Ambas
corretas. A possibilidade de se pôr o sujeito do infinitivo antes ou depois
desta forma verbal nos permite dizer: “Está na hora de beber a onça água”
(posição rara) e “Está na hora de a onça beber água” (posição mais freqüente), Este
último meio de expressão aproxima dois vocábulos (a preposição “de” e o artigo “a”)
que a tradição do idioma contrai em “da”, surgindo, assim, um terceiro modo de
dizer: “Está na hora da onça beber água”, construção normal, que não tem
repugnado os ouvidos dos que melhor conhecem e escrevem a Língua Portuguesa.
Alguns
gramáticos viram aí, entretanto, um solecismo, pelo fato de se reger de
preposição um sujeito. Na realidade, não se trata de regência preposicional do
sujeito, mas do contato de dois vocábulos que, por hábito e por eufonia,
costumam vir incorporados na pronúncia. A lição dos bons autores nos manda
aceitar ambas as construções: “... de a onça beber água” e “... da onça beber
água”.
Que a construção é possível mostram-nos os seguintes exemplos: “Só
depois do Infante estar proclamado Regedor (AH 2, 44); “Sabia-o, senhor, antes
do caso suceder” (AH 4, 267); Se, por exemplo, me concederem um monopólio do
plantar couve, apesar das couves serem uma espécie de legumes” (RB Apud PP); “Pelo fato do verbo restituir numa das
suas acepções, e entregar, em certos casos terem...” (ER 2, 597); “No caso do
infinitivo trazer complemento direto...”ER 2, 289).
O
problema que, do ponto de vista puramente gramatical, a rigor, termina nessa
dupla possibilidade de emprego: Já não se mostra indiferente do ponto de vista
da necessidade de proferir o sujeito enunciando-o com maior ou menor realce.
Deixa-se o domínio da gramática para se entrar no domínio da estilística, da
expressividade. A combinação da preposição com o sujeito garante o valor
expressivo da preposição e a ênfase posta no sujeito: “É tempo de o povo querer
melhores escolas”, diferente sob o aspecto da expressividade de “É tempo do
povo querer melhores escolas”.
A simples - e contrária à dupla possibilidade
que a tradição literária registra – solução gramatical de rejeitar uma forma
com privilégio de outra empobrece os recursos estilísticos da Língua. Pode evitar
a combinação pondo o infinitivo entre a preposição e o sujeito, como Manuel
Bandeira nesta passagem: “E o prefeito recordou que uma semana antes de ser o
grande romancista hospitalizado” (MB II, 601).
A concordância com “haja vista”
A construção mais natural e
frequente da expressão “haja vista”, com valor de “veja”, é ter invariável o
verbo, qualquer que seja o número do substantivo seguinte: Haja vista os
exemplos disso em Castilho (RB 1, 272). Pode-se construir com o verbo no
singular e substantivo seguinte à expressão precedida das preposições “a” ou
“de”: “Haja vista às tangas” (CBr. 16, 61); “Haja vista dos elos que eles
representam” (CBr apud CR. 1, 624)
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