O mundo todo já conta com 4,02
bilhões de pessoas conectadas à internet, segundo o relatório Digital in
2018, realizado pelos serviços online Hootsuite e We Are Social. Os usuários de celulares, por sua vez, somam 5,1 bilhões (68% da
população global).
Só no
Brasil, pelos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), são 116 milhões de internautas, sendo que 94,5% preferem acessar a rede
pelo smartphone. O país, inclusive, é o terceiro que mais fica online. São, em
média, 9h14 todos os dias.
Não dá
para negar que internet, computador e telefone, entre outros aparatos,
facilitam - e muito - a vida. Rapidez na comunicação, ganho de tempo e de
produtividade e comodidade para realizar as tarefas diárias, tanto as pessoais
quanto as profissionais, são apenas alguns dos benefícios.
Porém, à medida que a tecnologia avança, o ser humano se
torna cada vez mais refém e dependente dela. E não só isso. Também coloca sua
saúde em risco por conta dos excessos. Veja a seguir quais são os principais
problemas, além de dicas para evitar ou, ao menos, minimizar os seus efeitos.
Cabeça - No topo da
lista de doenças causadas pelo uso descontrolado dos equipamentos tecnológicos,
principalmente aqueles com acesso à internet, estão as psicológicas, que
atingem um número cada vez maior de pessoas.
"Os comportamentos repetidos são assimilados pelo
cérebro como algo que traz satisfação. Com isso, é estimulada a liberação de
neurotransmissores como a dopamina, conhecida como o hormônio do prazer",
explica Cristiano Nabuco de Abreu, psicólogo e coordenador do Grupo de
Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de
São Paulo (USP).
O especialista exemplifica que jogar videogame por apenas
oito minutos já faz com que isso aconteça. A interação no mundo virtual também
ativa estes mecanismos cerebrais. "É praticamente a mesma sensação de quem
frequenta cassinos e joga em máquinas caça-níquel", acrescenta.
Aqueles
que têm um desejo constante de checar as redes sociais, os e-mails e os
aplicativos de conversa podem estar com FoMO (Fear of Missing Out, ou
"medo de estar perdendo algo", em tradução livre). Trata-se de uma
síndrome que, de modo geral, pode ser explicada como sensação de não fazer ou
saber de algo enquanto todos os outros fazem ou sabem.
Citada
pela primeira vez no ano 2000, ela gera ansiedade, mau humor, angústia e até
depressão, e acomete tanto crianças quanto adultos. "A pessoa quer sempre
saber o que há de novidade, o que seus amigos e parentes estão fazendo e, no
caso de postar alguma coisa, ver se recebeu 'likes' (curtidas) e
comentários."
A
utilização da tecnologia compulsivamente ainda pode levar a solidão e
isolamento social, mesmo que a comunicação entre pessoas seja facilitada por
ela.
Outro
aspecto importante da utilização excessiva de dispositivos eletrônicos é em
relação ao sono. O que acontece é que, hoje em dia, muita gente leva o celular,
o tablet ou o notebook para a cama. Com isso, o cérebro, ao invés de preparar o
corpo para dormir, se mantém alerta e estimulado. Paralelamente, a luz emitida
pelas telas dos aparelhos inibe a produção de melatonina, o hormônio do sono.
"Temos
de desconectar e desacelerar o pensamento para que as ondas cerebrais fiquem
mais lentas e o sono venha. Quanto mais tarde este processo acontece, menos
horas dormimos. Se isso ocorre de vez em quando tudo bem, mas, no longo prazo,
pode trazer diversos prejuízos à saúde e à vida pessoal e profissional",
afirma Andrea Bacelar, neurologista e presidente da Associação Brasileira do
Sono (ABS).
Segundo a
médica, num primeiro momento os sintomas são sonolência, juízo crítico
dificultado, incapacidade de resolver problemas, reflexos diminuídos,
irritabilidade, mau humor e aumento das chances de acidentes, desde o mais
simples até os mais graves.
Já a
privação constante do sono eleva a probabilidade de infecção e promove baixa da
imunidade, ganho de peso e algumas doenças, como hipertensão arterial. Vale
destacar que, conforma a idade avança, os problemas se agravam: arritmia,
derrame, infarto do miocárdio, demência e neoplasias.
