O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), dormirá neste domingo com um resultado amargo nas eleições municipais de 2020. Dos 12 candidatos a prefeito apoiados por Bolsonaro em suas "lives" semanais, apenas quatro se elegeram ou chegaram ao segundo turno.
Nos principais
colégios eleitorais do país, a única vitória de Bolsonaro foi no Rio de Janeiro
— onde o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), se recuperou e
disputará o segundo turno contra Eduardo Paes (DEM).
Desde a
segunda-feira (09/11), Bolsonaro fez quatro "lives" para apresentar
candidatos. Só de prefeitos, Bolsonaro e seus ministros apoiaram uma dúzia de
nomes.
Os mais conhecidos
são o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), candidato em São Paulo
(SP); e Crivella, no Rio. Mas Bolsonaro também apoiou candidatos em outras
capitais: Capitão Wagner (do Pros, em Fortaleza); Delegada Patrícia (Podemos,
em Recife); Coronel Menezes (em Manaus, pelo Patriota); e de Bruno Engler (em Belo
Horizonte, pelo PRTB).
Desses, Bolsonaro
só emplacou Crivella e Capitão Wagner. Este último conquistou 33% dos votos e
disputará o segundo turno na capital cearense contra José Sarto (PDT). Em São
Paulo, Celso Russomanno ficou em quarto lugar, com apenas 10,5% dos votos.
Bolsonaro também
apoiou o atual prefeito de Parnaíba (PI), Mão Santa (DEM), que conquistou a
reeleição com 68% dos votos. O outro sucesso foi em Ipatinga (MG), onde o jovem
Gustavo Nunes foi eleito prefeito pelo PSL.
A ministra Damares
Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) aproveitou uma live com Bolsonaro
para apoiar a candidata emedebista Morgana Macena, que disputou a prefeitura de
Cabedelo (PB) e foi derrotada. Figuraram ainda no "horário eleitoral"
do presidente os candidatos Ivan Sartori (do PSD, em Santos); Oscar Rodrigues
(pelo MDB, em Sobral); e Julia Zanatta (em Criciúma, pelo PL). Todos
fracassaram.
Bolsonaro usou
ainda as lives para apoiar candidatos a vereador — inclusive sua ex-assessora
dos tempos de deputado federal, Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí.
Ela concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores de Angra dos Reis (RJ) pelo
Republicanos, mas teve apenas 266 votos e não foi eleita.
Em Mato Grosso, o
presidente da República tentou garantir uma cadeira a mais no Senado: Bolsonaro
apoiou o nome de Rúbia Fernanda Diniz Siqueira, a Coronel Fernanda (Patriota),
na eleição suplementar para a Casa Alta. Até o fechamento desta reportagem,
porém, os resultados apurados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não eram
conclusivos.
Desde a
segunda-feira, Bolsonaro fez quatro lives para promover seus candidatos. Em
geral, os vídeos tinham pouco mais de 40 minutos — a exceção foi a última live,
na quinta-feira (12/11), quando Bolsonaro falou durante pouco mais de uma hora
e meia.
Alguns dos
candidatos chegaram a viajar para Brasília para aparecer ao lado do presidente:
agiram assim Bruno Engler (de Belo Horizonte) e Coronel Menezes (Manaus), entre
outros. Ambos fracassaram nas urnas.
Ao todo, Bolsonaro
fez propaganda para pelo menos 59 candidatos a prefeito ou vereador em suas
lives, segundo levantamento do site G1
Para o cientista
político Bruno Carazza, Bolsonaro, no entanto, o papel de Bolsonaro nas
eleições municipais não foi tão decisivo — apesar de alguns fracassos como o de
Russomanno.
"Muita gente
fez a leitura inicial, principalmente por causa do fracasso de Russomanno, de
que o Bolsonaro não foi um bom cabo eleitoral. Mas eu não vejo assim. A
recuperação de Crivella, no Rio de Janeiro, é uma indicação da força de
Bolsonaro. O candidato dele em Belo Horizonte (Bruno Engler) também teve um
desempenho melhor do que as pesquisas mostravam, o que indica que ele conseguiu
mobilizar as pessoas na reta final", disse Carazza, que é autor do livro
Dinheiro, eleições e poder, sobre o financiamento das disputas políticas no
Brasil.
"Ao não
lançar o partido (o Aliança pela Liberdade), ele pode dizer agora que os
fracassos não são culpa dele. Ao mesmo tempo, vai capitalizar com as eventuais
vitórias que aparecerem", diz o cientista político, que é professor da
Fundação Dom Cabral e do Ibmec.
Bolsonaro: esquerda sofreu derrota histórica
Pouco antes da
meia noite, Bolsonaro usou sua conta no Twitter para comentar o resultado das
eleições. O presidente disse que sua participação no pleito se resumiu a
"quatro lives num total de três horas".
"Há 4 anos,
Geraldo Alckmin elegeu João Dória prefeito de São Paulo no primeiro turno. Dois
anos depois Alckmin obteve apenas 4,7% dos votos na disputa presidencial. Minha
ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3
horas", escreveu ele.
"A esquerda sofreu uma histórica derrota nestas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar. Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado. DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA", disse Bolsonaro.
Ministério Público vai apurar propaganda irregular
O 'horário
eleitoral informal' promovido por Bolsonaro em suas lives pode ter outras
consequências. Em diversos Estados, o Ministério Público Federal decidiu
investigar se o presidente cometeu propaganda eleitoral irregular durante as
transmissões.
Parlamentares do
PT e da Rede Sustentabilidade questionaram o Procurador-Geral Eleitoral, Renato
Brill de Góes, sobre a legalidade das lives do presidente.
A Rede também
apresentou um questionamento sobre o uso do Palácio da Alvorada nas gravações
ao Tribunal de Contas da União (TCU). Apesar do nome, o TCU é um órgão de
assessoria do Congresso e não faz parte do Poder Judiciário.
A partir do pedido
dos parlamentares, Renato Brill de Góes determinou a abertura de apurações
sobre o assunto nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Bahia, Ceará,
Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Roraima e Sergipe.
Também há uma apuração em curso no Rio de Janeiro, onde Bolsonaro apoiou
Marcelo Crivella.
Na sexta-feira
(13), Bolsonaro anunciou em uma rede social que não faria mais uma "live
eleitoral" porque, segundo ele, a legislação não é clara sobre a
possibilidade de usar a ferramenta poucos dias antes da eleição. "Hoje não
haverá live 'eleitoral'. A legislação não é clara sobre sua realização a partir
desta data. Boa noite a todos", escreveu Bolsonaro. (BBC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário