sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

LITERATURA CEARENSE: Os decibéis dos imbecis (Prof. Leunam Gomes*)

Está tornando-se moda, infelizmente.  Desde as grandes cidades até as pequeninas vilas e povoados observam-se aqueles carros de som em alto volume perturbando a população.  Os proprietários chegam às portas dos bares, e restaurantes ou pequenas bodegas e, sem pedir permissão, abrem a traseira dos carros e começam a expelir barulho.

Não querem saber se por perto há alguém precisando repousar; se há alguém querendo estudar, se há alguma criancinha precisando dormir...Os proprietários dos carros sentem-se senhores absolutos do ambiente. Mesmo que ali, ao lado, haja uma igreja realizando uma celebração, os donos do mundo não respeitam.  São eles os únicos que devem ser atendidos em suas vontades de aparecer. 

Se alguém ousa pedir para baixar o volume do som é logo ameaçado. “Os incomodados que se retirem”, dizem eles do alto de sua prepotência.

Alguns donos de bares e restaurantes já tomam a louvável iniciativa de escrever à porta que “Não é permitido som de carro”. Por pirraça as vedetes do som estacionam do outro lado da rua e põem seus sons no mais alto volume.

Um restaurante de Fortaleza adota a seguinte postura: simplesmente não atende aos pedidos de quem liga o seu som em alto volume.  Ouvimos a seguinte conversa do garçom de um restaurante que não aceita som de carro:

- O senhor tem o direito de botar o seu som, mas o restaurante reserva-se o direito de não lhe servir enquanto o seu som estiver ligado.

E agora surgem as disputas entre os que são capazes de emitir um som mais alto. Já não mais se conformam com os alto falantes convencionais dos carros e estão andando com caixas extras puxadas por reboques para chamar mais atenção.

Não há a mínima demonstração de respeito às pessoas. Parece até que a falta de educação está generalizando-se. Cortesia e delicadeza são atitudes raras, sobretudo nos jovens. Não mais se cumprimentam as pessoas com “bom dia”, “boa tarde”.  Não mais cedem-se lugares para pessoas mais idosas. Poucos se oferecem para fazer um favor em momentos de atribulação.  As expressões: “por favor”, “com licença”, “desculpe” estão praticamente banidas do vocabulário.  A ideia que se depreende desses comportamentos é a de que ser moderno significa ser grosseiro. Gentileza é coisa ultrapassada.

Esta questão da poluição sonora produzida pelos carros particulares é apenas mais uma demonstração de falta de educação e da falta de noção de bom senso. O barulho é que é importante. Falar alto é que bonito. É sinal de liberdade. Quando um grupo de adolescentes desce uma escada de um prédio, saia de perto. É como se fosse o estouro da boiada. Quem fizer o barulho maior é que ganha. O que?  Quando estão de posse de um som de carro restam-nos dois caminhos: sair de perto ou pedir a Deus paciência.

Pior ainda é a qualidade das músicas expelidas. Parece até que escolhem, de propósito, as piores músicas.  Elas demonstram exatamente o nível dos responsáveis por este tipo de poluição sonora. 

A música sempre foi algo muito importante na vida de cada pessoa. A música enleva a alma. Traz paz, boas recordações. Mas a poluição sonora não é música.  É agressão, é falta de respeito. É demonstração de prepotência e fraqueza.  As pessoas de bom senso não precisam recorrer a tais expedientes para chamar atenção.

Basta fazer uma pesquisa para saber quem está promovendo tal poluição. Geralmente pessoas vazias, infelizes, frustradas que se comprazem em perturbar os outros. Merecem piedade porque são desajustadas.  Tentam fugir da realidade através da ilusão que tal poluição lhes pode provocar.  Por alguns momentos entregam-se a um mundo imaginário como quem foge da realidade através da bebida ou do uso de outros meios alienantes ou alucinógenos. 

Talvez o melhor caminho para tais pessoas seria um consultório psiquiátrico porque, certamente são vítimas de histórias que lhes confundem a alma. 





(*) Leunam Gomes, ex-Pró-Reitor de Extensão da UVA - Universidade Estadual Vale do Acaraú – Autor do livro PROFESSOR COM PRAZER..



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