sexta-feira, 19 de abril de 2019

Um confidente e a luta libertária (*Eudes de Sousa)

Um confidente tem suscitado, no espirito do brasileiro, inquietações acerca da rica história da Inconfidência Mineira.

Deriva desse fato, portanto, a necessidade de aprofundamento ocorrido no país em 1792, quando a corda em torno do pescoço, freio Maria do desterro, o frade do Convento de Santo Antonio, iniciou o recitativo do Credo, no que era acompanhado, em voz firme, pelo condenado, como se forças sobrenaturais ali o estivessem sustentando. E às 11horas e 20 minutos, de um sábado, Tiradentes foi enforcado.
Foi o que passou à história com o nome de Inconfidência Mineira, como um movimento em busca de um posicionamento ético, político, histórico e social, numa sociedade mal preparada para enfrentar os desafios dos poderosos no período colonial.

Portanto, na luta contra a submissão do pensamento religioso ao poder político, os jesuítas proclamava os princípios libertário, começando defender a igualdade jurídica dos Estados. Por isso, devemos falar sobre a Inconfidência Mineira, a partir do pensamento libertário filosófico.

Segundo, o padre João Mariana, os jesuítas sustentavam que a origem do Estado estava no consentimento dos governos, e que os poderes eram limitados. E o jesuíta francês Roberto Bellamim, mais tarde Cardial que chegou esboçar o que seria uma democracia moderna. Bellamim declarava que o melhor regime seria a Monarquia se a natureza humana não fosse corruptível. Então, o que é necessário se tornava que o poder temporal fosse limitado por meios de órgãos representativos da vontade geral.

Outro jesuíta, Francisco Suarez, professor da Universidade de Coimbra. Caminhando nos rastros dos demais, impugnava o poder absoluto, ele afirmava que o poder pertencia ao povo, que transferia aos governantes, sentido licito.

No Brasil, enquanto colônia. Era proibida a divulgação de obras do pensamento libertário. Mas em Vila Rica, nas Minas Gerais, florescera uma aristocracia intelectual, fruto de enriquecimento de uma sociedade que prosperava. Nesse período, apresentava impressionante produção na arquitetura, na pintura, na música, e acesso na literatura proibida. Por fim, os jovens ricos iam estudar na Europa. Para citar somente alguns: Tomás Antônio Gonzaga, desembargador, um os maiores poetas da língua portuguesa; Claudio Manoel da Costa, um dos homens mais ricos da Capitania. No meio daqueles aristocratas, estava a figura do Tiradentes. Mas lia obras de organizações políticas de grandes pensadores da liberdade.

O Cônego Luís Vieira da Silva, nascido em Canganha do campo, é um dos exemplos que se tem: em sua biblioteca, depois de confiscada pelo juiz da devassa em Minas Gerais, lá estava à obra capital: "O Espirito das Leis", de Montesquieu. Nela, o teórico que descobre nada menos que as leis que determinam o desenvolvimento da História. Na mesma biblioteca, encontra-se a Enciclopédia do filosofo e romancista Dinis Diderot, o autor da "Carta sobre Cegos." Onde, defendia que só se encontra a liberdade política unicamente nos governos moderados. Porém, ela só existe quando não se abusa do poder. Afinal, estas foram às obras que circulavam clandestinamente e adquiridas pelo confidente Tiradentes.

E os outros? Eram mais conspiradores do que revolucionários. Começaram pelo fim: discutiam-se como seria o pavilhão do país independente. No início, pesaram numa bandeira com o lema: aut, Libertas aut. nihil. O lema não agradou, sendo substituído por libertas aequa spiritus, finalmente, decidiram-se pelos versos de Virgilo: "Libertas quase sera tamem".

Por outro lado, não havia consenso quanto à forma de governo; seria republicano. Mas quanto à escravidão, houve divergência: como o número de negro era superior ao do branco, havia um risco de que aqueles apoiarem a coroa para se tornarem livres como recompensa. E propor-se não dar liberdade de mediato aos negros, conservando-se por um tempo, no cativeiro. Ora, o “libertas quae sera tamem,” deixa um sabor de ironia.

É difícil, no instante desta análise histórica interpretar os caminhos da história da Confidência Mineira. Apesar do que muitos difundirem que a Confidência foi iniciada nas ideias políticas através da Maçonaria. Tiradentes já era conhecedor dos caminhos, lidava de maneira mais eficácia com os princípios das obras, de raiz libertária.

O próprio Visconde de Barbacena atestou: “Alferes logo assume os anseios libertários dos confidentes era o principal mentor da projetada sublevação”. Isso na sua sentença e execução, o povo mostrava que a figura do Tiradentes mesmo não sendo socialmente expressiva, por não ter estudado na Europa. Mas, ele foi o líder dessa luta de encontros e desencontros, coragem e fuga, originariamente libertário. Levando-se em conta as obras, que leira e os valores dos seus pensamentos.

Mas se conspiração mineira foi incontestada depois que ela acabou. Se houvesse triunfado, provavelmente não seria ele sem biografia, o chefe do Estado a ser proclamado, pois seus companheiros quando presos maldiziam o que de belo havia em suas biografias, queriam posição social e econômica.

Afinal, a Inconfidência Mineira abortou um estrago histórico. Veja um grande exemplo, na atual Ouro Preto, símbolo de uma luta histórica, Monumento Nacional e Patrimônio da Humanidade, onde repousam em austero mausoléu dos confidentes. Mas Tiradentes não está lá, o Mártir da Inconfidência não teve um funeral cristão. Seus despojos, portanto, não estão lá. Seu túmulo foi à terra do Brasil, que ele, com seu espirito e até com seu sangue e sua carne fertilizou, em glória, a luta libertária! Hoje, é Patrimônio da Policia Militar.





(*) Jornalista, historiador e crítico literário
- atribunadoescritor@gail.com  - (88- 992913811)


Nenhum comentário:

Postar um comentário