Muitos roubos têm acontecido
enquanto a vítima usa o aparelho - e, portanto, ele está desbloqueado. "É
aquele roubo no qual a pessoa passa correndo ou de bicicleta e arranca o
aparelho da sua mão. Também pode acontecer no trânsito. O intuito é pegar o
celular desbloqueado e ter acesso mais fácil às informações", aponta Hiago
Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética.
Nesse caso, a vítima tem poucos
minutos para fazer o bloqueio do aparelho antes que o criminoso comece a
acessar seus dados. "Ele mantém a tela ativa, coloca o chip em outro
dispositivo e começa tentar trocar senhas a partir do SMS (muitos aplicativos
dão essa opção)", aponta Kin.
Outra modalidade é furto ou roubo
com o celular bloqueado. Nesse caso, a quadrilha busca varrer a memória do
aparelho com programas usados por hackers. "O objetivo não é trocar senhas
de contas, mas obter informações que estão offline no aparelho. Documentos e
dados pessoais são usados para abrir contas em outros bancos, que não o da
vítima, e aplicar golpes", diz o especialista.
A seguir, veja as orientações de
especialistas sobre como aumentar sua segurança:
Para se proteger antes de
eventual roubo
1. Não mexa
no celular enquanto anda
Antes de qualquer configuração,
Kin recomenda atenção ao comportamento. "Evite mexer no celular enquanto
se movimenta. As vítimas têm esse padrão específico. Como o foco está no
dispositivo, ela não percebe quem está se aproximando. Antes de mexer no
celular, pare em algum lugar, sem movimento, como um comércio."
2. Use código
e opção de bloqueio automático da tela
Escolha o menor tempo possível
para bloqueio automático de tela e assim reduzir as chances de ser roubado com
a tela desbloqueada. Alguns celulares oferecem a opção de bloqueio após 30
segundos sem utilização.
3. Ative
biometria ou reconhecimento facial em aplicativos
Procure, nas configurações de
seus aplicativos, a opção de entrar por meio de biometria e leitura facial.
Telegram e Whatsapp são exemplos que já permitem essa ativação.
Ainda que o celular seja roubado
com a tela desbloqueada, essa medida dificulta o acesso às informações.
4. Ative a
autenticação de dois fatores
Entre nas configurações de cada
um dos seus principais aplicativos e busque pela opção de 'privacidade' para
encontrar a opção de autenticação de dois fatores."Preze sempre por
aplicativos que geram códigos e não pela autenticação por SMS, já que o ladrão
pode estar com seu chip", diz Kin.
5. Não salve
informações importantes (como senhas) no aparelho
Evite manter qualquer tipo de
senha em prints, fotos, e blocos de notas, assim como fotos de seus documentos.
"Uma boa dica é digitar a
palavra 'senha', 'acesso', na busca de mensagens e ver se você já mandou para
alguém. Às vezes é sua senha para entrar em uma loja online, mas é a mesma
usada para contar importantes. Os criminosos têm esse olhar", alerta o
presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética.
6. Tenha um
chip reserva
Se desejar manter um número de
celular nas configurações de segurança das suas contas, o melhor é que não seja
o mesmo número que você usa no dia a dia.
"Assim os criminosos não vão
conseguir trocar a senha solicitando um novo código por SMS, já que esse outro
chip estará na casa, e não no aparelho roubado", explica Kin.
7. Revise e
configure o limite de seu Pix
A Federação Brasileira de Bancos
alerta que desde abril do ano passado, o usuário pode controlar seu limite no
sistema de pagamento instantâneo, permitindo que ele reduza ou aumente o valor
disponível para realizar transações e pagamentos.
"A medida é importante para
auxiliar o cliente em sua gestão e controle de transações no Pix. A
funcionalidade está disponível no internet banking e nos aplicativos bancários
na área 'Meus Limites Pix.' Com ela, o cliente poderá revisar e configurar o
valor mais adequado para suas transações financeiras do dia a dia", disse
à BBC, em nota.
