“Magnificat
anima mea Domino et salutaris spiritus meus, in Deo salvatore meo”!
Era oito de fevereiro de 1955, quando fui roubado do convívio de minha mãe (não tinha mais pai) e levado para
o Seminário de Sobral, como era conhecido o Casarão da Betânia.
Graças à ajuda do vigário de Santa Quitéria, Pe. Luiz Ximenes e da OVS
(Obra das Vocações Sacerdotais), consegui iniciar minha estada no Seminário,
onde permaneci até oito de dezembro de 1959. Para minha mãe, uma realização,
pois via materializada sua vontade de ter um filho padre, ou, pelo menos,
tentar, o que naquela época constituía um privilégio, graças à educação e
formação religiosa que o Seminário nos proporcionava. Para mim, pelo menos nos
primeiros dias, foi um verdadeiro confinamento, pois, no meio de uma comunidade
estranha, quando apertava a saudade dos meus amigos de infância, dos banhos no
rio Jacurutu (que margeia minha cidade de Santa Quitéria), das brincadeiras que
são comuns à garotada daquela idade, sinceramente, quase não suporto.
O tempo foi passando, firmei novas amizades e, aos poucos, fui vislumbrando
que naquele ambiente eu tinha alguns pais que, às vezes, faziam função também
de mães, nossos estimados dirigentes, como Pe. Austregésilo, reitor, Pe. Zé
Linhares, meu professor de civilidade, Pe. Luizito, o vaidoso e competente
professor de física ou química, (nem me lembro, porque nunca aprendi nenhuma),
Pe. Edmilson Cruz, nosso diretor espiritual, Pe. Lira, o magrinho amigo de
todos e Pe. Tupinambá, aquele com quem a gente gostava mais de se confessar,
pois os pitos eram leves e a
penitência, quase nada.
As lembranças são as melhores possíveis, mas de uma coisa não me esqueci,
nos dias de futebol no campo da Betânia, eu não era escalado para jogar em
posição nenhuma, pois diziam que eu tinha as pernas duras demais e não produzia
no campo.
Que pena, mas era verdade! O campo de futebol era rodeado de
carnaubeiras e, enquanto a turma jogava a pelada, eu me divertia derrubando carnaúba
para comer.
Como lembranças, ainda, guardo os carões
ou pitos de nosso saudoso Dom José
Tupinambá, quando toda semana ia um seminarista ajudar a missa no Palácio do
Bispo (coitado do seminarista, como a gente sofria!). Dom José até que gostava
de mim, uma vez eu estava lendo um livro “ Luzia Homem”, para ele ouvir,
naquela cadeira de balanço em que ele ficava só observando os defeitos de
leitura da gente, ele me disse que até que gostava dos “ Timbós”, pois tinham
sangue azul nas veias, mas os “Catundas” eram cachaceiros de primeira.
Faziam parte da minha turma: Antônio Martins (o careca), Leunam, Luiz, Américo,
Albecí, Zé Pinto, Luiz Francisco (o belo) Luciano (o Rosita), Raimundinho (meu
primo que faleceu em pleno curso), Gustavo (Tavim) e o Marcelo, o sério e
intelectual de Sobral.
“ Oh tempora, oh mores! “, a
gente era feliz e não sabia!
O Seminário, para mim, foi o maior celeiro de formação moral, social e
cristã. Tudo, ou quase tudo, que aprendi de bom na minha vida devo à Betânia
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