terça-feira, 30 de abril de 2024

PEDRO MARIANO - Dom José Tupinambá da Frota: O legado de um líder religioso



Dom José Tupinambá da Frota, nascido em 10 de setembro de 1882 e falecido em 25 de setembro de 1959, é reverenciado como o primeiro bispo da cidade de Sobral e um dos principais impulsionadores do seu desenvolvimento religioso, sociocultural, econômico e educacional. Sua vida e obra deixaram uma marca indelével não apenas em Sobral, mas em todo o Brasil.

Filho de Manoel Artur da Frota (1852-1928) e Raimunda Artemísia Rodrigues Lima (1855-1936), Dom José iniciou seus estudos primários na cidade de Natal (RN), posteriormente completando o curso secundário no seminário de Salvador (BA). Sua busca pelo conhecimento o levou à renomada Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, onde obteve os graus de doutor em Teologia e Filosofia, em 1902. Após sua ordenação como presbítero, em Roma, em 29 de outubro de 1905, ele retornou ao Brasil e chegou a Sobral para auxiliar seu amado tio, padre Diogo da Frota, então pároco.

Em 1907, a convite de Dom José de Camargo Barros, Dom José lecionou Teologia Dogmática, Ética e Liturgia no Seminário da Ipiranga, em São Paulo. Sua dedicação e excelência acadêmica chamaram a atenção, consolidando sua reputação como um erudito respeitado.

Retornando ao Ceará em 1908, Dom José foi nomeado vigário de Sobral por Dom Joaquim José Vieira, ilustre bispo do Ceará. Essa nomeação foi um marco significativo em sua trajetória, pois Sobral não era apenas uma cidade importante para a região, mas também o berço da família Frota.

Dom José, jovem (Jornal Correio da Semana)

Com o passar dos anos, Dom José Tupinambá da Frota ascendeu na hierarquia eclesiástica, tornando-se conhecido como Príncipe da Igreja Católica e sendo elevado ao título de Bispo-Conde.

LEGADO HISTÓRICO

A história de Sobral e da região do Vale do Acaraú é profundamente marcada pela figura de Dom José Tupinambá da Frota, um líder religioso cujo legado perdura até os dias de hoje. Fundador da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e responsável por inúmeras obras de caridade e desenvolvimento social, Dom José deixou uma marca indelével na comunidade que ele tanto amava.

Dom José dedicou sua vida ao serviço de Deus e de seu povo. Sua obstinação e determinação o levaram a fundar várias paróquias e ordenar inúmeros padres ao longo de seus 50 anos de administração eclesiástica, dos quais cinco anos foram como pároco e 43 como bispo.

Entre suas realizações mais notáveis, destacam-se a construção da Santa Casa da Misericórdia de Sobral, do Seminário Diocesano da Betânia, do Colégio Sant'Ana, do Colégio Sobralense, Abrigo Coração de Jesus, Banco Popular de Sobral e o Jornal Correio da Semana, que atualmente é o mais antigo jornal do Ceará em circulação, e o segundo do Nordeste. Além disso, foi por sua iniciativa que em 1953 foi construído o Arco de Nossa Senhora de Fátima, um marco religioso e cultural na cidade.

O compromisso de Dom José com as causas sociais era evidente em todas as suas ações. Ele dedicou tempo e recursos para ajudar crianças em situações vulneráveis, oferecendo abrigo, alimentação e oportunidades educacionais para aqueles que mais precisavam. Sua benevolência se estendia a pessoas de todas as idades, encorajando-as a abandonar os prazeres mundanos e buscar uma vida mais digna e plena.

A generosidade e o compromisso de Dom José conquistaram o coração dos cidadãos sobralenses, que o reverenciavam como um verdadeiro benfeitor da comunidade. Seu falecimento, em 25 de setembro de 1959, foi profundamente lamentado por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

Seus restos mortais repousam na Catedral de Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, a Sé de Sobral, um local sagrado onde sua memória é honrada e seu legado celebrado. O epitáfio em mármore na Capela do Santíssimo Sacramento, que contém as palavras "Ad pedes Domini pie requiescat" - "deixe-o descansar aos pés do piedoso Mestre" - é um testemunho da devoção e admiração que ele inspirou em vida e continua a inspirar após sua morte.