Noites mal
dormidas ainda impactam na atenção, memória e capacidade cognitiva e estão
associadas à depressão e crescimento abaixo do esperado, já que é à noite, por
volta das duas horas da manhã, que se dá o pico de produção do GH (Growth
Hormone, em inglês), o hormônio do crescimento.
Para
evitar isso tudo os especialistas recomendam, entre outras ações, desenvolver
uma relação saudável com a tecnologia, a fim de não se tornar dependente dos
aparatos digitais. Também é aconselhável estipular horários para o uso de celulares,
tablets e videogame, diminuir as atividades, mais ou menos, uma hora antes de
deitar, e dormir e acordar sempre no mesmo horário.
Olhos - No geral, o ser humano pisca os olhos em intervalos de
cinco a dez segundos. No entanto, quando passa muito tempo em frente à
terminais de vídeo, essa ação é diminuída em até dez vezes - deve-se ao fato de
ficarmos muito fixados ou concentrados na atividade que estamos realizando.
"Nosso olho foi feito para piscar. Isso é importante
para lubrificá-lo. Quando não piscamos, sentimos desconforto, pois ocorre
ressecamento, diminuição da acuidade visual, embaçamento, ardor e
vermelhidão", comenta Wallace Chamon, membro do Conselho Brasileiro de
Oftalmologia (CBO).
Além
disso, ultimamente alguns estudos têm sugerido que o exagero no uso de
dispositivos eletrônicos aumenta o risco de miopia. "Existem indícios, mas
ainda sem comprovação", afirma o médico.
Segundo
ele, uma das explicações para isso é que, quando estamos em frente a monitores
e telas, temos de fazer um maior esforço acomodativo para perto, o que pode
induzir ao crescimento do globo ocular, causando o problema de refração.
Há ainda a
questão da falta de exposição a ambientes externos, onde o campo de visão é
mais amplo e os raios solares estimulam a produção de dopamina, substância que
evita que o olho cresça alongado e, assim, distorça o foco de luz que entra no
globo ocular.
Outros
danos na visão que podem ser causados pelo uso contínuo de equipamentos
eletrônicos são ceratite (irritação da córnea) e úlcera.
A fim de
passar longe destas situações, é preciso se lembrar de piscar; deixar os
aparelhos de lado de hora em hora, ficando cerca de 10 minutos afastado deles;
se expor a ambientes abertos de quatro a oito horas por semana; optar por
monitores grandes e ter cuidado com a luminosidade excessiva.
Ouvido - É cada vez
maior o número de pessoas que utilizam fones de ouvido, seja para escutar música,
programas e notícias ou estudar. O problema é que a utilização em excesso traz
sérios danos aos ouvidos.
Ricardo Gurgel Testa, otorrinolaringologista do Hospital
Paulista, de São Paulo, relata que são dois os fatores responsáveis:
intensidade (ou volume) e tempo de exposição. "Até 70 decibeis está tudo
bem; o risco se dá a partir de 80 decibeis. E ficar muitas horas seguidas com o
fone também é bastante prejudicial", afirma.
As consequências disso são dor de cabeça, zumbido e perda
de audição, que pode ser progressiva e irreversível. Para evitá-las, é
fundamental escolher um acessório de qualidade, com certificação dos órgãos
competentes, e utilizá-lo com moderação, sempre respeitando os limites de
volume e tempo.
Só para se
ter uma ideia, a 85 dB, o tempo máximo de exposição diária tolerável é de oito
horas. A 94 dB, duas horas e 15 minutos; a 106 dB, 25 minutos, e, a 115 dB,
apenas sete minutos.
Pele - Não são
apenas o sol e a poluição que prejudicam a pele. A luz artificial - ou luz
visível - emitida pelos equipamentos eletrônicos também fazem bastante mal para
o maior órgão do corpo.
Como
explica a dermatologista Fernanda Junqueira, membro da Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD), da Sociedade Americana de Medicina Estética e especialista
pela Associação Médica Brasileira (AMB), diversos estudos têm confirmado que
elas podem provocar ou piorar manchas escuras (melasmas), em especial no rosto,
no pescoço, no colo e nas mãos, que são as partes mais expostas.
