De acordo com dados da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% das pessoas
ocupadas em território nacional sofrem com a doença de ordem mental. O país
ocupa a segunda posição no ranking mundial de casos.
“Já há algum tempo o
aumento na frequência de afastamentos do trabalho vem sendo um tema do
capitalismo internacional. A OMS e a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), vêm apontando os transtornos mentais como um problema de risco no
trabalho na atualidade”, afirma a professora e pesquisadora Cláudia Osório, da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
A especialista em
psicologia e saúde de trabalhadores e trabalhadoras participou do mais recente
episódio do podcast Repórter SUS. Na conversa, ela ressalta o peso do pensamento neoliberal e das dinâmicas do capitalismo nessa
equação.
"O modo de pensar
neoliberal do capitalismo é claramente responsável pelo aumento da frequência
de depressão e burnout, principalmente. Mas temos também outras doenças
(associadas a esse cenário), como infartos do miocárdio, casos de morte súbita
nos corredores da empresa, suicídios de executivos na Europa em suas mesas de
trabalho. Tudo isso está no mesmo pacote".
Nas palavras da
professora, a gestão por metas - cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho
- tende a desconsiderar as condições reais da vida e do trabalho. "A tal
da política de excelência coloca uma situação em que as pessoas estão sempre
devendo em termos de bom desempenho no trabalho", pontua.
Os sintomas de burnout podem se manifestar de diversas formas e
impactam a saúde física, emocional e social. Na lista de sinais que exigem
atenção estão a sensação persistente de esgotamento e falta de energia,
dificuldade de concentração, irritabilidade e ansiedade.
Além disso, pessoas
acometidas pela doença podem apresentar alterações no sono, como insônia ou
sonolência excessiva, dores de cabeça frequentes, tensão muscular e problemas
gastrointestinais. O desinteresse pelas atividades laborais e a perda de
motivação também são comuns.
Em casos mais graves, o
burnout pode levar à depressão, isolamento social e pensamentos suicidas.
"Não é qualquer depressão, é um tipo muito específico; por isso, merece a
diferenciação. Não são os ossos do ofício. Não é normal que o trabalho leve alguém
a um ponto de esgotamento em que um fim de semana não te deixa descansado para
retomar na segunda-feira", alerta a pesquisadora.
O cinismo também é um dos
sintomas do burnout. Ele se manifesta em comportamentos de indiferença e
descaso pelo trabalho. Com o tempo, essa situação pode levar a uma perda total
de sentido na função exercida.
“Essa é uma
característica que pode até aumentar o preconceito, um tipo de depressão muito
focado no trabalho. A pessoa pode ter ânimo para ir ao cinema, estar com a
família, brincar com os filhos, e não ter ânimo para trabalhar. É um mecanismo
de defesa para a pessoa não desmoronar de vez", explica Cláudia
Osório.
A especialista afirma que
a solução para o problema está na garantia de
participação de trabalhadores e trabalhadoras e na coletividade. Segundo ela, é
necessário se pensar em novas relações de trabalho.
“Uma gestão mais
participativa de fato - não por enquete, não por pesquisas de clima, mas sim
participação de fato - é muito importante. Vemos sindicatos bem intencionados
querendo proteger a saúde de seus trabalhadores e brigando por atendimento
psicológico, terapia, psicoterapia. Muito mais importante é a mudança das
normas de trabalho, do grau de participação dos trabalhadores, da possibilidade
da existência de coletivos de trabalhadores fortes no dia a dia de
trabalho”.
*O Repórter SUS é uma
parceria entre o Brasil de Fato e a escola Politécnica de
saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. Novos programas são lançados
todas as semanas.
(Brasil de Fato)
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