HOMENAGEM


Francisco Santamaria Mont'Alverne Parente (foto) tem como seu tio-avô o renomado Bispo Dom José Tupinambá da Frota, ao qual dedicou um artigo autoral reverente em sua homenagem:
 

DOM JOSÉ TUPINAMBÁ DA FROTA

"O dia de hoje, 10 de setembro, assinala a data de nascimento de Dom José Tupinambá da Frota (1882-1959), que foi o primeiro Bispo de Sobral, cidade onde nasci. Dom José era meu tio-avô pelo lado paterno. 

Resolvo, portanto, homenageá-lo neste espaço que idealizei, no transcurso da significativa data. Apesar de minha tenra idade de quatro anos, retenho na memória alguns gratos momentos da histórica efeméride comemorativa do jubileu de ouro sacerdotal de meu tio-avô, cujo registro ficou assinalado com um belíssimo hino, com música do renomado maestro Ciro Ciarlini e letra do culto sacerdote Padre Marconi Freire Montezuma (1925-1990), objeto de minha seleção musical no vídeo que ora encaminho. 

Recordo com uma inefável saudade esse Congresso Diocesano, que assume em meu ser um benfazejo arquétipo que tanto marcou minha distanciada infância. Ainda guardo na memória o grande, belo e majestoso palanque armado na Praça Duque de Caxias, também conhecida por Praça do Siebra, em Sobral, onde foram celebradas várias missas. 

Solenidades diversas também integraram as homenagens especiais que o operoso servo de Deus merecidamente recebeu no mesmo logradouro público durante o inesquecível evento, que contou com a presença de vários dignitários da Igreja Católica, dentre os quais o insigne Núncio Apostólico no Brasil, o Arcebispo italiano Dom Armando Lombardi (1905-1964). 

Dom José Tupinambá da Frota teve seu caráter de pétrea e vertical retidão moldado no cadinho de um lar de plácida e serena honradez, na feliz companhia de seus quatro irmãos, Isabel Natércia da Frota (1881-1968), Úrsula 'Ursulita' Adelaide da Frota (1885-1926), Adalgisa Frota Parente (1889-1969), minha querida e saudosa avó paterna, e Francisco Potiguara da Frota (1891-1948), recebendo sólida educação dentro dos comezinhos e basilares princípios da fé cristã, que nele fez brotar sentimentos profundamente religiosos e arraigada convicção católica. 

Homem de invulgar tirocínio e empreendedor por excelência, dotado de uma operosidade verdadeiramente espantosa, com a visão sempre direcionada para o futuro, foi o responsável pela fundação de diversas instituições que muito contribuíram para o engrandecimento de sua terra. 

Destaco o Seminário Diocesano da Betânia, que hoje sedia a Universidade Vale do Acaraú - UVA, a Santa Casa de Misericórdia, o Colégio Sobralense, o Colégio Sant'Ana, o Patronato Maria Imaculada Conceição, o Abrigo Coração de Jesus, a Escola Industrial Doméstica e o Banco Popular de Sobral. 

Também fundou o Jornal "Correio da Semana", o mais antigo periódico ainda em atividade no Estado do Ceará. Dedicou-se com meticuloso empenho em criar e organizar o Museu Diocesano, que hoje recebe seu venerável nome e que chegou a ser classificado pelo historiador, escritor e advogado Gustavo Barroso (1888-1959), membro da Academia Brasileira de Letras, como o quarto na ordem de importância em arte sacra no Brasil. 

Ordenou quase uma centena de sacerdotes - precisamente noventa e oito -, todos com sólida formação humanística. 

Poliglota, dominava nove línguas: Português, latim, italiano, espanhol, francês, inglês, alemão, grego e hebraico. Foi agraciado pela Santa Sé com os títulos honoríficos de Prelado Doméstico, Assistente ao Sólio Pontifício e Conde Romano, como reconhecimento por seus relevantes serviços prestados ao Cristianismo. 

