O encontro, para o qual foram convidados 110 líderes mundiais, serviria para Biden galvanizar aliados em torno de si, em uma mostra do significado prático do lema do governo democrata: "America is Back", ou os "EUA estão de volta", em substituição ao "América First" (América primeiro"), de Donald Trump.
"Só que deu tudo errado. Biden tem uma visão
binária de política externa e tentou polarizar democracias e autocracias. Mas,
por um lado, nem os próprios americanos estão dispostos a defender a democracia
como antes — inclusive com parte dos conservadores, como o comentarista da Fox
Tucker Carlson, defendendo os interesses dos russos e atacando as eleições
domésticas. Por outro, os aliados internacionais, como a Alemanha, demonstraram
pouca disposição de se alinhar completamente aos americanos contra a China, por
exemplo. Era um fiasco anunciado", afirmou Mathias Alencastro, pesquisador
do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e professor de relações
internacionais na UFABC.
Rússia rouba a cena
Em vez de se concentrar em receber os convidados
que endossariam os valores que o governo americano quer espalhar pelo mundo,
Biden passou a semana em gestões para conter seus dois principais antagonistas,
Rússia e China, em duas frentes distintas que podem levar a conflitos
militares.
De um lado, os EUA assistem a uma escalada de
tensão na fronteira entre Ucrânia e Rússia. O líder russo Vladimir Putin passou
a estacionar milhares de soldados nas últimas semanas na região da Crimeia,
sugerindo que um ataque ao território ucraniano é iminente. Putin quer que
Biden e os países ocidentais vetem a entrada da Ucrânia na aliança militar da
OTAN (Organização do Atlântico Norte) e não avancem militarmente na região, que
Putin vê como sua zona de influência.
Diante do cenário, Biden teve que se dividir entre
reuniões bilaterais com o líder russo Vladimir Putin — com quem fez uma ligação
de vídeo de mais de duas horas de duração -, com o presidente ucraniano
Volodymyr Zelensky, com nove países bálticos da OTAN , além de ter várias
conversas com lideranças europeias.
"Putin fez o que sempre faz: criou uma crise
para forçar todo mundo a se sentar com ele à mesa. E Biden caiu na
armadilha", diz Alencastro. Ele relembra ainda que Putin também estaria
por trás de outra crise que incomoda parte da Europa há um mês: o surgimento de
migrantes iraquianos em massa na fronteira de Belarus, movimento aparentemente
orquestrado pelo líder autoritário do país Alexander Lukashenko, um aliado de
Putin. A situação gerou uma crise na fronteira da Polônia, uma das convidadas
para a Cúpula da Democracia de Biden.
Ao mesmo tempo em que ameaçou a Rússia com sanções
econômicas no caso da Ucrânia, Biden descartou uma intervenção militar direta
americana, o que reduz sua capacidade de demonstrar força. Desde os fracassos
da guerra do Iraque e do Afeganistão, a opinião pública dos EUA se coloca
majoritariamente contrária a ações de guerra dos americanos por interesses
geopolíticos. O caso do Afeganistão, do qual Biden comandou uma retirada
considerada falha pelo próprio comando militar americano, custou uma fatia
importante da popularidade do presidente americano. As cenas de americanos
desesperados para partir do país e de afegãos agarrados à fuselagem de uma
aeronave militar americana provocaram nos americanos sentimento vexatório
comparado pela imprensa local à derrota da Guerra do Vietnã, nos anos 1970.
China expõe fragilidades americanas
Em outra frente, o convite de Biden para que Taiwan
fizesse parte da Cúpula da Democracia irritou os chineses. A China vê Taiwan
como parte de seu próprio território e tomou o tratamento dispensado pelos
americanos à área, como se fosse uma nação autônoma, como uma afronta ao
princípio de uma China única defendida pelo presidente Xi Jinping. Os chineses
têm apertado o cerco em torno de Taiwan, tanto econômica quanto militarmente,
para tentar fazê-la se submeter ao comando do Partido Comunista Chinês.
