidos.
Segundo denunciou a vereadora Andreia Gouveia
Vieira (PSDB-RJ), em carta enviada aos seus eleitores na quarta-feira (19),
esta ampla aliança teria sido construída com repasses de verba pública que
compraram o apoio de entidades religiosas ligadas a partidos políticos.
O que é ideologia? - Ou seja, a
aliança esbarra não apenas na facilidade de se criar siglas partidárias como
também na proliferação de "igrejas" engajadas na política
eleitoral/partidária. Com isto, cria-se alianças sem qualquer compromisso
programático ou afinidade ideológica. Figueiredo lembra, porém, que a
criação de alianças amplas como esta não constitui nenhuma irregularidade
eleitoral, tampouco é uma exclusividade do prefeito do Rio.
Acontece, inclusive, com o partido de Andreia.
“Isso que ela acusa o governo de Paes no Rio, outros acusam o governo do PSDB
em São Paulo”, diz. Ele insiste: “É lícito as alianças entre forças políticas
distintas. É normal e acontece em qualquer lugar onde há disputa eleitoral
aberta. No Brasil será assim também, pois temos um sistema liberal
democrático”, aponta. “Difícil é dizer o que é ligado ideologicamente hoje. Há
tantos exemplos, como o partido que se diz trabalhista e, às vezes, não tem
nada de trabalhista. Como você vai dizer se ele é esquerda, direta ou centro?”.
Televisão - A análise é corroborada pela professora da
Faculdade de Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e
doutora em Ciência Política, Alessandra Aldê. "O fato de esses partidos
pequenos terem acesso ao horário nobre num total de vários minutos é uma
característica democrática do sistema. No entanto, a facilidade (de organizar novos partidos) traz partidos
"laranjas", que não são agremiações políticas mesmo".
Segundo ela, cientistas políticos que estudam os
partidos têm uma ideia de "partidos válidos", aqueles que realmente
interferem no processo político. Essa corrente de pensamento internacional
atenta para o excesso de siglas em muitos países, como Israel e Itália, e
defende que somente algumas legendas têm ingerência efetiva nas decisões
políticas nacionais. Com isso, alguns partidos se tornam “massa de manobra”.
Apesar disso, a professora explica que essas amplas
coligações são feitas para fortalecer as relações políticas locais. "A
política municipal não se dá só na televisão", argumenta. Com isso, ela
explicita a necessidade, própria do processo político, de se firmar alianças
para obter maioria no Poder Legislativo, no caso do município carioca, a Câmara
dos Vereadores, cuja complexidade para maioria nas votações e decisões é alta.
Os especialistas não traçam analogias, mas é
inegável a semelhança da ampla base de apoio política com as denúncias que
estão sendo julgadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ação penal 470,
entre outras irregularidades, são julgadas a compra de votos de partidos pelo
Partido dos Trabalhadores (PT) para obter aprovação de seus projetos no
Congresso Nacional. No entanto, a rede de corrupção do mensalão, de acordo com
as denúncias, só ocorreu após os partidos terem assumido o poder, conforme
lembro Figueiredo.
Por fim, Aldê afirma que, embora o horário político
na televisão seja gratuito, o custo para a produção de televisão é muito alto.
"É evidente que um tempo de televisão grande favorece qualquer candidato.
Como mandatário, Eduardo Paes tem uma agenda política muito ampla. Se fosse um
candidato estreante, teria mais dificuldade de preencher esses
minutos". (Jornal do Brasil)
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