O governador do Estado, Tarcísio de Freitas, decretou situação de emergência, por 180 dias nos municípios afetados. Segundo o governo estadual, 15.335 pessoas estão envolvidas nos trabalhos de combate às chamas e orientação à população. Um gabinete de crise e um posto avançado de emergência foi montado em Ribeirão Preto.
O
governador disse à Globo que no momento não há mais nenhum foco de incêndio.
Algumas rodovias que haviam sido bloqueadas pela fumaça já foram liberadas.
Autoridades
estaduais e federais têm dito que suspeitam que os incêndios estão
sendo provocados por criminosos. Foram abertos inquéritos para investigar as
causas do incêndio, mas as autoridades não revelaram possíveis motivos. Três
pessoas já foram presas.
A
suspeita é que os incêndios aconteceram de forma simultânea em lugares
distintos — o que só poderia ser provocado por uma ação organizada, segundo o
governo.
A
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo investiga se esses
episódios são semelhantes ao "dia do fogo", quando incêndios
florestais foram provocados por criminosos em agosto de 2019 nos municípios de
Altamira e Novo Progresso, no Pará.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em postagem na plataforma X que se
reuniu com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e com Marina Silva no
domingo (27/8) e que ouviu de Agostinho que "não há, até agora, nenhum
incêndio detectado por causas naturais".
"Significa
que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os Estados do
país já estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo. Já são cerca de 3 mil
brigadistas em todo o Brasil trabalhando para combater os focos de fogo. A Polícia
Federal vai investigar e o governo vai trabalhar com os estados no combate aos
incêndios", disse Lula no X.
A
ministra Marina Silva também disse que suspeita que os incêndios possam ser
criminosos.
"Tem
uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois
dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa
curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do
fogo", disse a ministra.
"Em
São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que, em poucos dias, você tenha
tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios. Mas
obviamente isso aí são as investigações que vão dizer."
A
Polícia Federal abriu dois inquéritos para investigar os incêndios no interior
de São Paulo.
O
governo do Estado de São Paulo também anunciou que a Polícia Civil está
mobilizada para investigar todas as ocorrências de incêndio criminoso no
estado, especialmente as que ocorrem nas regiões afetadas pelas queimadas.
A
polícia de São Paulo prendeu três pessoas. Na manhã de domingo, um homem de 42
anos foi denunciado por moradores após atear fogo em uma área de mata em
Batatais, na região de Franca.
Segundo
nota do governo do Estado, a Polícia Militar chegou ao local quando as chamas
já estavam alastradas e capturaram o criminoso, que havia tentado fugir. O
homem tem passagens na polícia por roubo, furto, homicídio e posse de droga.
Já
em São José do Rio Preto, um idoso de 76 anos foi detido após atear fogo em
lixo, em uma área de mata na manhã de sábado.
A
polícia também investiga outro caso no mesmo município, em que imagens de redes
sociais mostram um motociclista que teria ateado fogo em uma área de mata.
Uma
terceira prisão, na cidade de Porto Ferreira, foi anunciada pelo governador
Tarcísio de Freitas em entrevista para a Globo.
"São
pessoas que portavam gasolina e estavam realmente ateando fogo de forma
criminosa", explicou.
Fumaça
e ventos
Em
São Paulo, a situação se agravou na última sexta-feira (23/8), quando o Estado
registrou 1.886 focos de queimadas — mais dos que os 1.666 registrados durante
todo o ano passado. Em relação ao mesmo mês no ano passado, o aumento foi de
mais de 880%.
Dois
funcionários de uma usina em Urupês, região metropolitana de São José do Rio
Preto, morreram enquanto combatiam as chamas.
O
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informa que o Brasil registra
4.928 focos de calor.
Isso
significa que apenas o Estado de São Paulo respondeu por 38% de todas as
queimadas do país, conforme mostra comparativo feito pela empresa de
meteorologia MetSul.
"A
fumaça vêm sendo transportadas pelos ventos. A condição de tempo seco nos
últimos dias, somada ao efeito de aproximação de uma frente fria, que alinha os
ventos de noroeste para sudeste e os deixa mais intensos, têm favorecido a
propagação e proliferação de queimadas, bem como dificultam qualquer tentativa
de combate”, explica Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
"Estamos
em um ano em que as chuvas estão abaixo da média, o que significa que há menos
umidade disponível para a vegetação, e o clima fica mais quente. Com essas
condições o fogo se alastra rapidamente, mas o maior responsável por esse
expressivo número de queimadas é o ser humano."
Efeitos
nocivos à saúde
As
queimadas liberam substâncias perigosas para a saúde humana e animal.
De
acordo com pneumologistas consultados pela BBC News Brasil, a fumaça contém
materiais tóxicos, como dioxinas e metais pesados, além de partículas finas que
podem ser inaladas, causando problemas respiratórios graves, sobretudo para
quem já tem doenças pré-existentes.
Gases
tóxicos, como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, também são liberados,
aumentando o risco e agravando doenças pulmonares e cardiovasculares.
Os
poluentes podem se espalhar por grandes distâncias, impactando a saúde em
regiões distantes de onde os incêndios ocorreram.
"As
partículas finas e os elementos químicos presentes na poluição ultrapassam as
células pulmonares [alvéolos] e entram na circulação sanguínea, sendo
distribuídos por todo o corpo. Isso causa inflamação nos vasos sanguíneos,
aumentando o risco de pressão alta, arritmias e até infarto agudo do
miocárdio", afirma Mauro Gomes, pneumologista e membro do Departamento de
Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
(FCMSCSP).
"Portanto,
a poluição prejudica não apenas os pulmões, mas também o coração e a
circulação", segue Gomes.
Quanto
mais próxima de pessoas que estiverem no centro de queima, maior o risco de
inalação.
"Pessoas
com doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema, rinite, rinossinusite ou
problemas cardiovasculares, são especialmente vulneráveis à inalação de fumaça.
É crucial monitorar esses grupos nas semanas e meses seguintes, pois os efeitos
inflamatórios podem surgir com atraso, agravando outras condições
crônicas", explica Ubiratan Santos, pneumologista e membro da SBPT
(Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).
Mas
quem não tem doenças subjacentes também pode sofrer os efeitos, que incluem
olhos vermelhos e irritação nos olhos, nariz e garganta.
Os
especialistas aconselham evitar a exposição desnecessária à fumaça, ficando em
ambiente fechado quando possível, e ao sair na rua, usar máscara (especialmente
o modelo N95, que se tornou popular durante a pandemia de covid, por sua
capacidade de filtrar partículas finas).
"Em
relação à proteção em casa, as janelas e portas devem ficar fechadas, e mesmo
assim pode ser difícil impedir completamente a entrada de ar poluído,
especialmente se houver frestas", afirma Gomes.
O
médico recomenda usar umidificador, ou, na falta do acessório, bacias de água e
panos molhados pela casa. Outras recomendações para quem mora em áreas afetadas
estão listadas abaixo.
(Fonte:
BBC)
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