Os chineses responderam com um movimento sem
precedentes, ao divulgar um documento diplomático em que afirmam que a China é
"uma democracia que funciona", ao contrário dos EUA, incapaz de
satisfazer os desejos de seu povo.
"A China tem se afastado da democracia nos
últimos 10 anos, mas foi a campo ressignificar o termo e orgulhosamente
defender seu modelo político. Isso não acontecia antes. Parece estar surgindo
esse componente ideológico que faltava para definir a atual relação entre EUA e
China como uma Guerra Fria, e não só uma disputa comercial ou de
influência", afirma o especialista em EUA Carlos Gustavo Poggio, professor
de relações internacionais da FAAP.
Os chineses argumentam ainda que os americanos não
teriam autoridade para determinar quem é ou não uma democracia - especialmente
depois das cenas da invasão do Congresso por apoiadores do então presidente
Donald Trump que tentavam impedir a certificação da vitória presidencial do
próprio Biden.
"Nessa crítica os chineses são precisos. O
critério da Cúpula da democracia de Biden parece o mesmo adotado nas portas de
baladas americanas: você é bonito, entra, você é feio, não entra. Não tem
objetividade alguma", afirma Alencastro.
Se adotasse como critério o mapeamento da Ong
Freedom House, que avalia anualmente a qualidade das democracias no mundo,
Biden teria que alterar sua lista de convidados. A Bolívia, com nota 66, e a
Hungria, com 69, dois dos países barrados no evento atual, são considerados
mais democráticas do que as Filipinas, com 56, que recebeu convite.
Além da disputa em relação à Taiwan, Biden anunciou
ainda esta semana um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de
Inverno em Pequim, em 2022. Isso significa que, além dos atletas, o país não
enviará autoridades ou missões diplomáticas ao evento. O boicote foi
justificado pelo tratamento dado aos chineses a minorias, como o grupo étnico
muçulmano de Uigures, na província de Xinjiang, classificada como
"genocídio" e "crime contra a humanidade" pelos americanos.
Para a especialista em China e professora de
relações exteriores da Universidade de Michigan, Mary Gallagher, em vez de ser
uma medida de força, o anúncio do boicote pode revelar fraqueza dos americanos.
Até o momento, três dias após a decisão americana, apenas Austrália, Canadá e
Reino Unido anunciaram que seguiriam os passos dos EUA no boicote. Isso mostra
que Biden tem dificuldades de alinhar parceiros ocidentais e asiáticos em torno
de suas ações. Segundo Gallagher, para mostrar força, os EUA precisariam contar
ao menos com o endosso adicional de França, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.
"É uma péssima ideia dos Estados Unidos terem
feito um boicote diplomático sem ter absoluta certeza de que poderiam contar ao
menos com esses países.
Se eles não aderirem, isso será encorajador para os
chineses, porque vai mostrar a eles que a oposição a certas políticas da China
é relativa e há importantes países que preferirão apenas ignorar o assunto em
vez de se indispor com eles", diz Gallagher.
Cúpula sem compromisso final
Em meio a tantas dificuldades domésticas e
internacionais, um alto funcionário do Departamento de Estado confirmou na
quinta-feira (9/12) que os EUA não pretendem concluir a Cúpula da Democracia
com algum tipo de comunicado conjunto entre os participantes. Os países
convidados puderam apresentar compromissos específicos e voluntários, mas nem
todos o fizeram.
"Não planejamos ter um documento assinado por
todos porque não queremos nos antecipar demais. Vemos essa primeira cúpula como
o lançamento de um processo maior", afirmou um porta-voz do Departamento
de Estado, afirmando que uma segunda edição do evento deve acontecer no ano que
vem para acompanhar como os diferentes líderes - e os atores da sociedade civil
- têm agido para fortalecer a democracia domesticamente.
Mas, para Poggio, a ausência de um compromisso
partilhado pelos participantes mostra que os americanos falharam em construir
uma coalizão em torno de si e de seus valores.
