terça-feira, 19 de abril de 2022

Nordestinos da política: novas estratégias para não perder o pode

Em outubro, três famílias tradicionais da política do Nordeste terão de adotar novas estratégias para manter um poder que possuem há décadas. No Maranhão, Roseana Sarney (MDB) tentará voltar a Brasília como puxadora de votos de seu partido na disputa pela Câmara dos Deputados; em Alagoas, o ex-governador Renan Filho (MDB) disputará o Senado contra o senador Fernando Collor (Pros), que conta com o apoio dos presidentes da República, Jair Bolsonaro (PL), e da Câmara, Arthur Lira (PP), outro clã forte no Estado.

A situação mais tranquila é a do ex-prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto (União Brasil), o ACM Neto, que disputará o governo da Bahia com recursos milionários de sua legenda e sem um oponente de peso no PT, que hoje ocupa o Palácio de Ondina. Roseana é filha do ex-presidente e escritor José Sarney (1985-1990). Foi governadora do Maranhão por quatro mandatos (1995 a 2002 e 2009 a 2014) - mas, em 2022, deve concorrer a uma vaga como deputada federal. A dificuldade na disputa pelo Senado pesou na decisão, disse ela ao Estadão/Broadcast Político. A vaga na Casa terá páreo duro este ano, com a entrada na corrida do ex-governador Flávio Dino (PSB) e, possivelmente, do atual detentor da cadeira, Roberto Rocha (PSDB).

"Decidi mesmo sair para deputada federal porque eu gostaria de voltar (a Brasília). Já fui deputada federal (1991 a 1994), já fui senadora (2003-2009) e governadora, e queria voltar a ter essa experiência de deputada. Eu também acho que, no Congresso, as coisas começam lá na Câmara. O impeachment, o Orçamento da União. Além da dificuldade também da candidatura para o Senado. Eu preferi ir para a Câmara", afirmou Roseana.

A presidência nacional do MDB funciona numa ampla casa no Lago Sul, bairro nobre da capital federal. Na sala de reuniões, bandeirinhas dos Estados brasileiros e fotos de caciques como Michel Temer, Jader Barbalho e Romero Jucá. Em março, Roseana esteve no local para apresentar ao presidente nacional da sigla, o deputado Baleia Rossi (SP), uma parte dos candidatos que tentará trazer para a capital em 2023, como puxadora de votos do MDB na eleição para a Câmara.

No momento, ela luta para concluir a lista de candidatos do MDB à Câmara e à Assembleia Legislativa - fechar a nominata é "um aperreio", nas palavras de Roseana. Para se manter competitivas, as agremiações buscam lançar o máximo possível de candidatos aos cargos proporcionais. No Maranhão, são necessários 19 postulantes candidatos à Câmara dos Deputados.

"Quando você já tem deputados eleitos (na sua legenda), ninguém quer sair candidato. Dizem que não vão servir para eleger outra pessoa. Em todos os partidos, há essa confusão", disse ela. Roseana afirmou que havia "uma tendência" de o MDB apoiar o candidato de Dino a governador do Maranhão, seu ex-vice e atual governador, Carlos Brandão Júnior (PSB). No entanto, as conversas não foram adiante. Uma decisão sobre o assunto só será tomada mais tarde.

Alagoas

Em Alagoas, o ex-governador Renan Filho (MDB) tentará a vaga no Senado, e a disputa promete ser dura: ele enfrentará o ex-presidente Fernando Collor (Pros), que busca a reeleição com o apoio do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). Nos últimos anos, Lira levou centenas de milhões de reais para Alagoas por meio do orçamento secreto, conquistando o apoio de prefeitos em todas as regiões do Estado. A dupla Lira e Collor oferecerá no Estado o palanque a Bolsonaro, enquanto o clã Calheiros apoiará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), repetindo a disputa presidencial no âmbito local.

Renan Filho deixou o cargo de governador no início do mês para disputar a cadeira de senador pelo Estado - a desincompatibilização é uma exigência da Lei Eleitoral. Até agora, não tem um sucessor: em outubro de 2020, o então vice-governador Luciano Barbosa (MDB) rompeu com o clã dos Calheiros e se elegeu prefeito de Arapiraca (AL), segundo maior município do Estado. Por isso, caberá à Assembleia Legislativa alagoana escolher o governador e o vice para um mandato tampão, até o fim do ano, numa eleição entre os deputados estaduais.

