domingo, 20 de março de 2022

LITERATURA CEARENSE Fraternidade e Educação, a 58ª Campanha da Fraternidade (Mons. Assis Rocha*)

Histórico sobre 58ª C.F. - EDUCAÇÃO 

Já falamos aqui aos nossos possíveis leitores e eles devem estar sendo informados por outras fontes em qualquer ponto do país, que estamos vivendo a 58ª C.F. coordenada pela CNBB, pela 3ª vez, sobre a Educação. 

Ninguém desconhece a importância do Tema – Fraternidade e Educação – e de seu Lema Bíblico, tirado do Livro dos Provérbios 31, 26: ‘fala com sabedoria, ensina com amor’. Tema e Lema, reconhecidamente, desafiadores e exigentes, que se impõem no anúncio do Evangelho e na promoção do bem comum.

Mais uma vez estamos convidando todo o povo brasileiro a redescobrir os princípios fundamentais de uma educação que humanize, que promova a dignidade humana e que construa a paz.

Segundo a proposta do Papa Francisco, seu Pacto Educativo Global se insere na compreensão de um mundo fraterno, em que a Educação é um meio pelo qual se pode criar a verdadeira solidariedade, mesmo reconhecendo as desigualdades sociais, a falta de oportunidades e de equidade no acesso a uma educação de qualidade em que os pobres são os mais prejudicados.

O Hino da 58ª CF – 2022, apesar de parecer longo, coloca em relevo sua mensagem principal. Senão, vejamos: 

É tarefa e missão da Igreja/ Boa nova no amor proclamar,

No diálogo com a cultura/ Para a vida florir, fecundar,

O que em redes se vai construir/ E a pessoa humana formar.

 

Quando o anseio do conhecimento/ Ultrapassa barreiras, fronteiras,

Se destaca o ensinamento/ Oriundo da fé verdadeira,

Que nos faz nesta ação solidários/ Para o bem, condição que é certeira.


Refrão:

E quem fala com sabedoria/ É aquele que ensina com amor,

Sua vida em total maestria/ É pra nós luz, caminho, vigor.

 

Educar é atitude sublime/ Que prepara a vida futura,

Compreendendo o presente, pensamos/ Ensinar é proposta segura

Para, enfim, destacar-se a atitude/ Dos que em Cristo são nova criatura.

 

O convívio em níveis fraternos/ Traz em nós o sentido discreto

Na harmonia com os seres viventes/ E no agir, o equilíbrio completo;

Consigamos também aprender/ E educar para o amor e o afeto.

 

O caminho nos quer convertidos/ Mergulhar no mistério profundo;

Para que na Páscoa busquemos/ Compaixão no cuidado com o mundo,

Conformados em Cristo seremos/ Aprendizes do dom tão fecundo.

 

Quando a plena mudança atingir/ Relações tão humanas, libertas,

Novos rumos em redes seremos/ Gerações solidárias e abertas,

Na esperança de rostos surgirem/ Assumindo missões tão concretas.

 

E na casa comum que sonhamos/ Onde habitam cuidado e respeito.

Educar é o verbo preciso/ A cumprir neste chão grandes feitos;

Para o mundo poder imitar/ Quem na vida é o Mestre perfeito.

 

Pedagogicamente é preciso/ Escutar, meditar, compreender,

Para que aprendamos com o Cristo/ O caminho da cruz percorrer

E na escola da sua existência/ O evangelho seguir e viver.

Lendo e relendo este belo poema de Eurivaldo Silva Ferreira, que se encaixa tão bem na melodia de Miguel Philippi, percebe-se que o Hino da 58ª CF deste ano é a expressão poética e musical da mensagem que se quer passar para todo o país, tendo em vista o Tema da Educação e Fraternidade sob o Lema, tirado de Provérbios 31,26: fala com sabedoria, ensina com amor.

O Eurivaldo é leigo, mestre em Teologia, especialista em Liturgia pela PUC – SP e membro da Equipe de Reflexão do Setor de Música Litúrgica da CNBB. Já o compositor, Miguel é maestro em dois corais: o de Nossa Senhora da Lapa e o Vozes do Mar. Ambos são dedicados à Educação na formação integral da pessoa humana, com destaque, no refrão, para a pessoa de Cristo que “fala com sabedoria e ensina com amor”, cuja vida “em total maestria, é para nós luz, caminho e vigor”.

Durante esses 40 dias da Quaresma, culminando com a celebração da Páscoa, a Igreja do Brasil não está torcendo por este ou aquele modelo educativo como única via de solução, mas está provocando uma reflexão onde a experiência da tradição cristã pode contribuir para mudar esse cenário.

Temos certeza de que educar é muito mais do que instruir ou transmitir conhecimento. Educar é um ato de amor e de esperança no ser humano. Educamos porque acreditamos na pessoa, em suas capacidades, em seus dons, talentos e na arte de superação em meio à dor e ao sofrimento.

Em todo o Brasil se tem refletido sobre uma cena ocorrida com Jesus, relatada no Evangelho de João 8,1-11 em que o Mestre “fala com sabedoria e ensina com amor”. Ele se encontrava no Templo, muito cedinho, ensinando, e o povo o escutava, atentamente. De repente, uma mulher “surpreendida em adultério” é colocada entre Jesus e seus acusadores e todas as atenções se voltam para ela. Fora apanhada em adultério. A lei é rigorosa para com ela, embora em Deuteronômio 22,22 afirme que “tanto o homem como a mulher deveriam receber igual condenação”. Os acusadores ignoraram este detalhe e partiram pra cima de Jesus para pô-lo à prova: “qual seria seu modo de agir em relação à mulher adúltera”. Jesus ficou tranquilo, vendo naquele momento, uma boa ocasião para “educá-los”. Percebendo a malícia de escribas e fariseus que o queriam acusar e condenar, mediante sua resposta, Jesus inclinou-se, ficou perto da mulher, começou a escrever no chão, os pecados de cada um deles e deu a sábia sentença: “quem dentre vós não tiver pecado atire-lhe a 1ª pedra”. É claro que, ninguém se atreveu. Saíram de mansinho. E Jesus concluiu, indicando um novo caminho àquela que era adúltera: “eu também não te condenarei; vai e não peques mais”.

O perdão é a manifestação amorosa da graça de Deus. Seguindo a pedagogia de Jesus, a mulher perdoada e educada pelo amor entendeu toda a lição: converteu-se e ficou com o coração transbordante de amor e perdão.

Esta CF está nos estimulando a trabalhar por uma educação que humanize e encontre caminhos promotores de vida fraterna. Quando não há fraternidade, conscientemente cultivada, quando não há vontade política de concretizá-la, traduzindo-a em uma educação para a fraternidade, dificilmente o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo serão alcançados como valores.

Nosso sempre atualizado pedagogo, Paulo Freire, referência mundial em Educação, diz que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

É dele também o pensamento de quem não é ‘terrivelmente pedagogo’, mas afirma com sabedoria: “a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem” e acrescenta: “o educador se eterniza em cada ser que educa”.

Juntando nossas reflexões sobre Carnaval, Quaresma, Campanhas da Fraternidade, e esta 58ª sobre Educação, daria para se ter uma ideia do que a Igreja quer com movimentos de evangelização deste nível. Aproveitemo-los.




(*) Mons. ASSIS ROCHA - Sacerdote aposentado, Mestre e Doutor em Comunicação Social, residente em Bela Cruz – CE.


 

 

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