“A muié do cumpade”
Nos anos 1982/1984, como funcionário do Banco do Brasil de Pedreiras (MA), tomei conhecimento de um curto e curioso episódio, digno de sério questionamento quanto à relação médico-paciente. Mesmo ocorrido há tanto tempo, e tendo muita coisa mudado de lá pra cá, creio que conhecê-lo será benéfico. Parece até piada, mas não é. Vamos, então, ao caso.
Depois de enfrentar péssimas estradas num pau-de-arara lotado e aos pedaços, um humilde agricultor chega num arremedo de hospital de um pequeno município daquele grande Estado. Para buscar ajuda, era o local mais próximo do seu longínquo e desprezado povoado.
Além
de trazer consigo uma mulher com dores quase insuportáveis, teve, ainda, de
enfrentar o mau humor do organizador da fila. Este demonstrava, naquele local,
só ser menos importante que o médico. Mesmo assim, compadeceu-se da situação
daquela mulher e daquele homem. E, ignorando os xingamentos dos que há horas
aguardavam sua vez, introduziu os matutos no gabinete do doutor.
Ao entrar na salinha, o tímido casal foi logo intimidado pelo sisudo médico, que nem respondeu aos seus “bomrdias!”. Continuando de cabeça baixa e ignorando a presença do acompanhante, o doutor foi curto e grosso com a mulher: “Isso são lá horas de sentir dor assim? Vai logo tirando parte da roupa e se trepando naquela cama! Vou rapidinho ver dois pacientes noutras salas e já retorno”. Os matutos obedeceram.
Ao voltar, o médico encontrou a mulher seminua, tapando as “partes” com as mãos; o homem, de costas num canto e tapando os olhos com o chapéu. E um silêncio profundo reinando naquele cubículo.
Diante
da cena, o esculápio não se conteve e bradou: “Muuuuito bonito! Na alcova de
casa, vocês fazem toda sem-vergonhice, toda safadeza sem nenhuma cerimônia, né?
Mas aqui...”
E antes de ele concluir a frase, o matutou gritou do canto da parede, ainda de chapéu na cara e de costas: “Mas o poblema, doutô, é que essa muié aí não é a minha. Essa é a muié do meu cumpade. Só to aqui pruquê ele num pôde vim trazê ela, doutô!”
Pois é, caríssimo leitor! Independentemente de que você acredite ou não no relato acima, a ausência de mais conversa entre as partes mostra claramente uma falha clamorosa na relação médico-paciente que ainda hoje se constata. Isso é apenas um dos casos que confirma a necessidade de mais “HUMANIZAÇÃO” em muitos profissionais e também em entidades. Muitos outros casos poderiam aqui serem elencados, dentre os quais, desatenção ou tratamento descortês e, às vezes, até desumano com grávidas (parturientes), negros, idosos, deficientes e crianças, especialmente se essas pessoas pertencem à classe menos favorecida e que sejam pessoas iletradas ou tímidas.
Agora, uma justa e imprescindível ressalva: É muito reduzido o número de profissionais que na atualidade assim agem. Tem mais: já estão em fase de extinção graças ao exemplo de verdadeiros apóstolos da medicina e outros profissionais de áreas correlatas, além de campanhas encetadas por mais humanização nos hospitais.
O lamentável é que, demonstrando alguma deficiência de caráter, falta de humildade ou, o menos mal - uma profunda timidez - que é curável, alguns profissionais da saúde evitam o diálogo sincero e respeitoso, em que todos falam, e optam por um monólogo onde o anelado se autoproclama um “semideus”, favorecendo o aumento do medo do paciente e prejudicando a anamnese. E daí, passa a ver o enfermo como um frio número, como um mendigo que depende do seu possível e efêmero poder capaz de curar alguns males. Esquece-se, portanto, que está diante de alguém constituído de corpo, alma e com muitos sentimentos abalados pelo sofrimento. Sem dúvida, é uma clara confissão de debilidade moral, intelectual e cristã de tais profissionais. Dá até pena de quem assim se comporta.
