Vice-presidente da CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
informou neste sábado (26) que vai apresentar uma notícia-crime à
Procuradoria-Geral da República (PGR), na próxima segunda (28), para pedir investigação
do presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o senador, o documento apontará indícios de que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação. A PGR deverá avaliar se pede autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o presidente.
De acordo com o Código Penal, prevaricar consiste em “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal". O delito é listado entre os crimes
praticados por funcionário público contra a administração pública.
Na sexta (25), a CPI ouviu depoimentos do deputado federal Luis Miranda
(DEM-DF) e do irmão dele, Luis Ricardo Miranda. O parlamentar afirmou que
Bolsonaro, ao ser informado sobre possível corrupção na compra da vacina
Covaxin, atribuiu as irregularidades a seu líder do governo na Câmara, Ricardo
Barros (PP-PR).
“Estamos diante do seguinte fato: um servidor público concursado e seu
irmão deputado federal levam ao presidente da República a notícia de que há um
crime de corrupção em curso. O presidente da República informa que tem
conhecimento do autor, e que se trata do seu líder na Câmara dos Deputados.
Mesmo comunicado, o presidente da República não toma nenhuma providência – não
instaura inquérito, não pede investigação, nada”, afirmou Randolfe.
“Diante deste grave acontecimento, estarei representando na
segunda-feira à Procuradoria-Geral da República para dar notícia de crime de
prevaricação cometido pelo senhor presidente da República. Este crime até aqui
é o mínimo a ser apurado. Eu tenho certeza que a CPI apurará muito mais além
disso”, adicionou o vice-presidente da comissão.
Entenda a notícia-crime
A notícia-crime é um instrumento usado para alertar uma autoridade — a
polícia ou o Ministério Público — sobre ocorrência de um ilícito. Se a CPI
fizer o registro e a PGR verificar que há indícios, caberá à procuradoria pedir
autorização do STF para abrir um inquérito.
Ao fim dessa eventual investigação, a PGR pode decidir oferecer uma
denúncia contra Bolsonaro. Se o presidente ainda estiver no cargo, o envio da
acusação ao Supremo requer autorização de dois terços dos membros da Câmara
(342 votos).
Se o inquérito for aberto, a PGR elaborar uma acusação, a Câmara
autorizar o envio ao Supremo Tribunal Federal e os ministros receberem a
denúncia, o presidente se torna réu e, segundo a Constituição, fica suspenso de
suas funções.
O artigo 86 da Constituição define que "o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções."
O que foi dito à CPI
Em depoimento
à CPI nesta sexta, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que se reuniu
com o presidente Jair Bolsonaro, em março, para denunciar um suposto esquema
ilegal em torno da compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.
Segundo
Miranda, durante a reunião, Bolsonaro disse saber que o líder do governo na
Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) estava envolvido no caso e que levaria a
denúncia ao diretor-geral da Polícia Federal, o que não foi feito.
A
vacina, produzida na Índia, é a mais cara negociada pelo governo até agora, e
as negociações são alvos de investigações da CPI e do Ministério Público.
Irmão
do deputado Luis Miranda, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo
Miranda também foi à reunião com Bolsonaro. Ele constatou irregularidades na
compra da Covaxin, como a exigência de um pagamento de US$ 45 milhões antecipados
a uma empresa que não estava indicada em contrato, e disse que, por isso, as
negociações foram travadas.
Em
nota publicada nas redes sociais, Barros afirmou que não participou "de
nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin." Já Bolsonaro
afirmou ter se reunido com o deputado aliado e o irmão dele em março, mas disse
que ambos não relataram suspeitas de corrupção.
(G1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário