quinta-feira, 24 de setembro de 2015
OMS: Suicídio já mata mais jovens que o HIV em todo o mundo
"As pessoas simplesmente pensam que é um crime ter pensamentos
suicidas. Não deveria ser assim", diz Lauren Ball, uma mulher de 20 anos
que já tentou se matar várias vezes. Seis, para ser
mais preciso. A mais recente tentativa foi no ano passado. "Sei que
foi muito difícil para minha família", contou Ball ao programa de rádio Newsbeat, da BBC, voltado para o público jovem.
'Gatilhos' - Gabbi Dix
sabia que sua única filha, Izzy, estava sofrendo com a chegada da adolescência,
mas não imaginou que o suicídio rondasse seus pensamentos. "Acho que nunca vou conseguir superar isso",
conta a mãe da adolescente de 14 anos, que em 2012 deu fim à própria vida, numa
cidade costeira do sul da Inglaterra.
Para muitos especialistas, o suicídio juvenil tem contornos epidêmicos.
E, para a Organização Mundial de Saúde, precisa "deixar de ser tabu":
segundo estatísticas do órgão, tirar a própria vida já é a segunda principal
causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade - ainda que,
estatisticamente, pessoas com mais de 70 anos sejam mais propensas a cometer
suicídio.
No Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 a 29 anos é de 6,9 casos
para cada 100 mil habitantes, uma taxa relativamente baixa se comparada aos
países que lideram o ranking - Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, têm
mais de 30 casos. O país é o 12º na lista de países latino-americanos com mais
mortes neste segmento.
"O suicídio é um assunto complexo. Normalmente, não existe uma razão
única que faz alguém decidir se matar. E o suicídio juvenil é ainda menos
estudado e compreendido", diz Ruth Sunderland, diretora do ramo britânico
da ONG Samaritanos, que se especializa na prevenção de suicídios.
De acordo com a OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E
para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. "Para
a faixa etária de 15 a 29 anos, apenas acidentes de trânsito matam mais. E se
você analisar as diferenças de gênero, o suicídio é a causa primária de mortes
para mulheres neste grupo", diz à BBC Alexandra Fleischmann, especialista
da OMS.
Diferenças - O Brasil,
neste ponto, passa pelo fenômeno oposto: índice de suicídios nesta faixa etária
para mulheres é de 2,6 por 100 mil pessoas, mas a taxa salta para de 10,7 entre
a população masculina. Mas, entre 2010 e 2012, o mais recente período de
análise de dados da OMS, o índice feminino cresceu quase 18%.
Em termos globais, uma variação chama atenção: 75% dos suicídios ocorrem
em países de média e baixa renda. E as diferenças socioeconômicas parecem ter
impacto mais forte entre adolescentes.
Análise de gráficos sobre suicídios mostra picos dramáticos entre a
população de 10 a 25 anos em países de baixa renda. Tais "saltos" não
são vistos em sociedades mais afluentes, o que sugere maior risco de suicídio
entre populações mais pobres.
Ainda no segmento juvenil, a OMS diz que mais homens cometem suicídio que
mulheres. "A masculinidade e as expectativas sociais são os principais
motivos para essa diferença", explica Fleischmann.
Mas essa diferença entre os gêneros é menor em países mais pobres, onde
mulheres e jovens adultos estão particularmente vulneráveis.
Em países mais ricos, homens se matam três vezes mais que mulheres, mas
em países de média e baixa renda, a relação cai pela metade. A intensidade
também tem variações regionais.
Para especialistas, suicídios são mais do que fatalidades. Pesquisas
acadêmicas revelam que pelo menos 90% dos adolescentes que se matam têm algum
tipo de problema mental. Eles variam da depressão - a principal causa para
suicídios neste grupo - e passam por ansiedade, violência ou vício em drogas.
O QUE MAIS MAIS JOVENS?
Mas há "gatilhos" que podem ser sutis como
mudanças no ambiente familiar ou escolar, passando por crises de identidade
sexual. Por isso, os especialistas recomendam prestar atenção nos sinais
iniciais. E, não por acaso, a mais recente campanha dos Samaritanos foi
dirigida a estudantes britânicos iniciando o período letivo nas universidades.
Também recomenda-se atenção a questões com o
bullying, incluindo suas manifestações pela internet. Especialistas também
argumentam que o sensacionalismo na mídia pode encorajar imitações. "Neste
caso, um efeito positivo inverso seria encorajar as pessoas a procurar
ajuda", argumenta Sutherland.
Grupos envolvidos com a questão também argumentam
que o suicídio deveria se tornar uma questão de saúde pública. No entanto, apenas
28 países têm estratégias nacionais de prevenção. "A Finlândia, por
exemplo, em uma década viu seus índices caírem 30%", conta Fleischmann. (BBC)
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