sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

DE OLHO NA LÍNGUA - Prof. Antônio da Costa (Do Jornal Correio da Semana - Sobral-CE - Sábado - 23.02.19)

Nem todo verbo aceita “de que”
Muitos políticos até deixaram de falar assim. Mas o uso inadequado do “de que” continua vivo em frases como: Disse a todos de que era o melhor candidato; Penso de que chegou a hora de criar nova Previdência (Observe, o caro leitor, que apesar do já inconveniente “de que”, o autor da frase emprega o “criar nova”. Ora, se vai criar é sempre algo novo). Visível redundância.

De que só cabe quando o verbo é seguido naturalmente da preposição “de”: Gosta de que lhe digam a verdade. Se o verbo responde à pergunta “o que”, então não existe “de quê”. Repare: Penso o quê? Penso que (e não, “de que”) chegou a hora de criar uma nova Previdência. Esqueça, por isso, construções como: crê de que, julga de que, insiste de que, afirma de que, etc.

No lugar delas, recorra às formas recomendáveis: Acredito que todos vão reconhecer o seu trabalho; Julgo que é o momento de parar; Ele afirma que nada o abalaria; O prefeito insiste que não tinha dinheiro para concluir as obras. O famigerado “de que” ganhou até um nome técnico: O DEQUEÍSMO.

Tornar a si / Tornar em si
As duas expressões existem: A moça tornou a (ou em) si. Logo depois, quando tornei a (ou em) mim, já era tarde.

Torrar / Tostar
Convém não confundir. Torrar é secar muito, desidratar totalmente: torrar café, torrar pão. Tostar é secar tanto, que chega a queimar superficialmente e escurecer: O fogo alto geralmente tosta o arroz.

Totem / Tóteme
As duas formas existem. A primeira forma, no plural, faz totens. A segunda, naturalmente faz tótemes.

A gente quer sempre
Uma pergunta muito frequente: Posso dizer “a gente vamos”; “a gente fizemos”; “a gente necessitamos?

Embora comuns na linguagem popular, essas formas são condenadas pelo nível formal do idioma.

“A gente”, segundo a norma culta da Língua Portuguesa, exige o verbo na terceira pessoa do singular: A gente vai (e nunca: a gente vamos) esta noite a uma festa de formatura; Não sabiam que a gente queria (e não: queríamos) mudar de casa; A gente procurou (e não: procuramos) não ofender ninguém. Prefira usar a locução apenas na linguagem coloquial. Nos textos mais formais, como relatórios, ofícios, cartas comerciais, redações de vestibular, etc., prefira o pronome “nós”.

Pequenas dicas
I - Para a frente (e nunca: para frente, pois o artigo é obrigatório; II - Cara a cara (não existe crase em expressões formadas por palavras repetidas: cara a cara frente a frente, gota a gota, hora a hora.

Disenteria ou desinteria
Disenteria é a forma correta, e não “desinteria”, palavra inexistente na Língua Portuguesa.

Qual a forma correta: a ser ou a serem?
É facultativa a flexão de infinitivo regido da preposição “a”: Tenho muitos problemas a ser (ou a serem) resolvidos.



(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos: (88) 99762-2542 e (88) 98141-2183.



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