sexta-feira, 19 de julho de 2019

ARTIGOS: Machado de Assis em novas homenagens (Eudes de Sousa*)

O contista, esse animal pensante não para si, senão equivocadamente, em sua estadia neste planeta terra, tem sido, não raro, alvo de muitas contradições, criadas pelo próprio realismo literário que ele cria para seu eu-lírico ou emotivo, como forma de superar as vicissitudes da existência. Ou seja, tem a convicção sobre o precário e provisório de um cotidiano, que tão bem se expressaram grandes escritores, como Machado de Assis.

Como se sabe é difícil de se falar de grandes contistas. É quando as palavras agarram a realidade dos sentimentos e percepções e tentam, a toda prova, representar e exprimir o que há nos conditos do espírito e nas profundezas do coração.

Terrível prova para quem escreve, esse momento de gestação! Tentar encarnar no seio das letras os valores que uma pessoa, como um grande escritor, representou em sua caminhada na terra é desafio extremo, cuja vitória consiste na citação do limite.

A tarefa é mais árdua ainda quando se trata homenagear alguém que atingiu os paramos da literatura e ascendeu os degraus elevados da via literária. A proximidade e humildade, talvez sejam a única via para descrever Machado de Assis, dentro do que ele apresentou na vida, na alma e no destino do conhecimento literário.

A sua literatura, portanto, é uma literatura que abre caminho para a realização ontológica no sentido de que o novo escritor estabeleça o seu encontro com a vida literária. A própria história da literatura tem-nos oferecido vários exemplos convincentes disso. Nenhum estudo de literatura brasileira estaria completo sem os contos:  Missa do galo, Adão e Eva, O Espelho, Igreja do Diabo, A Cartomante, Teoria do Medalhão. A multidão de seus leitores, espalhados por todo país, abona esse prestígio machadiano.

Isso reforça aos seus leitores e contistas cearenses, de lhe prestar uma nova homenagem como um grande escritor das letras brasileiras e universais, pelo conjunto de suas obras tão vasto, como um grande escritor. Machado de Assis é autor de grandes romances, novelas, poesias, crônicas, ensaios, discursos, memórias e contos. Consciente de sua técnica.

Sem dúvida, trata-se de uma homenagem que tem como objetivo de homenageá-lo pela passagem dos 180 anos do seu nascimento. Mas sobretudo como contista. É este o ponto alto da nossa homenagem, digamos, com sua estruturação narrativa, que influenciou outros contistas, que honram as letras cearenses.

Desta forma citamos o grande contista cearense Moreira Campos, com suas tramas psicológicas, em seu livro, “Dizem que os cães Veem Coisas” que conquistou outros países. Tolstoi aconselha pintar sua província para ser universal. Moreira Campos traz consigo a província nativa, o Ceará, para dentro dela colocar o universo.  

A sua obra dá efetivamente continuidade à tradição cearense de terra de contistas, os belos contos, atestam que eles não pertencem aos domínios do passado, mas permanecem vivos e fecundos. Os novos contistas sustentam nos nossos dias, a responsabilidade manter presente, na literatura da terra e nacional.

Assim, o conto tem seu lugar sagrado, que se faz necessário, para homenagear Machado de Assis, citamos entre muitos, dois novos nomes, Raymundo Silveira e Davi Helder. As suas obras demostram a capacidade de seus fôlegos e imaginações, que garantem um realismo literário muito grande no manuseio das regiões dos acontecimentos mais profundos.

No caso, de Davi Helder, o narrador é o próprio personagem. Construir, pois, uma personagem parecida consigo mesmo é uma tendência natural. O contista, porém, é criador, não mero reprodutor de sua experiencia particular. O grau de ficção pode variar, que inaugura com “Histórias de Levi e outras”, em 2018, contos que transmitem uma carga de sentimento pessoal.

Pois bem, o autor se propõe a narrar em terceira pessoa a vida dele própria. Esses casos são realmente raros. Sendo a narrativa em terceira pessoa, tendo a personagem de contar sua vida, mesmo nos domínios da ficção, o conto tem um caráter autobiográfico, com relação ao autor, que pertence dentro da esfera do conto, mas com relação ao narrador assumindo um tom confessional. É interessante observar-lhe o cuidado meticuloso em situar a narrativa nos espaços físicos e humanos, dizendo os nomes de ruas, de lugares e outros ambientes.

Enquanto, Raymundo Silveira, o seu livro de contos, “Lagartas-de-vidro,” premiado em concurso nacional é, por natureza, o que costuma tratar a crítica acadêmica por realismo com um eco fantástico.

Dando sequência à Reflexão de seus textos. Seus contos não é, pois, desvinculado do seu meio, antes pelo contrário, encontra-se ligado a ele. Sabe dar ao Brasil, sem sair da sua terra.  E não faz menos com relação ao ambiente humano, sobretudo no tempo. Sempre em seus textos a reação pessoal diante da vida e do mundo.  Raymundo Silveira transfigura anseios e angustias, com um dimensionamento artístico. As suas tramas é, pois, um caminho para melhor apreender os acontecimentos humano, com limpidez e primazia, sem perder a realidade. As causas dessas raridades têm encontrado várias explicações, como a de Allan Poe, chama de “conto de acontecimentos.”

Portanto, são escritores, que podemos dizer, que nos dar a certeza que a crítica oficial reconhecerá o porte desses novos contistas. Como afirmava Rachel de Queiroz “sempre é perigoso predizer o futuro de um autor pela sua estreia; nunca se sabe ele tem dentro de si apenas aquela história para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é um início de uma obra importante e sempre em ascensão.” De qualquer maneira, são contistas que merecem um lugar na literatura nacional.

Assim, em termos de contos, os escritores cearenses que se propõe o tal gênero, terá que traçar voo altíssimo, uma vez que a base primeira é tradição da terra. Enfim, interessa-nos aqui marca esse ponto em homenagear o grande escritor carioca Machado de Assis, com a citação desses três contistas, já vimos acima. Sem a pretensão comparativa. Queremos então ressaltar a importância das diferenças. Cada um em seu caminho. É aí que os autores revelam suas condições de cearenses e nos leva fazer essa homenagem, em harmonia com a influência machadiana e a tradição literária cearense. E, assim, possamos aludir ao “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar: Que o conto esteja na cidade, assim como a cidade de Sobral está com Machado de Assis.







(*) Jornalista, Historiador e Crítico Literário

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