"Ainda que fosse um documento genérico, seria
muito importante que os países assinassem e se comprometessem com algo, para
mostrar que existe algum tipo de aliança", diz Poggio.
Bolsonaro como coadjuvante
Convidado para a Cúpula, o presidente brasileiro
Jair Bolsonaro participa do evento na posição de coadjuvante. Ao contrário do
que aconteceu em outros eventos internacionais de que o mandatário participou
este ano, como a Assembleia Geral da ONU e a reunião do G-20, Bolsonaro desta
vez não deve ser alvo de críticas, a despeito de seu histórico de alegações sem
provas de que o sistema eleitoral brasileiro seria inseguro e de que as
eleições que ele venceu, em 2018, teriam sido fraudadas.
"Não será ali que Bolsonaro mudará a péssima
imagem internacional que tem, nem que ela irá piorar. Se ele colher algum
benefício, será entre aqueles que já são seus apoiadores", afirma Poggio.
O Brasil apresentou uma lista de compromissos
voluntários aos americanos que incluem, entre outras coisas, garantir eleições
livres no ano que vem, defender liberdades individuais e combater a corrupção.
"Bolsonaro reitera o compromisso do Brasil com a proteção das liberdades
fundamentais e a promoção de uma cultura de diálogo, liberdade e inclusão
social, sem discriminação", afirmou o Itamaraty em nota.
Em um vídeo de três minutos que irá ao ar apenas no
segundo dia da cúpula, Bolsonaro defenderá especialmente que a internet deve
ser um ambiente livre para a expressão, sem que plataformas possam derrubar
conteúdos falsos ou enganosos, por exemplo.
A ideia é controversa porque alude ao episódio do
ex-presidente Trump, banido das redes sociais por, segundo elas, incitar o
desfecho violento do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2020. Bolsonaro e
seus aliados têm argumentado que a Justiça e as plataformas digitais silenciam
vozes de direita. Ainda assim, o tópico não deve ter força para gerar polêmica
e captar a atenção.
Outro ponto polêmico da participação do Brasil é o
trecho dos compromissos democráticos em que o país acusa a mídia tradicional de
ser a maior fonte de desinformação do país. A afirmação vai de encontro à
defesa feita pelos americanos da liberdade de imprensa, "pedra fundamental
da democracia" nas palavras de Biden na abertura da Cúpula.
Os EUA anunciaram no evento a criação de um fundo
de US$ 30 milhões (R$ 170 milhões) para financiar a atividade de mídias
independentes tanto domesticamente quanto no exterior. Outros US$ 9 milhões (R$
50 milhões) serão destinados pelo país a custear defesas judiciais de
jornalistas processados ou perseguidos em função de suas investigações e
reportagens. (BBC)
910 inscritos
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FEIRA DE CARUARU - BAIÃO de
ONILDO ALMEIDA com ONILDO ALMEIDA e CONJUNTO CARUARU. Disco HARPA Nº 012-a.
Matriz H-22. Lançado em 1956. Acervo NATAN LIMA Caruaru - PE. Produzido por
Adolpho de Figueiredo SA, rua
Nova, 171, Recife, PE.
https://www.youtube.com/watch?v=gewMj-6hUFo
47 mil inscritos
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Onildo Almeida já tinha gravado a
sua mais famosa música, "A Feira de Caruaru", pela gravadora
Copacabana em 1956, tendo vendido 11 mil cópias. Mas nesse mesmo ano se
encontrou com Luiz Gonzaga em Caruaru que ao ouvir a música disse: "isso
tem cheiro de nego, posso gravar?" E a gravação foi feita em 1957 no ano
do centenário de Caruaru, porém ainda em 1956 os dois cantaram essa música em
público pela 1ª vez quando nem um nem outro sabia a letra de cor. Foram se
ajudando e cantaram lindamente o baião. Este áudio tem uma força documental
sonora extraordinária!
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