terça-feira, 12 de abril de 2022

Quais os planos da Petrobras para o fim da era do petróleo?

Enquanto várias grandes petrolíferas têm investido em energias renováveis e algumas já começam a cortar sua produção, a Petrobras vem diminuindo seus investimentos em fontes menos poluentes e planeja ampliar em 45% a produção de petróleo até 2026.

Hoje no centro de um acirrado debate político por causa de sua política de preços, a Petrobras enfrenta um desafio ainda maior no longo prazo: como sobreviver ao fim da era do petróleo e responder à necessidade global de que as emissões associadas a combustíveis fósseis caiam rapidamente?

Enquanto várias grandes petrolíferas têm investido em energias renováveis e algumas já começam a cortar gradualmente sua produção de petróleo, a Petrobras vem diminuindo seus investimentos em fontes menos poluentes e planeja ampliar em 45% sua produção de óleo até 2026.

Se a decisão de priorizar o petróleo tem se mostrado rentável num cenário em que a demanda global pelo combustível ainda é alta, especialistas afirmam à BBC que, no futuro, a estratégia pode custar caro não só à Petrobras mas também ao Brasil, que corre o risco de ver sua maior empresa definhar num planeta cada vez menos dependente de combustíveis fósseis.

Já a empresa diz que a transição global rumo a fontes renováveis não eliminará a demanda por petróleo, afirma que tem a missão de "transformar recursos brasileiros em riquezas" e que vem implantando ações para reduzir suas emissões (leia mais abaixo).

Fim da exploração de novos poços

Há um consenso entre cientistas de que, para frear o ritmo do aquecimento global, a humanidade precisa nos próximos anos reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.

Em 2021, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou um estudo apontando que nenhuma nova reserva de petróleo e carvão poderia ser explorada a partir daquele ano para que o mundo evitasse os cenários mais catastróficos das mudanças climáticas, nos quais a temperatura global subiria mais do que 1,5°C.

Outro estudo, publicado na revista Nature em setembro de 2021, estimou que a produção global de petróleo e gás deveria cair 3% a cada ano até 2050 para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Parte dessa redução deve acontecer independentemente da vontade das petrolíferas, já que as energias renováveis têm ficado mais baratas e veículos elétricos tendem a ocupar uma parcela cada vez maior do setor automotivo.

Segundo a AIE, a demanda global de petróleo cairá dos atuais 90 milhões de barris por dia para 24 milhões de barris/dia em 2050.

Até lá, a tendência é que o petróleo seja cada vez menos empregado como fonte de energia, mas preserve alguns de seus usos como matéria-prima na indústria química - um peso muito inferior ao que teve nas últimas décadas como combustível essencial para a economia global.

Embora reconheça que o setor viverá um declínio, a Petrobrás pretende inaugurar novos poços e ampliar bastante sua produção de óleo nos próximos anos.

'Pressa no pré-sal'

Em seu último plano quinquenal, divulgado em 2021, a empresa anunciou que pretende inaugurar 15 novas plataformas de petróleo até 2026, quando espera aumentar sua produção dos atuais 2,2 milhões de barris por dia para 3,2 milhões - uma alta de 45%.

Hoje a Petrobras é a quarta maior produtora de petróleo do mundo, segundo o portal de estatísticas Statista. As três primeiras são a saudita Saudi Aramco (9,2 milhões de barris/dia), a russa Rosneft (4,1 milhões) e a chinesa PetroChina (2,5 milhões).

Boa parte do aumento da produção da Petrobras se dará em poços na região do pré-sal, que já responde por 70% do óleo extraído pela companhia e abriga a maior parte das reservas ainda não exploradas no Brasil.

Em artigo publicado no site da Petrobrás em março de 2022, o então presidente da empresa, general Joaquim Silva e Luna, disse que a companhia corre para explorar o pré-sal antes que o mundo se volte a fontes menos poluentes.

No texto, Silva e Luna afirma que o planeta de fato precisa reduzir o consumo de combustíveis fósseis e priorizar energias renováveis para frear o aquecimento global.

Nesse cenário, segundo o general, cabe à Petrobras "não permitir que esses recursos repousem no fundo do mar enquanto aguardamos a chegada de uma nova era".

"A certeza da transição leva a Petrobras a ter pressa no pré-sal", afirmou Silva e Luna, que deve deixar o cargo oficialmente nesta quarta-feira (13/04) após embates com o governo federal em torno da política de preços da empresa.

Ao pisar no acelerador enquanto o mundo se vê obrigado a reduzir emissões, a Petrobras pode se ver alvo de crescentes contestações por seu papel no aquecimento global.

Em 2019, a empresa foi citada pela organização americana Climate Accountability Institute em um estudo sobre as 20 empresas que mais emitiram gases causadores do efeito estufa no mundo a partir de 1965. A conta considera as emissões ao longo de toda a cadeia, incluindo a queima dos combustíveis.

A Petrobras ficou em vigésimo lugar no ranking e tende a subir posições caso cumpra os planos de elevar a produção.

Emissões 'operacionais'

Por ora, a resposta da empresa às mudanças climáticas se concentra em iniciativas para reduzir as emissões geradas na produção (mas não no consumo) de seu petróleo.

Em nota à BBC, a Petrobras diz que "planeja investir US$ 2,8 bilhões nos próximos cinco anos para redução e mitigação de emissões, incluindo a criação de um fundo de descarbonização de US$ 248 milhões para soluções de baixo carbono".

Além disso, a empresa diz que os campos do pré-sal "estão entre os que produzem com menos emissão no mundo".

"A emissão média de CO2 equivalente por barril produzido no mundo é 70% maior do que a emissão no pré-sal", diz a empresa. "Como existirá demanda, se a Petrobras deixar de entregar seu barril com menor emissão, outro barril será entregue com maior emissão na operação, o que aumentaria a emissão global", argumenta a companhia.

Uma das principais iniciativas climáticas da Petrobrás é a meta de cortar em 25% suas "emissões operacionais" até 2030, tendo como base o ano de 2015.

SAIBA MAIS CLICANDO ABAIXO:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61075607

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