A sociedade atual tem se desenvolvido muito
em termos científicos e tecnológicos. É uma pena que ela ainda não tenha
acordado para o campo da cultura, onde é bem perceptível a pouca valorização
que se dá à literatura, até porque ler exige tempo, atenção, abertura a opinião
do outro, é se envolver, é dialogar (autor e leitor).
Mesmo com tantas dificuldades e com o mundo
muito competitivo, a Literatura tem se mantendo viva, e atuante por meio de
homens e mulheres que com muito apreço levam seus leitores a imaginar, a viajar
por lugares nunca antes explorados, assim como dividem suas histórias de vida,
medos, fantasias, deixando em suas obras um pouco ou muito de si.
Como foi o caso da poetisa, professora e
romancista Emília Freitas, uma figura muito ilustre da nossa Literatura
Cearense. Emília foi uma mulher extraordinária, que não se acovardou diante dos
preconceitos sociais da época, mas se mostrou sempre muito a frente do
pensamento de seu tempo.
Esta autora cearense nasceu de uma família
tradicional, sendo filha do Tenente Coronel Antônio José de Freitas e de dona
Maria de Jesus de Freitas. Numa pequena cidade chamada Jaguaruana na época
pertencia ao Município de Aracati – Ceará no dia 11 de janeiro de 1855.
Com o falecimento de seu pai no ano 1869, sua
família se muda para Fortaleza, onde Emília já aos 14 anos passa a ter contato
com os estudos, cursando disciplinas como: francês, inglês, geografia e
aritmética em uma conceituada escola privada. Para só depois frequentar uma
escola normal, para meninas, recém inaugurada. Sendo a escola alvo de críticas,
pois a visão da sociedade cearense da época não achava correto a mulher se profissionalizar,
pois seu papel era cuidar dos filhos e da organização do lar.
Em 1873, Emília passou a escrever para alguns
jornais literários: O cearense, O Lyrio e a Brisa, O libertador”, em Fortaleza.
Mas também se estendeu a outros estados com o “Revolução” do Pará e o “Amazonas
Commercial” em Manaus, onde publicava muitas de suas poesias, em que alguns
anos depois foram reunidas e publicadas em um único volume com o título
“Canções do Lar” (1891).
Emilia também participou de um movimento
revolucionário, que lutava pelo fim da escravidão, com ideários de liberdade e
igualdade para todos, a chamada “Sociedade das Cearenses Libertadoras”. Em
plena tribuna solene, Emília falou abertamente quebrando com certos padrões
sociais em que a mulher não tinha o direito de se expressar, de mostrar sua
voz, de dar sua opinião.
Sua mãe morre em 1892, Emília junto com o
irmão vai para Manaus, e lá passa a se dedicar ao magistério no Instituto
Benjamin Constant, e escreve seu primeiro romance.
Em 1899, a autora se consagrou com a
publicação do seu livro “A Rainha do
Ignoto: romance psicológico”, que traz uma história curiosa com alguns
traços ficcionais, e pode-se considerar o primeiro romance fantástico em nosso
país.
A obra trata de uma história fantasmagórica,
melancólica, e percebe-se a presença do real se misturando com a fantasia, com
o sobre natural, no livro há espíritos, navios fantasmas, uma ilha perdida que
só pode ser vista pela Rainha e suas palatinas (mulheres recrutadas pela
Rainha). A autora se volta mais para temas que revela a posição da mulher no
meio social, esta sociedade dominada pelos homens, em que poucas mulheres
tinham acesso à escola, a livros e a se expressar livremente. Emília denúncia a
situação dessas mulheres do século XIX, vítimas da solidão, da falta de amor e
até da violência contra a mulher.
É uma história que também traz em seu enredo
características do regionalismo, quando a autora utiliza, no cenário, a
paisagem local para narrar as aventuras de uma sociedade secreta de mulheres, como
também a presença de expressões da fala típicas da região. Nota-se que Emilia soube valorizar sua
cultura, seu povo e suas tradições.
A “Rainha do Ignoto” (personagem) era uma
mulher que encantava com sua beleza e mistério, mas que não aceitava e lutava
contra as injustiças da sociedade. E é com este pensamento que se imagina a
grande mulher que foi Emília Freitas, mesmo com os desafios da época não se
aquietou, mas muito pelo contrário soube ouvir e ser ouvida.
Emília também escreveu o romance “O Renegado”,
obra que não se sabe ao certo seu destino atual, provavelmente esquecida em
alguma escola (mofando) da qual Emília lecionou.
A escritora se casou o jornalista Arthunio
Vieira, que, juntos, voltam a Fortaleza onde fundaram grupo espírita em Maranguape
(Ce) e o primeiro jornal espírita do Ceará “Luz e Fé” (1901). E após o
falecimento de seu esposo, Emília retorna a Manaus onde morre vítima da febre
amarela em 18 de outubro de 1908.
Emília Freitas foi uma cearense muito ousada
em se lançar como escritora numa época em que o ambiente literário era
exclusivo do homem. Ela soube viver e fez sua história marcada por muitas
conquistas. Mas infelizmente, Emília apesar de ter sido revolucionária,
escritora do primeiro livro que deu inicio romance fantástico da literatura
brasileira e de uma capacidade intelectual brilhante, ela continua esquecida.
Enfim, precisa-se aprender a valoriza o que é
nosso. A ver a Literatura como um meio que abre as portas da imaginação, que
não é apenas um entretenimento, mas um instrumento que forma intelectualmente
cada indivíduo.
Germagna Maria Oliveira Braga, é sobralense de Taperuaba. Cursou Letras na
UVA.
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