Escreveu três livros: 'História de Sobral', 'Traços Biográficos de Manuel Arthur da Frota' (seu genitor) e 'Efemérides de Minha Vida', publicado postumamente. Espírito de acendrado sentimento religioso, costumava afirmar que 'um dia sem Eucaristia é um dia sem sol'. 

O notável historiador sobralense Padre Francisco Sadoc de Araújo, nascido em 1931, assim descreveu, com lúcida e aguda percuciência, a personalidade do grande Bispo:

'Dom José era um homem polimorfo e, por isso, quase completo. Ríspido nas reprimendas contra o erro e brando na intimidade da família e dos amigos. Severo no cumprimento do dever e risonho nas horas do lazer. Intransigente diante da dignidade e da honra, tolerante diante da fraqueza humana. 

Hierático e principesco nas funções litúrgicas, simples no dia a dia de casa e no trato com os humildes. Sério na conversação formal, chistoso nos momentos do humorismo e da anedota. Fidalgo no filhamento, apurava a boa prosápia no sangue e os brasões de família. Cavalheiro no porte, nobre nas ações, aristocrático nas atitudes. Prezava o respeito à palavra empenhada, o cumprimento fiel do juramento, a lealdade à promessa, a firmeza do caráter. Amante das tradições, era infenso às mudanças e tardo em aceitar inovações. Defendeu denodadamente a veste talar dos sacerdotes, o feitio clerical do apostolado, o latim na liturgia e o canto gregoriano... 

Homem de Deus, tinha o zelo pelas coisas sagradas e fez da oração um dos esteios de sua vida. ... Diariamente fazia as orações da manhã e da noite ajoelhado diante do Sacrário da capelinha da residência episcopal. A celebração diária da missa a fazia com tal atenção e recolhimento como se a fizesse sempre pela primeira vez. Todas as noites rezava o terço do rosário em homenagem à Mãe de Deus, a quem dedicava devoção toda especial'. 

O valoroso intelectual conterrâneo Raimundo Eufrásio de Oliveira, irmão do saudoso Monsenhor Gonçalo Eufrásio de Oliveira, definiu Dom José como "a mais estupenda estrutura cristã que já se viu no Ceará, neste século (esclareço que se trata do século XX), e que haverá de continuar difundindo os seus ensinamentos e a força do seu exemplo pelos séculos que se sucederão num caleidoscópio de vitórias e conquistas para a terra cearense e para o benefício de toda a cristandade nordestina". 

Em 1923, Dom José foi nomeado Bispo de Uberaba, nas Minas Gerais, ali permanecendo até o ano seguinte, quando reassumiu a Diocese de sua querida cidade de Sobral. Ele foi o segundo Bispo de Uberaba. 

Sua morte, que tanto enlutou Sobral, ocorrida na noite de 25 de setembro de 1959, aos setenta e sete anos de idade, chegou a ser noticiada e pranteada pela lendária, sóbria, mítica e prestigiosa Rádio BBC de Londres, prova inequívoca do inconteste respeito e do alto conceito internacional que soube usufruir, mesmo por parte de países do primeiríssimo mundo e de maioria não católica, como no caso da gélida e austera Inglaterra do anglicanismo do Rei Henrique VIII (1491-1547), em época anterior - convém mencionar para que melhor fique acentuado o real valor de nosso prelado - ao Concílio Ecumênico Vaticano II, que, sob a lúcida e pertinente iniciativa de 

Sua Santidade o Papa João XXIII (1881-1963), aproximou e irmanou as religiões de todo o mundo. Dom José Tupinambá da Frota foi realmente uma pessoa que se postou além de seu tempo, posicionando-se como um extraordinário vanguardista, pela intimorata ousadia que sempre teve em assumir empreendimentos de largo espectro social, que vieram impulsionar, de maneira decisiva e irreversível, o desenvolvimento de nossa acolhedora Sobral, a simpática 'Princesa do Norte'." 

(*) Pedro Mariano - Membro Imortal da Academia Massapeense de Letras e Artes (AMLA), Acadêmico de Contabilidade, Pesquisador, Crítico Literário e Escritor de Artigos.

 

 

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