Há a possibilidade de o Palácio Floriano Peixoto acabar nas mãos do grupo político de Lira: o presidente da Câmara dos Deputados teria, de saída, pelo menos nove dos 27 integrantes da Assembleia, segundo aliados. Uma reviravolta do tipo poria a máquina do governo de Alagoas nas mãos de adversários do ex-governador, criando uma dificuldade a mais.

O MDB de Renan Filho terminou bem a janela partidária em março: a sigla tem agora 17 dos 27 deputados estaduais, número suficiente para eleger o governador-tampão. O candidato dos Calheiros é o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), que nos últimos dias tem rodado o Estado acompanhado de Renan Filho em aparições em eventos.

Apesar das dificuldades, o senador Renan Calheiros se diz tranquilo. "Arthur Lira é um típico caso daquelas pessoas que têm influência em Brasília e não têm voto popular no Estado. Quando você coloca (nas pesquisas) o apoio dele para qualquer candidato a governador, o candidato perde voto. Então, é essa a circunstância. A gente aqui não tem preocupação quanto à participação dele (Lira)", diz Renan Calheiros, que é adversário declarado do deputado.

"O pai dele (Benedito de Lira, o Biu) era senador, perdeu a eleição para o governador Renan Filho no primeiro turno (em 2014). E em 2018 (Benedito) teve a metade dos meus votos na eleição para o Senado. Perdeu. Nós não temos muita preocupação. Ele exagera na coisa do orçamento secreto, mas não tem dinheiro em nenhuma obra estruturante no Estado, que ajude no desenvolvimento local. É tudo custeio para hospitais privados, para prefeituras. Sabe lá Deus a que preço. A eleição dele (Lira) é provável como deputado federal. Mas a influência dele nas eleições majoritárias é negativa", diz Renan Calheiros.

Bahia

Na Bahia, o ex-prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (União), o ACM Neto, tentará o governo do Estado - posto que seu avô, Antônio Carlos Magalhães, exerceu por três vezes nas décadas de 1970 a 1990. No fim de fevereiro, ACM Neto recebeu uma boa notícia: o senador e ex-governador Jaques Wagner (PT) desistiu de disputar o Palácio de Ondina. Wagner era o segundo colocado nas pesquisas. Em seu lugar, o PT indicou o atual secretário de Educação do governo de Rui Costa (PT), Jerônimo Rodrigues, que mal pontua nos levantamentos mais recentes de intenção de voto.

Pesquisa Genial/Quaest divulgada no dia 22 mostra ACM Neto muito à frente dos demais pré-candidatos: o herdeiro do carlismo tem entre 66% e 69% das intenções de voto na pesquisa estimulada, em que os nomes dos candidatos são apresentados ao eleitor. O atual ministro da Cidadania, João Roma (PL), aparece com 5%; Jerônimo Rodrigues tem entre 4% e 6% e Kleber Rosa (PSOL) de 2 a 3%.

As boas notícias para ACM Neto, no entanto, terminam por aí, diz o cientista político Felipe Nunes, que é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Quaest. “Existem hoje na Bahia dois polos: um é o do ACM Neto, que está muito bem avaliado e tem um alto recall (reconhecimento) no Estado. Do outro lado, tem o grupo político do PT, com o governo do Estado também bem avaliado, e uma força política do Lula gigantesca. Só que essa força do PT não aparece na pesquisa porque o Jerônimo é um cara altamente desconhecido”, diz. “ACM Neto aparece com quase 70% no primeiro turno, mas eu não acho que este é o quadro final. O governo bem avaliado de Rui Costa vai transferir votos para o Jerônimo, assim como o apoio de Lula”, diz ele.

A pesquisa espontânea, em que não são fornecidos os nomes dos pré-candidatos, mostra 59% de eleitores que ainda não decidiram o voto. E 53% dos baianos declaram que preferem um governador “mais ligado a Lula (PT)”, ante 29% que preferem um político que não esteja ligado nem ao ex-presidente petista e nem a Jair Bolsonaro, como é ACM Neto.(André Shalders - JB/Ag. Estado)

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