Globalmente,
acredita-se que uma em cada cinco mortes se deve a uma má alimentação, e o
papel dos alimentos ultraprocessados tem chamado bastante atenção em vários
estudos nos últimos anos.
O
termo "alimentos ultraprocessados" começou a ser usado há apenas 15
anos para permitir que os pesquisadores investiguem o efeito do processamento
de alimentos na saúde.
Esta
nova revisão, chamada "guarda-chuva", analisou vários estudos
recentes — que envolveram quase 10 milhões de pessoas —, reunindo grande parte
dos dados disponíveis e fornecendo uma imagem geral de como os ultraprocessados
afetam a nossa saúde.
Os
resultados relacionam o consumo de grandes proporções de ultraprocessados na
dieta com consequências negativas para a saúde e morte precoce devido a uma
série de condições, incluindo doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e problemas
de saúde mental.
As
dietas que contêm altas proporções de ultraprocessados são, sem dúvida,
prejudiciais à saúde, e o novo estudo respalda a relação deles com uma ampla
variedade de doenças. Mas ainda há dúvidas sobre os mecanismos específicos
pelos quais estes alimentos nos deixam doentes.
Os
pesquisadores propuseram vários mecanismos ao longo dos anos. Entre eles, o
baixo valor nutricional, uma vez que alguns ultraprocessados podem ser ricos em
gordura, açúcar e sal, pobres em fibras e deficientes em vitaminas, minerais e
antioxidantes essenciais.
Outros
mecanismos incluem a falta de estrutura e textura, o que acelera o consumo,
aumenta os níveis de açúcar no sangue — e é menos eficaz na redução do apetite.
Muita atenção também tem sido dada aos aditivos e outras substâncias químicas, sejam
adicionados aos alimentos, ou como contaminantes das embalagens ou do ambiente.
A qualidade das evidências varia
Um
aspecto interessante desta revisão é o fato de que a força dos resultados varia
entre os estudos — e algumas das correlações são fracas. Isso provavelmente se
deve em parte à ampla variedade de alimentos contidos na categoria
ultraprocessados.
Pela
definição, são alimentos que podem conter aditivos e substâncias químicas — e
são intensamente processados usando ingredientes refinados e reconstituídos,
com os quais os consumidores podem não estar familiarizados.
Isso
abrange alimentos tão diversos quanto sorvete, salgadinhos, pão de forma
integral, carnes processadas e margarinas com baixo teor de gordura. Esses
alimentos tão diferentes, contendo ingredientes e valor nutricional bastante
distintos, provavelmente vão ter efeitos bem diferentes na nossa saúde.
Outro
fator importante para considerar é que estas pesquisas são grandes estudos a
nível populacional, em que milhares de pessoas registram seu consumo alimentar
habitual e sua situação de saúde. A análise leva em conta ("ajustes para")
vários fatores, como idade, gênero e estilo de vida, que podem distorcer os
dados.
No
entanto, os resultados só podem mostrar uma relação entre consumo alimentar e
saúde. Eles não fornecem evidências diretas dos mecanismos envolvidos.
Precisamos urgentemente de novas pesquisas para compreender como e por que
certos alimentos podem causar problemas de saúde.
Embora
alguns estudos direcionados sejam possíveis, os efeitos a longo prazo sobre a
saúde, por exemplo, do consumo de níveis elevados de aditivos podem ser
difíceis e eticamente questionáveis.
Mas
existe uma oportunidade aqui para investigar estes efeitos mais detalhadamente
utilizando dados existentes.
À
medida que mais estudos são publicados, a quantidade de dados deve certamente
nos permitir focar em diferentes formas de ultraprocessados para identificar os
melhores e os piores.
Dada
a enorme quantidade de dados na revisão guarda-chuva, seria interessante
extrair alguns dados mais precisos para ajudar a identificar quais alimentos
devemos evitar.
Hora de aprofundar
Existe
uma enorme variedade de alimentos contidos na categoria ultraprocessados, com
uma variedade igualmente diversificada de valores nutricionais.
O
pão de forma integral é classificado como ultraprocessado, assim como o
sorvete, o biscoito recheado e os salgadinhos. Por isso, é altamente provável
que diferentes ultraprocessados tenham uma ampla variedade de efeitos na saúde.
Além
disso, estudos em que seres humanos são alimentados com comidas ou ingredientes
específicos de forma controlada, assim como análises estatísticas mais
detalhadas de estudos existentes, devem nos ajudar a identificar que
ultraprocessados evitar, quais são seguros e quais podem até ser benéficos,
como parte de uma dieta saudável e equilibrada.
Uma
coisa é certa: estes estudos devem ajudar a basear orientações sobre como
reduzir o consumo de ultraprocessados que são claramente prejudiciais à saúde.
Por
outro lado, deveríamos também tentar identificar quais os aspectos destes
alimentos que são mais perigosos, para que os fabricantes de alimentos possam
eliminá-los das nossas dietas, como foi alcançado com ingredientes
prejudiciais, como gorduras trans e alguns corantes artificiais.
Muita
gente depende fortemente de alimentos comerciais e processados, e precisamos de
garantir que, no futuro, estes alimentos sejam seguros e nutritivos,
especialmente para os grupos mais pobres e vulneráveis.
*
Pete Wilde é pesquisador de biociências no Instituto Quadram, do Reino Unido,
que realiza pesquisas nas áreas de alimentação e saúde.
(Fonte: BBC)
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