
Polímata
inveterado, Da Vinci foi anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico,
poeta, músico, cientista, matemático, engenheiro, inventor... Encarnou como
poucos o ideal do homem renascentista. A crítica de arte Helen Gardner
(1908-1986), que foi professora na Universidade de Oxford, classificou-o como
um homem de profundidade e talentos diversos sem precedentes. "Sua mente e
personalidade nos parecem sobre-humanos."
A BBC News Brasil elencou algumas descobertas e estudos
de Da Vinci, morto aos 67 anos em 2 de maio de 1519, que acabaram influenciando
a humanidade desde então.
1. Funcionamento do cérebro
Leonardo da Vinci foi o primeiro a compreender o
funcionamento do nervo olfativo, identificando-o como um nervo craniano. Em
artigo publicado em abril no periódico The Lancet, o psicólogo, farmacologista
e cientista molecular Jonathan Pevsner, pesquisador do Instituto Kennedy
Krieger, ressaltou a importância dos estudos anatômicos realizados pelo gênio
renascentista, dissecador curioso e autor de requintados desenhos.
Da Vinci
determinou forma e tamanhos gerais dos ventrículos cerebrais, por exemplo.
"O trabalho de Leonardo da Vinci reflete o surgimento da era científica
moderna e constitui uma parte fundamental de sua abordagem integrada à arte e à
ciência", avalia o cientista. "Ele fez perguntas sobre como o cérebro
funciona, tanto na saúde quanto na doença. E procurou compreender as mudanças
do cérebro em quadros como o de epilepsia, ou como o estado mental de uma mãe
grávida pode afetar diretamente o bem-estar físico do bebê."
"Até hoje, muitos de nós lutamos para responder às
mesmas perguntas", reconhece. "Enquanto a ciência e a tecnologia
avançam a um ritmo alucinante, ainda precisamos das qualidades de Da Vinci:
paixão, curiosidade, capacidade de visualizar conhecimento e pensamento
claro."
'Mona Lisa' é uma das obras mais famosas, reproduzidas e misteriosas do mundo,
mas está longe de ser o único legado de Da Vinci
2. Economia de água
Em seus estudos de mecânica dos fluidos, Leonardo da
Vinci foi o primeiro a notar um fenômeno chamado de salto hidráulico. Trata-se
do fato de a água se espalhar - pela pia, por exemplo - antes de tomar a
direção do ralo. Esse comportamento intrigou cientistas e só foi desvendado em
2018, quando pesquisadores da Universidade de Cambridge demonstraram que isso
ocorre por conta da tensão superficial e da viscosidade da água.
A compreensão desse fenômeno, conforme afirmam os
cientistas de Cambridge, pode vir a ter uma aplicabilidade prática: o melhor
aproveitamento da água em serviços de limpeza, representando portanto uma
economia do líquido.
"Saber
como manipular o limite de um salto hidráulico é muito importante. Agora
podemos facilmente estender ou reduzir o limite do fenômeno", afirma o
engenheiro químico Rajesh Bhagat, um dos autores da pesquisa. "Entender
esse processo tem grandes implicações e pode reduzir drasticamente o uso
industrial da água."
3. Máquinas voadoras
Cientistas contemporâneos são unânimes em cravar: se
construída, a engenhoca de Da Vinci jamais voaria. Mas o helicóptero desenhado
pelo italiano é de uma criatividade impressionante para a época e inspirou a
tecnologia contemporânea que permitiu que o homem voasse.
Muito antes de Santos Dumont (1873-1932) e dos irmãos
Wilbur (1867-1912) e Orville Wright (1871-1948), Da Vinci ainda esboçou outros
equipamentos voadores, um paraquedas e dois tipos diferentes de planadores.
Em 2002, o
britânico Robbie Whittall, ex-campeão mundial de paragliding, decidiu testar o
modelo que parecia mais propenso a funcionar. Não deu muito certo: foram
dezenas de tombos e a conclusão de que faltava estabilidade.
Da Vinci esboçou equipamentos voadores, um paraquedas e
dois tipos diferentes de planadores, como este
4. Coração
Professor de cirurgia cardiotorácica da Universidade de
Cambridge, o médico cardiologista Francis C. Wells reconhece os desenhos
anatômicos de Leonardo da Vinci como pioneiros a demonstrarem com grande
precisão a estrutura e o funcionamento do coração humano. Em 2013, ele publicou
o livro 'The Heart Of Leonardo' em que comparou os desenhos de Da Vinci com
imagens de dissecações contemporâneas.
Wells avalia que o uso de diagramas e representações
detalhados do renascentista, com descrições verbais cheias de conceitos
fisiológicos, simboliza o auge dos estudos anatômicos realizados por ele. Para
o professor, algumas das conclusões de Da Vinci foram tão avançadas que, só
hoje em dia, com o advento da tecnologia de diagnósticos, é que é possível
interpretá-las. E, na maior parte das vezes, a análise de Leonardo da Vinci
continua a fazer sentido de acordo com o entendimento moderno de fisiologia e
função cardíaca.
