sexta-feira, 10 de maio de 2019

LITERATURA CEARENSE: EMÍLIA FREITAS - Vida e obra (Germagna Maria Oliveira Braga *)

A sociedade atual tem se desenvolvido muito em termos científicos e tecnológicos. É uma pena que ela ainda não tenha acordado para o campo da cultura, onde é bem perceptível a pouca valorização que se dá à literatura, até porque ler exige tempo, atenção, abertura a opinião do outro, é se envolver, é dialogar (autor e leitor).

Mesmo com tantas dificuldades e com o mundo muito competitivo, a Literatura tem se mantendo viva, e atuante por meio de homens e mulheres que com muito apreço levam seus leitores a imaginar, a viajar por lugares nunca antes explorados, assim como dividem suas histórias de vida, medos, fantasias, deixando em suas obras um pouco ou muito de si.

Como foi o caso da poetisa, professora e romancista Emília Freitas, uma figura muito ilustre da nossa Literatura Cearense. Emília foi uma mulher extraordinária, que não se acovardou diante dos preconceitos sociais da época, mas se mostrou sempre muito a frente do pensamento de seu tempo.

Esta autora cearense nasceu de uma família tradicional, sendo filha do Tenente Coronel Antônio José de Freitas e de dona Maria de Jesus de Freitas. Numa pequena cidade chamada Jaguaruana na época pertencia ao Município de Aracati – Ceará no dia 11 de janeiro de 1855.

Com o falecimento de seu pai no ano 1869, sua família se muda para Fortaleza, onde Emília já aos 14 anos passa a ter contato com os estudos, cursando disciplinas como: francês, inglês, geografia e aritmética em uma conceituada escola privada. Para só depois frequentar uma escola normal, para meninas, recém inaugurada. Sendo a escola alvo de críticas, pois a visão da sociedade cearense da época não achava correto a mulher se profissionalizar, pois seu papel era cuidar dos filhos e da organização do lar. 

Em 1873, Emília passou a escrever para alguns jornais literários: O cearense, O Lyrio e a Brisa, O libertador”, em Fortaleza. Mas também se estendeu a outros estados com o “Revolução” do Pará e o “Amazonas Commercial” em Manaus, onde publicava muitas de suas poesias, em que alguns anos depois foram reunidas e publicadas em um único volume com o título “Canções do Lar” (1891).

Emilia também participou de um movimento revolucionário, que lutava pelo fim da escravidão, com ideários de liberdade e igualdade para todos, a chamada “Sociedade das Cearenses Libertadoras”. Em plena tribuna solene, Emília falou abertamente quebrando com certos padrões sociais em que a mulher não tinha o direito de se expressar, de mostrar sua voz,  de dar sua opinião.

Sua mãe morre em 1892, Emília junto com o irmão vai para Manaus, e lá passa a se dedicar ao magistério no Instituto Benjamin Constant, e escreve seu primeiro romance.

Em 1899, a autora se consagrou com a publicação do seu livro “A Rainha do Ignoto: romance psicológico”, que traz uma história curiosa com alguns traços ficcionais, e pode-se considerar o primeiro romance fantástico em nosso país.

A obra trata de uma história fantasmagórica, melancólica, e percebe-se a presença do real se misturando com a fantasia, com o sobre natural, no livro há espíritos, navios fantasmas, uma ilha perdida que só pode ser vista pela Rainha e suas palatinas (mulheres recrutadas pela Rainha). A autora se volta mais para temas que revela a posição da mulher no meio social, esta sociedade dominada pelos homens, em que poucas mulheres tinham acesso à escola, a livros e a se expressar livremente. Emília denúncia a situação dessas mulheres do século XIX, vítimas da solidão, da falta de amor e até da violência contra a mulher.

É uma história que também traz em seu enredo características do regionalismo, quando a autora utiliza, no cenário, a paisagem local para narrar as aventuras de uma sociedade secreta de mulheres, como também a presença de expressões da fala típicas da região.  Nota-se que Emilia soube valorizar sua cultura, seu povo e suas tradições.

A “Rainha do Ignoto” (personagem) era uma mulher que encantava com sua beleza e mistério, mas que não aceitava e lutava contra as injustiças da sociedade. E é com este pensamento que se imagina a grande mulher que foi Emília Freitas, mesmo com os desafios da época não se aquietou, mas muito pelo contrário soube ouvir e ser ouvida.

Emília também escreveu o romance “O Renegado”, obra que não se sabe ao certo seu destino atual, provavelmente esquecida em alguma escola (mofando) da qual Emília lecionou.

A escritora se casou o jornalista Arthunio Vieira, que, juntos, voltam a Fortaleza onde fundaram grupo espírita em Maranguape (Ce) e o primeiro jornal espírita do Ceará “Luz e Fé” (1901). E após o falecimento de seu esposo, Emília retorna a Manaus onde morre vítima da febre amarela em 18 de outubro de 1908.

Emília Freitas foi uma cearense muito ousada em se lançar como escritora numa época em que o ambiente literário era exclusivo do homem. Ela soube viver e fez sua história marcada por muitas conquistas. Mas infelizmente, Emília apesar de ter sido revolucionária, escritora do primeiro livro que deu inicio romance fantástico da literatura brasileira e de uma capacidade intelectual brilhante, ela continua esquecida.

Enfim, precisa-se aprender a valoriza o que é nosso. A ver a Literatura como um meio que abre as portas da imaginação, que não é apenas um entretenimento, mas um instrumento que forma intelectualmente cada indivíduo.






Germagna Maria Oliveira Braga, é sobralense de Taperuaba. Cursou Letras na UVA.

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