sexta-feira, 2 de março de 2018

LITERATURA CEARENSE: Betânia querida (Alarico Antônio Frota Mont‛Alverne *)


Sempre que recordo do Seminário São José, em Sobral —- CE, conhecido como Seminário da Betânia, invade-me um sentimento de saudade, de reconhecimento e de gratidão. Foi lá que passei seis anos de minha formação básica no período de 1954 a 1959, a partir dos meus 10 anos.

Em 1960, eu iniciava o Curso de Filosofia no antigo Seminário da Prainha, em Fortaleza, administrado pelos Padres Lazaristas, transferindo-me, no ano seguinte, para o Seminário Regional do Nordeste, idealizado por Dom Helder Câmara, como nova feição do centenário Seminário de Olinda, adequando-o às necessidades da Igreja daquela época. Completados os estudos filosóficos no final de 1962, quando então, deixava o caminhar preparatório para O Sacerdócio, para ingressar no Curso de Geologia da UFPE, em 1963, vindo a me graduar em dezembro de 1966.

No magnífico prédio da Betânia, em fevereiro de 1954, ingressavam vários membros das Famílias Mont’Alverne e Frota, de Sobral: eu, Alarico Antônio Frota Mont'Alverne, meu irmão Francisco Edward (Vavá), e os primos Francisco Marialva Mont’Alverne Frota, Alarico Mont'Alverne de Paula Pessoa, Antônio Eurípedes Ferreira Gomes, além de jovens de vários municípios, que não tenho condições de nominá-los, nem quantifica-los. Nos anos subsequentes, tornaram-se seminaristas, também, os meus irmãos Raimundo Leopoldo, Fernando José, Francisco José, que faleceu precocemente aos 19 anos, e José Aloísio, além dos primos José Pinto de Albuquerque, Vicente Cristino de Menezes Neto, Francisco de Assis Menezes Carvalho e Jader Parente Filho, assim como muitos neófitos provenientes de quase todas as paróquias da Diocese de Sobral e de outras Dioceses circunvizinhas. 

A partir da recepção da batina, que se processava na mesma noite do dia da entrada ou a abertura do ano letivo, tornavam-nos seminaristas, e ali começava nossa caminhada de formação eclesiástica. É bem verdade que ‛‛muitos são os chamados e poucos os escolhidos" e, por isso, ao longo da caminhada, porém nenhum desses, que seja do meu conhecimento, renegou a temporada que passou no Seminário. Ainda enaltecem tudo o que de bom vivenciaram, em termos de formação ética, moral e intelectual, além de consistente embasamento de conhecimentos acadêmicos e científicos, amealhados durante a temporada ali desfrutada.
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No Seminário foram forjados homens, verdadeiros cidadãos, que se destacaram nos diversos ramos de atividades da vida contemporânea. A seriedade e a responsabilidade com que nossos Diretores e Professores encaravam a formação do homem, como um todo, em seus vários A aspectos e dimensões, conseguiram resultados surpreendentes, a partir da educação integral do indivíduo.

Alguns, a minoria, chegava ao Sacerdócio, enquanto a grande maioria concluiu cursos superiores, nos vários ramos de atividade intelectual e científica, e partiram para atuar como fermento na massa, na busca da construção de um mundo melhor, mais justo e equânime, sem  tantas desigualdades sociais.

Lá aprendemos que o TER não pode, de maneira alguma, sobrepujar o SER, que o material não seja a razão de nossas vidas, e que o outro é nossa imagem e semelhança, merecendo todo o respeito e consideração. Também nos foi dito que o amor, a caridade e a humildade são o tripé e o sustentáculo das boas ações.

0 ‛‛amai-vos uns aos outros", princípio basilar do Cristianismo, é condição "sine qua non" para uma vida em comunidade, em qualquer situação e estágio de nossas existências. Não podemos nos ilhar em nosso egoísmo destruidor e avassalador, que corrói e corrompe a humanidade, aniquilando O homem no que ele tem de mais sagrado e nobre — 0 seu ser interior.

Também aprendemos a servir, como Cristo nos ensinou com seus exemplos de vida e atitudes. O espírito do ‛‛bem servir" deve vivificar todas as atividades dos bons cristãos, na tentativa de unir os homens, apesar das diferenças de cor, raça e nacionalidade. O Amor e a Caridade, coadjuvados pela Humildade, nos levam a servir com desprendimento e desinteresse. Não nos esqueçamos de que o homem que não vive para servir, não serve para viver. Deve-se buscar o aperfeiçoamento progressivo da pessoa humana, tornando-a apta a desempenhar a sua nobre missão de trabalhar pelo bem estar da coletividade.

Tudo isto e muito mais aprendemos com nossos orientadores, detentores de enorme cabedal de conhecimentos acadêmicos e portadores de magnífica performance espiritual, ética e cívica, dentre eles: Dom José Tupinambá de Frota, Dom Manoel Edmilson Cruz, Dom José Bezerra Coutinho, Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho, Pe. Osvaldo Carneiro Chaves, Pe. João Mendes Lira, Pe. José Edson Frota, Pe. Marconi Freire Montezuma, Pe. José Gerardo Ferreira Gomes, Pe. José Linhares Ponte, Pe. Albani Linhares, Pe. Tupinambá Melo, Pe. Luizito Dias Rodrigues e outros que me fogem à memória. A todos eles, pelo legado que nos concederam, o meu respeito e admiração.

Os conhecimentos acadêmicos, científicos e humanistas, repassados por estes preclaros e dedicados mestres, foram responsáveis por nossa formação como homem, como cidadão e a base firme e inabalável para a minha ascensão na vida profissional no mundo hodierno. Todas as conquistas e sucessos que granjeei como profissional e em outras atividades, as mais diversas, não seriam possíveis sem os sólidos ensinamentos recebidos e transmitidos durante a minha permanência no querido Seminário da Betânia, que, em 25 de fevereiro de 2015, completará 90 anos de fundação e relevantes serviços prestados à comunidade. Merecidas congratulações e homenagens por tudo que fizeram em benefício da humanidade, espargindo luz a clarear os caminhos de centenas de jovens aprendizes.

A todos esses arautos de um mundo melhor, a minha imorredoura gratidão e o mais sincero reconhecimento.

Recife,20 de outubro de 2014 


(*) Alarico Antônio Frota Mont‛Alverne, de Sobral estudou na Betânia no período 1954 — 1959 – Este artigo está no livro SEMINÁRIO DA BETÂNIA – AD VITAM -65 Declarações de Amor – de Leunam Gomes e Aguiar Moura, Edições UVA


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