O intervalo entre a primeira e a segunda dose da vacina AstraZeneca foi reduzido em cidades de ao menos seis estados no Brasil. O Ministério da Saúde atualmente recomenda 12 semanas (três meses), mas o prazo foi encurtado por gestores que buscam ampliar a proteção da população contra a variante delta do coronavírus.
Em resumo, o que está em jogo:
- Ministério da Saúde escolheu o maior prazo previsto
em bula para aumentar o total de pessoas vacinadas
com ao menos 1 dose, já que a AstraZeneca oferece proteção parcial de 76% já 21 dias após a primeira aplicação;
- Estados encurtam o prazo para aumentar a proteção
contra a variante delta mesmo sem orientação do governo federal:
estudos apontam que somente a vacinação completa protege contra a variante;
- O ministério chegou a estudar a redução do prazo,
mas reunião da Câmara Técnica manteve as 12 semanas;
- Já divulgaram a redução do intervalo cidades dos seguintes estados: Pernambuco (60 dias), Acre (45 dias), Santa Catarina (70 dias), Tocantins (80 dias), Espírito Santo (70 dias) e Piauí (70 dias).
- Houve ainda mudanças pontuais para grupos ou faixas etárias: Ceará, Alagoas e Sergipe. O estado de São Paulo também manifestou a intenção de encurtar o prazo, mas disse ainda depender de aval da Anvisa.
Previsão em bula
A bula da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção e importação da
tecnologia da AstraZeneca, já informa que "a segunda injeção pode ser
administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira".
A AstraZeneca reafirmou em nota ao G1 que "os estudos realizados até o momento
demonstram que a vacina é eficaz na prevenção da Covid-19 sintomática quando
aplicada neste intervalo de tempo", de 4 a 12 semanas. A farmacêutica
disse, ainda, que a vacinação com a segunda dose após 60 dias "foi
avaliada em estudos clínicos – e, por isso, está aprovada".
Já o Ministério da Saúde informou que "acompanha a
evolução das diferentes variantes do Sars CoV-2 no território nacional e está
atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado". A pasta
também disse que "o tema foi, inclusive, discutido amplamente na Câmara
Técnica Assessora em Imunizações, em reunião realizada no dia 2 de julho deste
ano, sendo que o parecer (...) foi a de manutenção deste intervalo".
Avanço da variante delta
Até o momento, a variante gama é a dominante no
país, mas, no último mês, foram confirmados casos da delta inclusive na cidade
de São Paulo. Enquanto isso, menos de 14% da população
brasileira recebeu as duas doses contra a Covid-19.
A baixa taxa de adesão à segunda aplicação é um
risco para o combate a todas as versões do vírus, já que garante um índice maior de proteção contra a versão grave da
doença. A necessidade do ciclo completo da vacinação se torna ainda
maior quando a delta chega ao Brasil: estudos indicam que apenas com a
aplicação do reforço é possível barrar a nova variante.
Proteção só com duas doses
Nesta quinta-feira (8), a revista científica
"Nature" apresentou um estudo assinado por cientistas do
Instituto Pasteur e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS,
na sigla em francês). Os resultados mostram que a delta é parcialmente resistente a alguns tipos de anticorpos, mas que duas
doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca/Oxford são capazes de
neutralizá-la.
Ao G1, a AstraZeneca
apontou outra pesquisa feita pelo governo do Reino Unido que demonstra a
eficácia da vacina. O documento sobre o artigo publicado pela farmacêutica diz
que "duas doses da vacina COVID-19 AstraZeneca são 92% eficazes contra
a hospitalização devido à variante delta e não mostraram mortes
entre os vacinados", dados divulgados com base no estudo.
Medida apoiada por especialistas
"Neste momento, tendo em vista principalmente
a possibilidade do avanço da variante delta, que tem um impacto de proteção
contra a infecção de pessoas que receberam apenas uma dose, é importante que a
gente avance no percentual com segunda dose. Eu acredito que essa medida deva
ser tomada pelo estado de São Paulo e também pelo Brasil, pelo Programa
Nacional de Imunizações", avalia Ethel Maciel, pós-doutora em
epidemiologia.
André Bon, infectologista do Hospital
Sírio-Libanês, também esclarece que a eficácia do imunizante "está mais
relacionada com a maneira como ele foi produzido e o tipo de antígeno
utilizado".
"Quanto mais rápido possível a gente conseguir
aumentar a cobertura vacinal da população, melhor vai ser" , diz André
Bon, infectologista
Necessidade: planejamento e comunicação uniforme
O ideal, segundo todos os especialistas, é o maior
número de pessoas imunizadas o mais rápido possível. Isabella Balalai,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), explica que
a confiança da população a respeito da vacina também está ligada a
uma unidade das medidas e de uma liderança dentro do programa de
imunizações.
"O ideal seria a gente já ter toda a população
com duas doses. Isso é o ideal. Agora, daqui pra frente, que a gente tenha um
planejamento único. Por que cada um, cada estado, cada município fazendo
diferente, isso gera muita dúvida, e dúvida leva a não adesão da
população", afirma Isabella Balalai.
"Afinal de contas, a gente ainda é um país só.
A vacinação, todas as campanhas, todos os resultados que a gente conseguiu com
vacinação foi com o país todo fazendo a mesma coisa", completou. (G1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário