segunda-feira, 11 de abril de 2016

'É como ganhar na loteria ao contrário': pais compartilham experiência de ter filhos diagnosticados com doenças raras

As experiências pelas quais passam pais e mães ao ter um filho diagnosticado com uma condição ou doença rara podem parecer bastante semelhantes a princípio. Em muitos casos, as chances de ser portador de uma síndrome ou anomalia é de uma em 5 mil, ou 15 mil e até 50 mil. Mas, ter uma criança que confirma essa (im)probabilidade estatística é muitas vezes um golpe difícil de digerir e pode significar ter uma série de expectativas frustradas.

No entanto, conversar com pais e mães que aceitaram compartilhar com a BBC Brasil um pouco do que viveram e ainda vivem, revela uma miríade mais complexa de sensações e reações, que desafiam o senso comum.

O diagnóstico é de fato um momento impactante, capaz de despertar tristeza, medo, revolta ou uma mistura de todos estes sentimentos. Mas pode gerar um inesperado alívio em quem se pergunta: "O que há de errado com meu filho?".

Esse momento também costuma trazer consigo a perspectiva de uma dura rotina, marcada por internações, exames, tratamentos, cirurgias e mais exames, e de variadas doses de abnegação para amenizar os impactos dessa condição sobre a criança.

Ao mesmo tempo, descortina-se um novo cotidiano em que pequenas conquistas tornam-se grandes vitórias, de momentos corriqueiramente especiais, da descoberta de uma força interior e de uma nova forma de enxergar o mundo. Um processo que pode, inclusive, dar um novo significado à vida.

Ouvir estes depoimentos mostra por fim que tantas nuances fazem destas experiências, a princípio tão parecidas, histórias absolutamente únicas.

"Foi uma gravidez de sonho. Mas meu marido logo percebeu que algo não estava legal com Catarina. Saía muita saliva por seu nariz e, algumas horas após nascer, ela voltou a ficar azulada. A princípio, acharam que era água no pulmão, algo simples, e que ela seria ia entrar e sair rápido da UTI. Ficou um mês.

Foi horrível ouvir que ela havia nascido sem uma parte do esôfago. Pensamos: "Não vai conseguir comer. Vai morrer." A última coisa que você quer ao ter um bebê é submetê-lo a uma cirurgia. Correu tudo bem, mas, após uma semana, a saliva voltou a vazar pela sonda colocada para alimentá-la. Uma infecção muito séria estava evoluindo. Os médicos decidiram operá-la novamente.

No dia, meu marido levou a certidão de nascimento para o caso de ser necessário fazer uma de óbito. Mas Catarina reagiu bem e pudemos levá-la para casa. Foi difícil encontrar informação sobre o que ela tinha e, se achava, era muito técnica. Num diagnóstico de síndrome de Down, por exemplo, é simples achar informações e saber que a criança pode se desenvolver e ter uma vida normal.

Se foi complicado para mim, alguém com boa instrução, que sabe como ir atrás de informação e que estava no melhor hospital do país, imagina como é para alguém mais simples? Ninguém me explicava, por exemplo, se era algo genético. Com esforço, descobri ser uma condição aleatória que ocorre em um a cada 4 mil nascimentos. É como ganhar na loteria ao contrário.

Fizemos as adaptações para um bebê com uma condição especial. Nossa casa virou um mini-hospital. Entramos em contato com outras famílias que passavam pelo mesmo. Aos poucos, deixou de ser um monstro de sete cabeças. Hoje, é um detalhe. Com um ano, ela fez uma cirurgia corretiva. Tem cicatrizes que levará para a vida, mas ficará bem.

Agora, dedico parte do meu tempo a ajudar outras famílias nesta situação e vejo que a condição da minha filha me deu a oportunidade de fazer algo pelos outros. Achei minha causa."


LEIA A MATÉRIA NA ÍNTEGRA CLICANDO ABAIXO:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160405_pais_filhos_doencas_raras_relatos_rb




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