

Júnior
Teles (51) é contador no Tribunal Superior Eleitoral e tem deficiência
auditiva neurossensorial bilateral descendente, caracterizada pela dificuldade
em entender conversas paralelas e sons agudos. Ele usa Aparelhos de
Amplificação Sonora Individual (AASI) e faz leitura labial ao conversar com
outras pessoas. Júnior conta que comunicar que tem deficiência auditiva
tem facilitado a interação com os colegas.
“Passei
a usar aparelhos auditivos e essa acessibilidade tem me ajudado muito, embora
não resolva 100%. Então, como sabem que eu tenho perda, mas também sou bem
oralizado (não uso Libras), venho me adaptando bem aos ambientes de
trabalho, desde que não sejam locais ruidosos e com muitas pessoas falando
ao mesmo tempo.”
Amarildo
João Espindola é surdo, professor universitário e conduz o projeto Libras
em Cena, que oferece atividades que incentivam a integração entre surdos e
ouvintes, promovendo a inclusão e a capacitação artística por meio de
oficinas.
“Todas
as vezes que chegamos em qualquer ambiente que não tem intérprete de Libras ou
qualquer outro profissional fluente nessa língua, enfrentamos limitações,
barreiras. E no mercado de trabalho não é diferente.”
Ele
conta como as relações de trabalho podem ser impactadas pela falta de
acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva.
“A
questão é que trabalhar não está focado apenas nas atividades diretamente
realizadas, mas, em todo o contexto em que a pessoa está inserida: desde o
momento em que entra no local de trabalho, quando precisa resolver alguma coisa
administrativa, ou até mesmo de interação com os demais colegas.”
A
advogada trabalhista Iara Neves explica como a falta de integração
adequada do empregado com deficiência auditiva na empresa pode afetar o
convívio social desse profissional.
“A
falta de integração adequada do empregado surdo pode resultar em seu isolamento
do convívio social e esvaziamento da autonomia para executar as atividades,
ocorrendo, até mesmo, a subutilização das suas habilidades, ao atribuir funções
de baixa visibilidade e com poucas chances de desenvolvimento profissional.”
Caso
os direitos dos trabalhadores surdos não sejam cumpridos, existem alternativas
para contornar o problema, como conversar com os empregadores ou com o setor de
Recursos Humanos da empresa. A advogada sugere como os funcionários surdos
podem agir.
"Caso
as tentativas de diálogo não sejam eficazes, o empregado pode ingressar com uma
ação na Justiça do Trabalho. Se não tiver condições de contratar um
advogado para ajuizamento de reclamação trabalhista, ele poderá reclamar
pessoalmente perante a Justiça e acompanhar as suas reclamações até o
final, na condição de jus postulandi (sem a ajuda de um
advogado), prevista no artigo 791 da CLT.”
Estratégias
de inclusão
Para
o professor Amarildo João, estratégias de acessibilidade poderiam ser
implementadas para ampliar a inclusão de pessoas surda.
“É
preciso a capacitação das pessoas (ouvintes) em Libras e na cultura surda, a
fim de aproximar o mundo ouvinte do mundo surdo. Também é preciso que se
contrate ou que haja concursos para profissionais fluentes em Libras, como
tradutores e intérpretes, professores, advogados, médicos, secretários,
recepcionistas, porteiros, entre outros.”
As
práticas a seguir também podem promover a inclusão de pessoas com diferentes
tipos de deficiências auditivas:
Falar
com clareza e pausadamente (facilita o entendimento da pessoa com surdez
parcial).
Dirigir-se
diretamente à pessoa com deficiência auditiva, possibilitando a leitura labial.
Instalar
painéis e alarmes com aviso luminoso em locais de atendimento ao público,
facilitando a visualização de informações escritas.
(Ag. Brasil)
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