E
por falar em “semideus”, noutra ocasião, fiz esse mesmo comentário na Coluna e
no rádio, o que resultou numa mensagem via Whatsapp (ainda arquivada) nada
educada de um conhecido profissional da saúde local, que sentiu ferida sua
sensibilidade. Nela, o “doutor” sugeriu que eu deveria conhecer melhor a
realidade dos profissionais da saúdem, afirmando e que eles não são semideuses,
não; são, sim, em muitos casos, deuses mesmo, incluindo no rol até quem
discorda completamente da sua afirmação. Da minha parte, ofereci-lhe espaço
aqui (Coluna) e no rádio para que ele ratificasse o que afirmara; pedi-lhe permissão
para publicar seu desabafo (rádio, jornal e Blog), mas ele não deu resposta e
preferiu o silêncio.
Pois bem, é direito, sim, de trabalhadores da saúde afirmarem que na atualidade dificilmente acontecem casos como o dos matutos maranhenses. Respeito a afirmação, mas não somente discordo deles como também, com base no que a mídia divulga, lembro que hoje também, acontecem até coisas piores. Mas insisto em destacar que é muito pequeno o número desses eventos, uma vez que é proporcional à quantidade de maus profissionais. E também é proporcional ao número de pacientes que desconhecem seus direitos ou, conhecendo-os, por eles não lutam.
Injustamente, muitos bons profissionais estão sendo confundidos e prejudicados. Mesmo tendo a prática da HUMANIZAÇÃO como algo inerente à própria personalidade, muitos deles vêm sendo equiparados aos demais e julgados de igual forma. É preciso e é dever de justiça fazer a distinção.
Infelizmente, muitos têm assimilado HUMANIZAÇÃO como se fosse algo que se implanta com reformas nas instalações prediais, como melhoria de espaços, climatização, informatização, equipamentos modernos, cartazes espalhados, jarro de flores, cafezinho, etc. Isso é importante; é, inclusive, necessário. Mas não passa de maquiagem.
No caso específico de hospitais, observa-se que muitos profissionais da saúde procuram manter estreito relacionamento com quase tudo do hospital, menos com o paciente. Debite-se a culpa primeiramente à formação familiar do profissional; em segundo lugar, às escolas médicas que ainda se esmeram muito em apenas capacitar profissionais para curar doenças. A solução seria capacitar, tanto em casa como na escola, para cuidar de “pessoas” que sofrem.
Muitas vezes, esse sofrimento é minorado ou até curado com um olhar generoso, de um aperto de mão, com uma palavra consoladora ou de estímulo ou, ainda, através de um simples cumprimento sincero e verdadeiro que faça quem se encontra debilitado pela enfermidade sentir-se gente.
Por fim, no meu entender, HUMANIZAÇÃO de verdade é algo que tem tudo a ver com gente. É algo feito por pessoas e para pessoas e que envolve sentimentos, como alegria, tristeza, dor, emoção, carinho, humildade, solidariedade, altruísmo... Enfim, atinge-se a plenitude da HUMANIZAÇÃO quando se procura cumprir o primeiro e mais importante Mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Lamentavelmente, muita gente só vai assimilar o que é a verdadeira HUMANIZAÇÃO e passar a praticá-la quando experimentar o sofrimento na própria pele ou na de algum ente querido. Para o bem de todos, sugiro que mude, enquanto é tempo. Só lembrando: 29 de novembro - Dia Nacional da Humanização. Pense nisso!
DOMINGO NA EDUCADORA FM 107,5 - SOBRAL-CE
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domingo (20) PROGRAMA ARTEMÍSIO DA COSTA
na Educadora AM 950. Notícias, reportagens, curiosidades, música de boa
qualidade. Entrevista, ao vivo, com Dr. DAVI HELDER DE VASCONCELOS Jr.
endocrinologista, que falará sobre Osteoporose, Diabetes, Tireoide, dentre
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