Desenhos anatômicos de Da Vinci eram de grande precisão
5. Energia solar
Da Vinci
foi também um precursor da ideia de utilizar a energia solar para o aquecimento.
Ele projetou um mecanismo em que a luz do sol seria concentrada por meio de
espelhos côncavos de modo a aquecer diretamente um reservatório de água.
Em seus
escritos, manifestou preocupação ambiental. Acreditava que seu invento, se
concretizado, iria diminuir a necessidade de corte de árvores - em um tempo em
que o aquecimento era baseado na lenha. Da Vinci acreditava que seu sistema
poderia ser usado em grande escala.
A ideia de
Leonardo da Vinci é uma das que aparecem no livro 'Let It Shine - The 6,000-year
Story of Solar Energy', escrito pelo pesquisador John Perlin, professor da
Universidade da Califórnia.
6. Leis do atrito
Dois
séculos antes do cientista francês Guillaume Amontons (1663-1705), Leonardo da
Vinci esboçou as leis do atrito. A partir de análises de anotações feitas pelo
renascentista, classificadas anteriormente como "irrelevantes", o
engenheiro Ian Hutchings, professor da Universidade de Cambridge, concluiu que
o italiano estudou o fenômeno físico por pelo menos duas décadas. E compreendeu
seu funcionamento.
De acordo
com Hutchings, em 1493 Da Vinci já havia traçado as linhas gerais do atrito. Em
estudo publicado em 2017, o cientista Prasenjit Das, pesquisador da
Universidade Jawaharlal Nehru, descobriu mais: Da Vinci estava certo sobre os
estudos da dinâmica de matéria seca granular, quando sistematizou como forças
de atrito sólido afetam materiais como areia e grãos de trigo em repouso.
7. A reinvenção da roda
Acredita-se que a roda tenha sido inventada pelo homem há
cerca de 3.500 anos. Mas Leonardo da Vinci a reinventou, de modo que ela tenha
a ampla utilidade contemporânea. Na verdade, ele foi o primeiro a conceber os rolamentos,
a partir da descoberta de que o atrito seria reduzido se as rodas não se
tocassem em uma estrutura. Ele então projetou separadores que garantiam que
pequenas esferas se movessem de forma isolada.
Da Vinci
não viu sua ideia sair do papel. Mas após a Revolução Industrial, os rolamentos
foram incorporados ao dia a dia da humanidade.
8. Robôs
Leonardo
da Vinci concebeu engenhocas movidas a corda que são consideradas precursoras
dos robôs. Uma das mais inventivas era um leão mecânico que dava vários passos
e abria automaticamente o peito, exibindo flores. Os movimentos eram garantidos
por engrenagens e a sequência era dada mediante uma programação analógica.
9. Regras da natureza
O renascentista italiano fez cálculos e estimativas
vislumbrando determinadas proporções da natureza. Com isso, chegou a
"regras" ou padrões de repetição. Em 2013, cientistas da Universidade
do Arizona concluíram que ele tinha razão, após analisarem cinco espécies
diferentes de árvores.
"Se
você imaginar o colapso de todos os galhos mais externos de uma árvore em um
cilindro, tal cilindro seria do tamanho do tronco. De acordo com a regra
formulada por Leonardo da Vinci, a área total de ramos é conservada à medida
que você vai do tronco até os galhos do topo", afirma a pesquisadora Lisa
Bentley, principal autora do estudo.
Veículo bélico desenhado por da Vinci
10. Tecnologia de guerra
Da Vinci era um pacifista e costumava lamentar, em seus
escritos, os horrores da guerra. Mesmo assim ele projetou artefatos e
equipamentos que poderiam ser utilizados para ataque e defesa: de pontes
móveis, armamentos sofisticados até um veículo com uma carapaça gigante, precursor
dos tanques de guerra.
Blindada de madeira e folhas de metal, a geringonça
contaria com torre de observação e poderia ser equipada com 20 canhões. Sua
mobilidade seria garantida por oito tripulantes, incumbido de girar um conjunto
de manivelas.
11. Águas
Algumas
engenhocas projetadas por Da Vinci serviriam para o ser humano vencer o mar.
Uma delas foi o escafandro: o renascentista desenhou vestes de couro para
mergulhadores, com capacete e canos flexíveis que, boiando graças a cortiças,
garantiriam o ar para a respiração. A roupa de mergulho proposta contava até
com uma bolsa para armazenar a urina, em caso de vontade de ir ao banheiro.
O italiano
também chegou a projetar artefatos especiais que, vestidos nos pés, serviriam
para o ser humano caminhar sobre as águas. (BBC)
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