CONFISSÃO CONFUSA
Hilanna Oliveira (*)
Gosto muito dos poemas de Drummond (foto), mas hoje lembrei, em especial, de
uma quadrinha que vou transcrever: “Críticos sisudos viram de saída que a bolsa
de estudos é na escola da vida”. Às vezes quando leio um livro sinto o grande
desejo de ter podido conhecer o escritor, contudo hoje adoraria palavrear com
Drummond, pois ele seria capaz de me explicar, em uma dessas conversas amenas,
o segredo de palavras tão singelas e verdadeiras.
Sabe?! Às vezes fico pensando que não existe bicho mais complicado que o
racional. O ser humano mesmo dotado de grande capacidade “de aprender com a
vida”, e não repetir as mesmas passadas, pelas mesmas veredas que o levam ao
mesmo poço escuro, insiste em transformar a existência num eterno circulo. Como
dizia o grande escritor lusitano José Saramago “quantas vezes para mudar a vida
inteira, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e
hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar,
deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular”.
O homo sapiens tem uma grande capacidade para o autoflagelo e para a
autopiedade, as velhas contradições do existir. O conhecer a si mesmo é quase
uma utopia, o amor para consigo é uma espécie do gênero narcisístico ou o seu
contrário, o patinho feio. O que realmente importa na sociedade na
qual habitamos é o repetir, o repetir e o repetir, nos tornamos verdadeiros
ecos do que nos cerca, de tal forma que nos confundimos com o outro e não mais
nos reconhecemos.
Por que ter medo de revelar nossos sentimentos? Achamos que só assim nos
tornamos fortes ao olhar do outro, enquanto isso vamos sobrevivendo. No
entanto, poderia ser a derrota a verdadeira vitória.
Gostaria de saber colocar em prática as palavras de Drummond, e não ter
que repetir as mesmas cadeiras na escola da vida. Acredito que assim aprenderia
a andar de mãos dadas comigo mesmo e desta forma não teria medo de publicar o
que sinto.
Mas, tem o velho mas, tem que ter. O medo e o hesitar nos tomam grande
parte do tempo e acabamos esquecendo que quando o relógio bate mais um, mais
um, na verdade ele nos diz menos um, menos um. E assim deixamos a vida nos
levar.
(*) Professora da rede pública, do Pafor e do Ifesc; acadêmica de Direito da UVA. Formada em Letras, com Especialização em Língua Portuguesa.
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