Como ocorre quase
“religiosamente”, às vésperas do Carnaval, integrantes de algumas Escolas de
Samba de Sobral voltam àquela ladainha de todo ano. E a tônica é a insatisfação
com os incentivos, considerados insuficientes, as exigências da administração municipal
e a liberação tardia dos valores. Alguns chegam a afirmar que esse atraso tem
prejudicado sensivelmente os preparativos das agremiações. Garantem, até, que
só veem a cor do dinheiro muito próximo da hora de entrar na avenida.
Nesse enfoque, é importante mencionar que, com certa antecedência, que não é a ideal, a fim de organizar e democratizar a ajuda, a Secretaria Municipal da Cultura, Juventude, lança um Edital de Credenciamento, que exige das Escolas de Samba a elaboração de projeto. O edital também discrimina os pré-requisitos, os valores a serem repassados e outras condições. Ao meu ver, deveria ser emitido com mais antecedência.
Agora, a pergunta a
ser sempre questionada é a seguinte: Os possíveis beneficiados estarão
respondendo em tempo hábil e de forma completa às exigências contidas no
Edital? Se sim, a razão da insatisfação está com eles. Se não, que
continuem reivindicando melhor tratamento do Paço Municipal.
Mas há outras
perguntinhas que não devem ser deixadas de lado. Acredito que elas deveriam ser
constantes entre os que dirigem, integram as Escolas ou apenas apreciam o
carnaval de rua local. Se cada um fizer essas indagações a si mesmo (a)
acredito que poderá ser encontrada a saída para essa eterna e humilhante
dependência da Prefeitura.
Perguntem-se, por
exemplo: Estamos fazendo algo para adquirir e guardar
fundos para o Carnaval? O que impede de isso ser feito através de promoções
(festas, bingos, apresentações da Bateria e outras movimentações) no decorrer
do ano? Por que não pleitear junto à Prefeitura terreno para realizar essas e
outras atividades? Por que tentar mais parcerias com empresas locais, ou não, e
com possíveis homenageados pela escola? E, por último: como se explica
carnavalescos do passado, oriundos da classe pobre, sem recursos e praticamente
sem ajuda, produziam os belíssimos carnavais da Princesa do Norte?
Sabe-se que ficaram na
história carnavais inesquecíveis, assim como quem os produzia e os foliões
inesquecíveis. Eles tanto brilharam na avenida como nos bailes de salão. De
igual forma, deram muito de si para melhorar e alegrar ainda mais o período
momino neste município. E, para estimular os que fazem a festa na atualidade,
sugiro como espelho apenas um deles: o inesquecível MANOEL MARINHO
PEREIRA (foto). Para os que viveram aqueles carnavais de rua
criativos, sadios e alegres, o final de 1989 foi de muita tristeza e marcado
pela grande perda do velho magro mago.
Os foliões da época ou
mesmo aqueles que apenas assistiam aos desfiles de rua têm sobejada razão para
sustentar que Sobral já foi terra de grandes carnavais. Aquele ano (1989)
dividiu a história dos carnavais locais em antes e depois de Marinho. E ela não
será contada de maneira completa, e fazendo justiça aos que dela fizeram parte,
se não for destaque principal este carnavalesco inveterado.
Nascido na Rua Menino
Deus, em Sobral, no dia 18 de julho de 1911, Marinho Pereira era filho de
Francisco Pereira e Maria dos Reis Pereira. Oriundo de família humilde, logo
cedo ingressou na profissão de carpinteiro.
Eterno amante do
carnaval, Marinho Pereira usava seu ofício para dar expansão à sua fértil
imaginação. Assim, todo ano reservava grande parte do seu tempo para tornar
reais suas ideias originalíssimas, diferentes e avançadas para seu tempo.
Mesmo não dispondo de
recursos suficientes, nem da necessária ajuda financeira, naquele tempo Marinho
Pereira conseguiu, em menor escala, é claro, mostrar para a população local o
que ela hoje vê no Rio de Janeiro, através da televisão. Graças à sua notória
criatividade, ficaram famosas as alegorias que produziu para blocos, como
girafas, vacas, símbolos diversos e o famoso “Gavião”.
Esse mesmo trabalho
Marinho Pereira deu continuidade nas escolas de samba de Sobral, das quais
também participou. Além dessas interessantes alegorias que davam brilho ao
carnaval local, o velho folião muitas vezes também levou para avenida várias de
suas fantasias pessoais. Destacavam-se, dentre elas, o "homem de grandes
tranças", que chamava muito a atenção dos espectadores.
Apesar da pobreza com
que levou a vida inteira, Marinho Pereira sentia-se realizado. Segundo ele,
conseguiu concretizar seu grande sonho, que era brincar intensamente o carnaval
e usar toda sua inteligência para oferecer anualmente um novo espetáculo para
sua terra. O mago magro das alegorias não queria era ser velho. Ainda que
tivesse de superar o peso da idade, sua satisfação era mesmo estar com os
foliões nos carnavais.
Marinho Pereira era
casado com dona Maria Idê, com quem teve a filha Maria Luzia Pereira. Ainda em
vida recebeu algumas homenagens como um lindo troféu doado pelo então prefeito
de Sobral Joaquim Barreto Lima.
Manoel Marinho
Pereira, o maior carnavalesco que Sobral já produziu, faleceu no dia 10 de
dezembro de 1989, aos 79 anos de idade. O local destinado ao desfile das
escolas de samba, na Avenida Dr. Guarany, hoje recebe o
nome de Passarela Marinho Pereira.
Homenagem
A passarela onde desfilam as escolas de
samba locais é denominada extra-oficialmente de Marinho Pereira, carnavalesco
acima biografado.
Sobralidade em gotas
Que grande folião sobralense era
cognominado de “O rei da castanha-de-caju”. Resposta amanhã?
É mesmo, né?
“A
alegria não está nas coisas: está em nós”. (Goethe)
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