O contista, esse animal pensante não para si, senão
equivocadamente, em sua estadia neste planeta terra, tem sido, não raro, alvo
de muitas contradições, criadas pelo próprio realismo literário que ele cria
para seu eu-lírico ou emotivo, como forma de superar as vicissitudes da
existência. Ou seja, tem a convicção sobre o precário e provisório de um
cotidiano, que tão bem se expressaram grandes escritores, como Machado de Assis.
Como se sabe é difícil de se falar de grandes contistas.
É quando as palavras agarram a realidade dos sentimentos e percepções e tentam,
a toda prova, representar e exprimir o que há nos conditos do espírito e nas
profundezas do coração.
Terrível prova para quem escreve, esse momento de
gestação! Tentar encarnar no seio das letras os valores que uma pessoa, como um
grande escritor, representou em sua caminhada na terra é desafio extremo, cuja
vitória consiste na citação do limite.
A tarefa é mais árdua ainda quando se trata homenagear
alguém que atingiu os paramos da literatura e ascendeu os degraus elevados da
via literária. A proximidade e humildade, talvez sejam a única via para
descrever Machado de Assis, dentro do que ele apresentou na vida, na alma e no
destino do conhecimento literário.
A sua literatura,
portanto, é uma literatura que abre caminho para a realização ontológica no
sentido de que o novo escritor estabeleça o seu encontro com a vida literária.
A própria história da literatura tem-nos oferecido vários exemplos convincentes
disso. Nenhum estudo de literatura brasileira estaria completo sem os contos: Missa do galo, Adão e Eva, O Espelho, Igreja
do Diabo, A Cartomante, Teoria do Medalhão. A multidão de seus leitores,
espalhados por todo país, abona esse prestígio machadiano.
Isso reforça aos seus leitores e contistas cearenses, de
lhe prestar uma nova homenagem como um grande escritor das letras brasileiras e
universais, pelo conjunto de suas obras tão vasto, como um grande escritor.
Machado de Assis é autor de grandes romances, novelas, poesias, crônicas,
ensaios, discursos, memórias e contos. Consciente de sua técnica.
Sem dúvida, trata-se de uma homenagem que tem como
objetivo de homenageá-lo pela passagem dos 180 anos do seu nascimento. Mas
sobretudo como contista. É este o ponto alto da nossa homenagem, digamos, com sua
estruturação narrativa, que influenciou outros contistas, que honram as letras cearenses.
Desta forma citamos o grande contista cearense Moreira Campos,
com suas tramas psicológicas, em seu livro, “Dizem que os cães Veem Coisas” que
conquistou outros países. Tolstoi aconselha pintar sua província para ser
universal. Moreira Campos traz consigo a província nativa, o Ceará, para dentro
dela colocar o universo.
A sua obra dá efetivamente continuidade à tradição
cearense de terra de contistas, os belos contos, atestam que eles não pertencem
aos domínios do passado, mas permanecem vivos e fecundos. Os novos contistas
sustentam nos nossos dias, a responsabilidade manter presente, na literatura da
terra e nacional.
Assim, o conto tem
seu lugar sagrado, que se faz necessário, para homenagear Machado de Assis,
citamos entre muitos, dois novos nomes, Raymundo Silveira e Davi Helder. As
suas obras demostram a capacidade de seus fôlegos e imaginações, que garantem
um realismo literário muito grande no manuseio das regiões dos acontecimentos
mais profundos.
No caso, de Davi Helder, o narrador é o próprio
personagem. Construir, pois, uma personagem parecida consigo mesmo é uma tendência
natural. O contista, porém, é criador, não mero reprodutor de sua experiencia
particular. O grau de ficção pode variar, que inaugura com “Histórias de Levi e
outras”, em 2018, contos que transmitem uma carga de sentimento pessoal.
Pois bem, o autor se propõe a narrar em terceira pessoa a
vida dele própria. Esses casos são realmente raros. Sendo a narrativa em terceira
pessoa, tendo a personagem de contar sua vida, mesmo nos domínios da ficção, o conto
tem um caráter autobiográfico, com relação ao autor, que pertence dentro da
esfera do conto, mas com relação ao narrador assumindo um tom confessional. É
interessante observar-lhe o cuidado meticuloso em situar a narrativa nos espaços
físicos e humanos, dizendo os nomes de ruas, de lugares e outros ambientes.
Enquanto, Raymundo Silveira, o seu livro de contos, “Lagartas-de-vidro,”
premiado em concurso nacional é, por natureza, o que costuma tratar a crítica
acadêmica por realismo com um eco fantástico.
Dando sequência à Reflexão de seus textos. Seus contos
não é, pois, desvinculado do seu meio, antes pelo contrário, encontra-se ligado
a ele. Sabe dar ao Brasil, sem sair da sua terra. E não faz menos com relação ao ambiente
humano, sobretudo no tempo. Sempre em seus textos a reação pessoal diante da
vida e do mundo. Raymundo Silveira
transfigura anseios e angustias, com um dimensionamento artístico. As suas
tramas é, pois, um caminho para melhor apreender os acontecimentos humano, com
limpidez e primazia, sem perder a realidade. As causas dessas raridades têm
encontrado várias explicações, como a de Allan Poe, chama de “conto de acontecimentos.”
Portanto, são escritores, que podemos dizer, que nos dar
a certeza que a crítica oficial reconhecerá o porte desses novos contistas.
Como afirmava Rachel de Queiroz “sempre é perigoso predizer o futuro de um autor
pela sua estreia; nunca se sabe ele tem dentro de si apenas aquela história
para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é um início de uma obra
importante e sempre em ascensão.” De qualquer maneira, são contistas que
merecem um lugar na literatura nacional.
Assim, em termos de contos, os escritores cearenses que
se propõe o tal gênero, terá que traçar voo altíssimo, uma vez que a base
primeira é tradição da terra. Enfim, interessa-nos aqui marca esse ponto em
homenagear o grande escritor carioca Machado de Assis, com a citação desses três
contistas, já vimos acima. Sem a pretensão comparativa. Queremos então ressaltar
a importância das diferenças. Cada um em seu caminho. É aí que os autores
revelam suas condições de cearenses e nos leva fazer essa homenagem, em
harmonia com a influência machadiana e a tradição literária cearense. E, assim,
possamos aludir ao “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar: Que o conto esteja na
cidade, assim como a cidade de Sobral está com Machado de Assis.
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