
O pontífice
diz que a igreja não deve continuar a fazer julgamentos e “atirar pedras”
contra aqueles que não conseguem viver de acordo com ideais de casamento e vida
familiar do Evangelho, destacou a Associated Press.
No entanto,
o documento rejeita "os projetos de equiparação das uniões entre pessoas
homossexuais com o matrimônio". "Não existe nenhum fundamento para
assimilar ou estabelecer analogias, nem mesmo remotas, entre as uniões
homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família", diz o
texto, segundo relato da France Presse.
"É
inaceitável que as Igrejas sofram pressões nessa matéria e que os organismos
internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de
leis que instituam o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo", afirmou em
outro trecho.
“Desejo,
antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria
orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com
respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação injusta e,
particularmente, toda a forma de agressão e violência”, afirma o Papa no
documento.
O pontífice
tem insistido em defender que a consciência individual deve ser o princípio
orientador para os católicos para negociar as complexidades do casamento, da
vida família e do sexo.
O líder
católico pediu à igreja que "valorize" as "uniões de fato"
e reconheça os "sinais de amor" entre estes casais e que sejam
"acolhidos e acompanhados com paciência e delicadeza", afirmou a
France Presse.
"A
escolha do matrimônio civil ou, em outros casos, da simples convivência,
frequentemente não está motivada pelos preconceitos ou resistências à união
sacramental, e sim por situações culturais ou contingentes. Nestas situações,
poderão ser valorizados aqueles sinais de amor de que, de algum modo, refletem
o amor de Deus".
Ainda no
capítulo sobre o amor no matrimônio, Francisco fala do "erotismo saudável
que, se bem está unido a uma busca do prazer, supõe a admiração e, por isso,
pode humanizar os impulsos".
Divorciados - O Papa Francisco já tinha dado várias declarações que indicavam uma maior
abertura. Em agosto do ano passado, ele já tinha pedido para que os fiéis
divorciados fossem acolhidos e não tratados como excomungados.
No documento "A Alegria do Amor", o Papa
estende a mão aos divorciados que voltam a se casar e convida a igreja a
"fazê-los sentir que são parte da Igreja" e recorda que "não
estão excomungados", segundo a France Presse.
"Estas situações exigem um atento discernimento e
um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude
que faça com que sintam-se discriminados, promovendo sua participação na vida
da comunidade", escreveu o Papa.
O Pe. José Eduardo Oliveira, que é doutor em Teologia
pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz e sacerdote da diocese de Osasco, na
Grande São Paulo, explica, no entanto, que embora o documento fale em acolhida
dos divorciados, não menciona se eles poderão voltar a comungar.
Os casos devem ser analisados a partir de normas já
estabelecidas anteriormente."Não existe uma normativa geral de tipo
canônica aplicável a todos os casos", diz o documento.
“É preciso analisar cada caso e existem algumas
situações em que documentos anteriores, como o Familiaris Consortio [de
novembro de 1981], do do Papa João Paulo II, já prevê alguns casos de
divorciados que voltaram a casar podem voltar à comunhão desde que vivam a
castidade conjugal”, explicou o padre.
Realidades locais - O documento afirma que na Igreja é necessária uma unidade de doutrina e de
praxe, mas isso não impede que subsistam diferentes maneiras de interpretar
alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que derivem dela. "Em
cada país ou região, é preciso buscar soluções mais culturalistas, atentas às
tradições e aos desafios locais", segundo a France Presse.
Revolucionário? - A CNN afirma que o documento tem muitos elementos para agradar liberais e
conservadores, o que faz com que ele tenha um alcance limitado. Para o padre José Eduardo Oliveira o documento não é
revolucionário do ponto de vista doutrinal, mas “do ponto de vista pastoral
pode ser”. “Qualquer análise que queira colocar o documento no jogo de disputa
entre liberais e conservadores, é muito reducionista. Acho que esse documento
tira todo mundo da sua zona de conforto”, afirmou.
Para o padre, o documento representa um avanço. “O Papa
não fica em um discurso teórico, ele analisa os problemas que as famílias
enfrentam no mundo de hoje e mostra a necessidade de acompanhar essas famílias.
Nesse sentido é um avanço”, afirmou o padre.
"Durante muito tempo acreditamos que apenas
insistindo em questões doutrinais, bioéticas e morais (...) sustentaríamos
suficientemente as famílias, consolidaríamos o vínculo dos esposos e
encheríamos o sentido de suas vidas compartilhadas", diz o documento. (G1)
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