Entidades da sociedade civil que atuam
pelo fim da violência contra crianças e adolescentes pedem ao governo
brasileiro que se associe ao pacto global lançado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para motivar os países a priorizarem o combate a todas as formas
de violências contra meninos e meninas.
Nessa
quarta-feira (31), representantes da coalizão nacional composta por mais de 40
instituições, redes, fóruns e comitês entregaram a representantes dos
ministérios dos Direitos Humanos e do Desenvolvimento Social uma carta em que
defendem a adesão do Brasil à chamada Parceria Global Pelo Fim da Violência
Contra Crianças e Adolescentes.
Lançada
pela ONU em julho de 2016, a convocatória está em consonância com algumas das
principais metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados
em 2015 para orientar políticas nacionais e a cooperação internacional até
2030. Ainda assim, passado um ano e meio, apenas 13 países aderiram ao
pacto. Na América Latina, apenas o México, informou o advogado do
Instituto Alana, Pedro Hartung, que entregou aos representantes um documento
com exposição de motivos pelos quais o país deve se comprometer
internacionalmente a assegurar os direitos da infância e da juventude.
“Nosso
desejo é que o Brasil se torne um dos países pioneiros nessa iniciativa. E que,
ao se engajar, possa efetivar as políticas públicas nacionais de enfrentamento
à violência contra crianças e adolescentes já existentes”, declarou Hartung,
argumentando que a sociedade brasileira não pode conviver com os “índices
alarmantes” de violência contra meninos e meninas.
Segundo
o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em todo o mundo as
estatísticas quanto ao problema são escassas e imprecisas. Ainda assim, revelam
que muitas crianças e adolescentes de todas as partes vivenciam diversas formas
de violência durante seu desenvolvimento – frequentemente pelas mãos de pessoas
próximas.
Ainda
de acordo com o Unicef, em 2015, em todo o mundo, uma criança
ou adolescente entre 10 e 19 anos morreu a cada sete
minutos, vítima de homicídio, de conflito armado ou violência coletiva. No
Brasil, no mesmo ano, 31.264 jovens entre
15 e 29 anos foram assassinados, segundo dados do Atlas da Violência 2017.
A
violência contra a infância e a adolescência vai além dos atos contra a vida. O
Sistema de Informação Para a Infância e Adolescência (Sipia) do Brasil, por
exemplo, contabiliza milhares de violações ao direito à saúde, à convivência
familiar e comunitária, à educação, cultura e lazer, à profissionalização e
proteção no trabalho, além daquelas desferidas contra a liberdade, o respeito e
a dignidade de crianças e adolescentes.
O
pacto global proposto pela ONU prevê o combate inclusive às agressões físicas
ou psicológicas impostas a pretexto de “disciplinar” meninos e meninas. De
acordo com o Unicef, em 2015, em torno de 250 milhões de crianças eram punidas
com castigos físicos por adultos que alegavam estar educando – prática que
especialistas garantem deixar sequelas prejudiciais ao pleno desenvolvimento
físico e psicológico humano.
“O
enfrentamento dessas questões é urgente. Não dá mais para o país conviver com
essa situação. Por isso, estamos pedindo que o Estado brasileiro construa uma
agenda transversal para que, com esforço interministerial, esse tema se
transforme em agenda prioritária de Estado”, acrescentou Hartung.
Segundo
a secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério
dos Direitos Humanos, Berenice Maria Gianella, o Brasil já tinha intenção de se
integrar à iniciativa antes mesmo de receber o pedido das entidades da
sociedade civil – pedido que, após análise dos ministérios dos Direitos Humanos
e do Desenvolvimento Social e consulta a outras pastas, deverá ser encaminhado
ao Palácio do Planalto.
“O
governo já tinha elaborado uma carta solicitando a adesão do país a essa
parceria. Assim, o pedido feito pelas organizações da sociedade civil corrobora
a vontade do governo brasileiro. Por isso, acredito que só teremos [que
cumprir] os trâmites burocráticos para que o país possa aderir a esse grande
compromisso de enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes”,
disse Berenice Gianella, destacando que a parceria com outros países permitirá
a troca de informações sobre experiências bem-sucedidas.
“O
Brasil é considerado um país bastante avançado em termos de legislação nessa
área, mas acredito que temos muito o que aprender com o que outros países
fazem. Essa coalizão vai reforçar essa pauta no país. E pode dar mais suporte à
execução dos programas já existentes e, talvez, possibilitar a vinda de
recursos do exterior para que possamos implementar as políticas públicas em sua
totalidade”, argumentou a secretária, admitindo a falta de dinheiro para a
execução de projetos. “Ainda temos carência de políticas e de recursos que
cheguem lá na ponta. Nisso a gente ainda depende realmente de um concerto entre
todos os ministérios. Temos dinheiro do Fundo Nacional da Criança, dos fundos
estaduais e municipais, mas acho uma boa iniciativa tentarmos ampliar esses
recursos. Se a Constituição elenca a criança como prioridade absoluta, ela deve
ser prioritária também na questão dos recursos orçamentários e financeiros.”
O
representante do Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), Clemilson
Graciano, considera importante o Estado brasileiro se comprometer
internacionalmente a reforçar o combate à violência contra crianças e
adolescentes. “Os desafios nesse campo são do conhecimento de todos. Queremos
ser parceiros desse processo de efetivação das políticas públicas para que os
direitos sejam garantidos lá na ponta. É importante o Brasil assumir esse
compromisso”, disse Graciano. (Ag. Brasil)
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