Para se proteger depois que o
aparelho foi roubado
1. Bloqueie a
linha
Antes de ligar no banco, realizar
um boletim de ocorrência ou qualquer outra ação, ligue na operadora e bloqueie
a linha. É isso que impedirá o criminoso de fazer qualquer tipo de ligação ou
receber SMS. Anote o número de protocolo que confirma o pedido de bloqueio.
2. Bloqueie
as operações bancárias
Depois, ligue no banco para
solicitar o bloqueio de todas as operações por via móvel ou computador.
"Só esses dois passos já
apresentam uma dificuldade enorme para os criminosos, que muitas vezes passam
para o próximo aparelho", afirma o especialista.
3. Apague os
dados do celular
Ainda que o aparelho não tenha
sido roubado com a tela desbloqueada, o primeiro passo é apagar os dados dele.
Se o seu aparelho for Android, há quatro opções para fazer isso:
- Use a página do Google
"Encontre Meu Dispositivo";
- Acesse o aplicativo
"Encontre Meu Dispositivo" por outro aparelho;
- Procure a seção "Minha
Conta" do Google;
- Faça uma busca no Google por
"Encontre Meu Dispositivo".
Já se o celular for um iPhone,
que usa o sistema iOS, use o site iCloud (acessível por qualquer navegador de
internet) ou então o aplicativo Busca, caso tenha algum outro aparelho da
Apple, para apagar os dados.
4. Recupere
suas contas
O especialista recomenda, em
seguida, trocar suas senhas dos aplicativos e verificar quais são os
dispositivos conectados naquela conta - como de email, por exemplo. Aí, desconecte
essas contas do aparelho roubado.
Como a troca de senha pede SMS, é
importante estar com um novo chip.
5. Faça um
boletim de ocorrência
É importante fazer todos os
processos descritos acima antes de ir à delegacia, dado o tempo que a vítima
pode levar para fazer o boletim de concorrência - horas que podem servir para
que a quadrilha avance no roubo de dados.
Caso o criminoso tenha tentado aplicar
golpes por meio de suas redes sociais, é importante compartilhar essas
informações com a polícia.
"Claro que há de se
considerar a possibilidade de o criminoso estar utilizando um CPF que não lhe
pertence e uma conta corrente fraudulenta, mas ainda assim, para a denúncia,
todo e qualquer dado pode ser relevante e merece ser reportado, já que tais
informações associadas a outras igualmente relevantes e objeto de denúncias
realizadas por outras vítimas podem contribuir para identificação do crime",
instrui a advogada Alessandra Borelli, CEO da Opice Blum Academy, empresa
especializada em conhecimento em direito digital e proteção de dados.
Devo pedir ao banco para
ressarcir valores se criminosos acessarem minha conta?
O Idec (Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor) entende que é falha no serviço dos bancos e instituições
financeiras possuírem brechas na segurança que permitam que golpistas e
fraudadores cometam diversos atos prejudiciais aos consumidores.
"O Artigo 14 do código
defesa do consumidor estipula que os prestadores de serviço, como são as
instituições financeiras, são responsáveis pela reparação de danos causados por
defeitos nos seus serviços - e um criminoso conseguir acessar o aplicativo é
considerado, nesse caso, um defeito de segurança. O artigo prevê garantia para
o consumidor sem a necessidade de comprovar qualquer tipo de culpa",
argumenta Fabio Pasin, advogado do Idec e pesquisador da área de serviços
financeiros.
O instituto indica que é possível
registrar uma reclamação na ouvidoria do banco. Se não conseguir solucionar o
problema, a próxima opção é buscar o Procon de sua cidade para que o órgão
medie a recuperação dos valores perdidos. Além disso, há a opção de registro de
reclamação no Banco Central.
Se instituição financeira criou
obstáculos para o cancelamento de transações ou passou a cobrar de você valores
decorrentes de cartão de crédito ou empréstimo fraudulento após sua comunicação
com a empresa, o Idec aponta que a melhor opção pode ser o ingresso na Justiça.
"Essa é a nossa
interpretação [do Idec] e há eventuais decisões contrárias no judiciário. Mas
há base legal para que o consumidor acesse a justiça e peça o
ressarcimento", indica Pasin. (BBC)
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