sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cantinho da Saudade (Por Thiago Alves – thiagoalvesobral@hotmail.com - Do Jornal Correio da Semana – 17.02.13)


Baiá

Quando o assunto em voga é a Coluna da Hora de Sobral, principalmente tratando-se da original, um nome é obrigatoriamente mencionado: o do comerciante Baiá. Durante muitos anos ele ocupou o quadrículo situado no térreo da Praça com seu comércio de comidas e bebidas, tornando-se figura das mais conhecidas na região.

José Maria Mendes Sousa nasceu em Sobral no dia 16 de novembro de 1934. Eram seus pais Manoel Amarildo Sousa e Maria José Mendes Sousa. Ainda criança ganhou o apelido familiar de Baiá, que arrastou por toda a vida.

Desde a juventude já atuava no comércio, tendo trabalhado em vários estabelecimentos na cidade, dentre eles, numa sapataria e, por muitos anos, no Palace Club. Nesse último, ao lado do seu irmão, Itamar Mendes, que era arrendatário do bar daquele importante local de entretenimento da sociedade sobralense.
Amante dos esportes, quando mais novo Baiá chegou a ser juiz de futebol, e era um eterno apaixonado pelo Guarany Sporting Club.

Por volta de 1958 deixou de ser empregado e instalou seu próprio bar no centro da Praça Dr. José Sabóia (Coluna da Hora). Lá passou a oferecer a sua enorme clientela saborosas merendas e aperitivos diversos. Fizeram sucesso o pão cheio, caldo, cachorro-quente, pastel, caldo de cana, além dos tira-gostos variados e exóticos.

Com um tratamento que agradava a todos, indistintamente, e com muito bom humor, Baiá foi testemunha ocular e protagonista de muitas histórias. Quase todas se passaram naquela artéria de Sobral e se perpetuaram, passando a fazer parte do folclore regional. Seu comércio se tornou tão popular na zona norte que se transformou no mais conhecido ponto de encontro de amigos para um simples bate-papo, para a discussão sobre política, religião, futebol, corrida de cavalo, fatos da vida alheia... Tudo isso sempre regado a um bom aperitivo.
José Maria Mendes de Sousa (Baiá) era casado com dona Tereza Ferreira Sousa, com quem teve oito filhos: Assis, Carmita, Manuel, Maria José (Teté), Verônica, José Maria Mendes Sousa Jr. (o famoso “Didi do Rádio”), Kelma e Sávio. Dona Terezinha faleceu em 29 de agosto de 2006, depois lutar anos contra a doença de Alzheimer.

Na década de 1970, na gestão do prefeito José Parente, veio a demolição da praça e a reconstrução de outra no mesmo local. Mas o novo modelo da praça não reservou espaço para o Bar do Baiá para tristeza de muita gente. Daquele local, Baiá se transferiu para o térreo do antigo prédio (na mesma praça) onde a Rádio Educadora começou suas atividades e onde, depois, se instalou a Academia Sobralense de Estudos e Letras. E lá o conhecido comerciante continuou desenvolvendo seu trabalho.

Mas na madrugada de 26 de dezembro de 1989, ainda sob o clima de comemorações natalinas, José Maria Mendes de Sousa (Baiá) faleceu aos 54 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Sem dúvida, naquele dia Baiá entrou definitivamente para a história como a figura que mais se identificava com a história da antiga Praça da Coluna da Hora.

Depois de alguns anos, mesmo sob a direção da esposa e dos filhos, o bar continuou funcionando. Foi, aos poucos, entrando em declínio. E aquele estabelecimento que outra congregara milhares de sobralenses durante anos e anos terminou fechando suas portas de vez.
No dia 04 de julho de 2007, fazendo parte da programação dos 234 anos de Sobral, o Prefeito Leônidas Cristino inaugurou a Praça Dr. José Sabóia, com a nova Coluna da Hora, com modelo muito próximo do original. No local antes ocupado pelo Baiá hoje existe a Banca Coluna da Hora, pertencente ao grupo Max Livros e Revistas (Distribuidora ZeOsmar).

A nova Coluna tem embelezado muito o centro de Sobral, apesar de seu relógio apresentar constantes defeitos. Boas recordações ela tem suscitado naqueles que viveram os bons tempos da velha praça. Mas a saudade bate mais fortemente naqueles que buscavam o bar do Baiá para jogar conversa fora, forrar o bucho ou molhar a goela com “algo” que passarinho não bebe.

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