Isso acontece porque a luz azul, parte da luz visível que
possui maior energia, penetra de forma profunda na pele. "Além disso, como
as luzes artificiais estão relacionadas à radiação ultravioleta, acredita-se
que também provoquem a aceleração do envelhecimento. O fato é que elas causam
mutações genéticas na pele, por conta de uma desregulação da sua fisiologia
natural, e têm impacto negativo no DNA das células", diz a médica.
Ela ressalta ainda os efeitos podem ser não percebidos
logo de cara, mas sim com a ação cumulativa, e eles são piores em quem já tem
melasmas, sensibilidade ou faz algum tratamento de pele.
A solução
para manter a pele bonita e saudável nestes casos é uma só: se proteger contra
os danos digitais. "Isso se consegue com o uso de protetor solar com
coberturas química e física, ou seja, com algum tipo de pigmento, e ele deve
ser reaplicado várias vezes durante o dia, e roupas com proteção
ultravioleta", indica Fernanda.
Articulações e musculaturas - O uso
excessivo de computadores, celulares, tablets e videogames também gera uma
série de doenças ortopédicas. Está comprovado, por exemplo, que os movimentos
repetitivos feitos para digitar e jogar causam tendinite e bursite, entre
várias outras lesões ou disfunções articulares.
Segundo
Alexandre Stivanin, ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia (SBOT), elas podem afetar mãos, braços e ombros, e causar dor
intensa, bem como perda de sensibilidade e força.
No caso de
tablets e, especialmente, smartphones, pelo fato de a pessoa ficar muito tempo
com a cabeça abaixada para ler e responder mensagens, postar e ver notificações
nas redes sociais, mais problemas podem surgir.
"Ao
manter essa postura errada por um longo período, alteramos a linha de força do
peso da coluna e mudamos o centro de equilíbrio do pescoço. Isso gera fadiga
muscular, danos aos discos da coluna cervical, formigamento e muita dor",
informa o especialista.
E tem
mais. Quem passa muito tempo sentado em frente ao computador, videogame ou
televisão corre o risco de comprometer o joelho e as costas, tendo como efeitos
dor e limitação dos movimentos.
Contudo,
há meios para lidar com essas situações. "É fundamental manter uma postura
corporal correta enquanto usa qualquer tipo de aparelho eletrônico, o que inclui
se sentar em cadeira ergonômica ou ter algum tipo de apoio para a coluna, os
braços e os pés, alinhar os braços para digitar e manter os equipamentos
afastados e em uma altura que não seja preciso ficar olhando para baixo",
aconselha Stivanin.
Fora isso,
é indispensável fazer pausas constantes durante as atividades e praticar
exercício físico - alongamento, pilates e musculação são ideais para fortalecer
e alongar a musculatura
Sedentarismo.- É inegável
o papel da tecnologia na disseminação de informação, inclusive as que falam de
saúde. Porém, o aumento na quantidade de dados e a facilidade ao acesso têm
provocado obsessão pela saúde perfeita, com o uso de medicamentos, fórmulas,
suplementos e técnicas ditas revolucionárias e eficazes, mas que esbarram na
evidência científica.
Ao mesmo
tempo, a vida sedentária com o uso de equipamentos digitais está ajudando a
elevar o número de casos de obesidade, que tem como consequências mais
drásticas as doenças metabólicas (diabetes, por exemplo), alterações de
colesterol e enfermidades cardiovasculares, como a hipertensão arterial,
infarto do miocárdio e derrame cerebral.
"Um
dos pontos principais é a baixa movimentação física, fator muito sério, pois,
além do ganho de massa corporal, gera perda de massa muscular, o que será muito
grave com o passar dos anos", diz Pablius Braga, médico do Esporte do
Centro de Medicina do Exercício do Esporte do Hospital 9 de Julho, de São
Paulo.
O
profissional adverte que para ter uma vida saudável de verdade é indispensável ter
fontes confiáveis de informação, encontrar tempo para se movimentar na rotina
diária e fazer uma dieta equilibrada. (BBC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário