Mas de acordo com a mudança de
paradigmas dos artistas brasileiros, é de constatar que o movimento evoluiu,
digamos, os modernistas foram heterogêneos. A passagem para uma posição
afirmadora promoveria, como promoveu, a exposição de diferenças profundas das
estéticas em pleno palco do Teatro Municipal: na Semana de Arte Moderna.
Mas tudo reside no fato
contraditório que o próprio movimento modernista suscitava. Por fim, os
modernistas souberam combinar dialeticamente agitação negadora com o trabalho
afirmativo, do que resultaram de grandes obras literárias. Por exemplo, quando
o conferencista Graça Aranha advogava para o artista o direito de desfrutar a
mais absoluta liberdade de se expressar, recebendo, em contrapartida, a contestação
de Mario de Andrade, através de um retumbante: Não apoiado! Talvez provocado
pelo vigor de um juiz crítico, ele cria o personagem Macunaíma, hoje, um
patrimônio literário nacional.
Outro exemplo foi o de
estimular o tratamento unitário dos problemas artísticos e literários,
reunindo, ao superar a tradição setorial do agir desconexo e sem ressonância,
desde a música de Heitor Villa-Lobos até escultura de Victor Brecheret,
passando pela poligrafia de Mario de Andrade, a poesia de Manoel Bandeira, o
romance de Oswaldo de Andrade, a crítica de Sergio Miller, o humor do palhaço Piolim,
pelas pinturas de Anita Malfatti, de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcante.
Com essa preocupação artística
e literária, em seguida, transbordaria para numerosos departamentos dos saberes
humanos, influenciando a história de Sergio Buarque de Holanda, o folclore de
Câmara de Cascudo, o jornalismo de Prudente de Morais Neto, a polêmica de Joaquim
Inojosa e a antropologia de Nunes Pereira.
O instante já é propício para
lançarmos a pergunta qual é o vínculo do modernismo com o regionalismo. O
regionalismo, de essência tradicionalista, interessava o manguzá, as palmeiras,
a tapioca, os papagaios e a preta doceira. O tratamento destas variáveis, sem nenhuma
dúvida, esbarava na concepção de um projeto nacional, anunciado por Mario de Andrade,
cuja natureza despida de ambiguidade, era modernista.
Os elementos do regionalismo
tinham um vínculo, em Pernambuco, com a poesia de Ascenso Ferreira. Teremos uma
comprovação maior desta afirmativa traçando um paralelo com a poesia de Jorge
de Lima, o romance de José Américo de Almeida, todos participantes de movimento
modernista, os quais trabalhavam sobre a temática regional.
Outro exemplo, desde a década
de 20, o regionalismo já partilhava por manifestos, congressos e conferencias.
Aqui citarei Gilberto Freire, autor de Casa Grande e Senzala, mas não como
liderança dos chamados romances do “Ciclo-de-Açúcar,” como quiseram alguns.
Gilberto não influenciou sozinho, foi ele também influenciado. Ninguém poderá
negar que se trata de uma gloria viva de Pernambuco. Apenas não foi líder da
revolução modernista no Nordeste.
Com essa polêmica, podemos
citar na posição de vanguarda na história da inteligência Nordestina José
Américo de Almeida, com a Reflexão de uma Cabra, publicado em 1922, contendo na
posição da narrativa novelesca nordestina, uma crítica humorística. A Paraíba e
seus Problemas, publicado em 1923, e que constituiu na palavra de Manoel Corrêa
de Andrade uma das pilastras básicas da formação de uma geografia no Brasil,
juntamente com os Sertões de Euclides da Cunha, o Nordeste Brasileiro, de
Agamenon Magalhães.
Em outro ponto, a Bagaceira,
de José Américo de Almeida, lançada em 1928. Uma crítica da realidade do
massacre humano, pela concentração fundiária e dos elementos interativos das
nossas comunidades rurais de maneira a influenciar na década seguinte: O Quinze
de Raquel de Queiroz, Terra sem Fim, de Jorge Amado, Vidas Secas, de Graciliano
Ramos, Os Corumbas, de Armando Fontes e as novelas de José Lins do Rêgo. Que
ainda se traduz na dedicatória de Guimarães Rosa: “Jose Almeida, abriu para
todos nós o caminho do moderno romance brasileiro”.
Mas, na verdade, quem
introduziu os ideais do modernismo no Nordeste foi Joaquim Inojosa. Numa
conferencia feita em Sorbone, em 1923, Oswaldo Andrade dizia: Joaquim Inojosa
introduziu as novas ideias em Pernambuco, através de vários artigos assinados
na imprensa de Recife e Paraíba. Carlos Drummond de Andrade e Mario Ruiz em Minas
Gerais.
Com isso, o regionalismo
ganhou uma nova roupagem cultural e estética e se expandiu do Nordeste para o Sul,
procurando conhecer áreas canavieiras, as catingas das secas, os cangaços e as
terras do cacau e do fumo, as fronteiras das Serras Gaúchas e outras.
Portanto, o regionalismo marca
o momento central do romance de 30, só que, eventualmente, se manifesta na
poesia, a qual se universaliza e, por isso, retrata os conflitos do homem em
geral, e não do homem brasileiro ou do homem de uma região do Brasil para que
este tomasse conhecimento da problemática social e desse sua contribuição à
causa.
Desde modo, o movimento
modernista foi o fundador de uma literatura inspiradora nos costumes e da
natureza, de repercussão contundente nos caminhos históricos dos nossos meios
regionais, rurais e urbanos, de influenciar, entre outras personagens, como
Nhorinhá, Riobaldo, Diadorim, de Guimarães Rosa, o Sargento Getúlio de Ubaldo Ribeiro.
Finalmente, os modernistas,
sem dúvida, tinham o interesse de mergulhar e resgatar as raízes de um passado
histórico e cultural na construção de um projeto sociológico e político de
afirmação nacional. E nisto acreditamos em muitos seguidores cearenses.

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