Em
1922, ano em que foi comemorado o 1º Centenário da Independência do
Brasil, ocorreu no Rio de Janeiro, então capital federal, uma grande feira
internacional sobre radiodifusão.
Na
ocasião, Roquette-Pinto comemorou a tecnologia afirmando que aquela era
"uma máquina importante para educar o povo".
Para
a jornalista e radialista da EBC Mara Régia, Roquette foi um
sonhador que nos idos de 1923 idealizou o rádio como a escola dos que não
tinham acesso a ela.
"Seu
desejo e sua persistência em permitir o acesso de toda a população brasileira a
uma forma de educação acessível se traduzem hoje na missão das rádios públicas
desse nosso país, unidas cada vez mais por uma comunicação democrática e plural
como é o caso das emissoras de rádio da nossa Empresa Brasil de
Comunicação (EBC)", destaca Mara, apresentadora dos programas Viva Maria e Natureza Viva.
Projetos
Em
20 de abril de 1923, Roquette fundou a primeira emissora oficial do país, a
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Os equipamentos foram comprados pela
Academia Brasileira de CIências. O projeto era levar informação educativa,
cultural e científica à população.
Em
1952, com a finalidade de ampliar o número de emissoras na capital federal
- as TVs Tupi de São Paulo e do Rio já estavam em funcionamento -, Getúlio
Vargas concedeu a Roquette-Pinto um canal de televisão.
Porém,
a TV Educativa de Roquette-Pinto nunca saiu do papel. Edgard Roquette-Pinto
morreria amargurado dois meses após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
Legado
Três
anos depois de fundar a Rádio Sociedade, Roquette-Pinto lançou a
revista Eléctron, dedicada à recém-surgida tecnologia do rádio com
diagramas de receptores da época. Foi a primeira revista desse segmento no
Brasil. Em 1936, ele doou a emissora ao governo brasileiro, especificamente ao
Ministério da Educação, transformada então na Rádio MEC.
Roquette-Pinto
também foi radioamador e participou de várias associações da categoria,
como a Liga dos Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (Labre).
Na Academia
Brasileira de Letras (ABL), Roquette-Pinto foi o terceiro ocupante da Cadeira
17, eleito em 20 de outubro de 1927, na sucessão de Osório Duque-Estrada.
Ele
também é homenageado pela Academia Brasileira de Médicos Escritores como
patrono da Cadeira 33, cujo fundador é o médico paulista Helio Begliomini.
Pesquisadores
apontam o envolvimento de Roquette com o movimento eugenista, mas ponderam que
ele defendia a inclusão negros e mestiços do processo de
"aperfeiçoamento" da nação brasileira.
Censura
Em
1936, os aparelhos de rádio já podiam ser comprados em lojas do
ramo. Nesse mesmo ano, a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro foi doada ao
Ministério da Educação e Saúde, que tinha como titular Gustavo Capanema.
Ele
comunicou a Roquette-Pinto que a rádio seria incorporada ao Departamento
de Propaganda e Difusão Cultural (mais tarde, em 1939, desse departamento
surgiria o DIP), órgão responsável pela censura durante parte do governo de
Getúlio Vargas.
Em
resposta, Roquette-Pinto insistiu que emissora fosse incorporada ao
Ministério da Educação e Saúde, a fim de preservar a função educativa e
ganhou a disputa. A Rádio Sociedade passou a se chamar Rádio Ministério da
Educação ou, como é hoje conhecida, Rádio MEC, mantendo, até
hoje, o ideário educativo.
A Rádio
MEC é reconhecida pelo público por sua programação dedicada à música
clássica e programas culturais. A emissora dedica 80% de sua programação à
música de concerto e leva ao ar compositores brasileiros e internacionais
de todos os tempos. Desde 2007, ela é gerida pela Empresa
Brasil de Comunicação (EBC). Em 5 de julho de 2022, ela foi
declarada Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial do Rio de Janeiro.
“Toda
essa história é marcada por grandes coberturas, valorização da cultura e da
educação e programação musical que privilegia a cena brasileira”, destaca o
gerente executivo das Rádios EBC, Thiago Regotto.
Análise
O
professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB)
Fernando Oliveira Paulino, que também é presidente da Associação
Latino-americana de Pesquisadores da Comunicação Pública (Alaic), disse que
ainda hoje, passados mais de 100 anos, o rádio que teve Roquette-Pinto como
pioneiro continua sendo grande mecanismo de comunicação, de acesso
à tecnologia, de formação do conhecimento.
“Ao contrário do que muitos pensam, o rádio continua bastante vivo e seguirá certamente usando outras plataformas. Começou com AM, depois FM, depois surgiu o rádio digital. Hoje em dia, a internet, alcançando grande público, setores diferenciados, atuando em situações de necessidade, como o que ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul, e agora com a seca e as queimadas, demonstra a importância do rádio como mecanismo do processo de informação”, afirmou.
Paulino citou também algumas especificidades na programação de cada emissora. No caso da Rádio MEC, segundo ele, há um ativo bastante significativo em relação ao acesso à cultura, à programação musical. Ele lembrou também a força da Nacional do Rio de Janeiro, emissora, fundada em setembro de 1936, que deixou um legado em relação aos noticiosos, à música popular brasileira e a tantas pessoas que passaram pela maior emissora da América Latina.
O
pesquisador destacou os programadores e intérpretes, nas ondas
da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que compõem ainda a
comunicação pública e fazem parte desse patrimônio nacional. "Acho que é
essencial valorizar as pessoas que já passaram, que passam e que passarão pelos
corredores históricos dessas emissoras que alcançam não só o Rio de Janeiro,
mas especialmente pela internet o mundo inteiro".
(Ag.
Brasil)
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