Para
a pesquisa, o instituto Atlas entrevistou 817 pessoas entre os dias 11 e 13 de
fevereiro, recrutadas de forma aleatória na internet. A amostra foi depois
calibrada para refletir a composição demográfica da população adulta do Brasil.
A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para
menos, e o nível de confiança dentro da margem de erro é de 95%.
De
acordo com a série histórica da pesquisa Atlas, o auge da confiança dos
brasileiros nas Forças Armadas em tempos recentes aconteceu em abril de 2023,
quando 46% diziam confiar na instituição, e só 37% desconfiavam. Desde aquele
momento, a confiança na instituição só fez cair: 36% disseram confiar em julho
de 2023, e agora, 24%.
“O
principal, nessa piora recente, é que, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL)
houve toda uma polarização da imagem das Forças Armadas. Quem era bolsonarista
adorava os militares, e os via de forma positiva; e quem era de esquerda passou
a ter um certo desprezo pelos militares. Era uma polarização quase
metade-metade (...)”, avalia Andrei Roman, CEO da AtlasIntel.
“Na
medida em que o Exército e os militares ficaram cada vez mais calados, depois
que o Lula (PT) assumiu o governo, muitos bolsonaristas passaram a atacar o
comando das Forças e de desqualificá-los como traidores, dizer que eles não
tiveram coragem de se levantar para defender Bolsonaro (...). Essa imagem mais
negativa das Forças está cada vez mais enraizada entre os bolsonaristas, por
motivos diferentes dos da esquerda”, diz Roman.
Desde
janeiro de 2023, a imagem das Forças, especialmente do Exército, vêm sofrendo
com as investigações sobre a possível tentativa de golpe de Estado liderada por
Jair Bolsonaro e auxiliares seus, como o ex-ministro da Defesa Walter Braga
Netto – os dois negam que tenham tentado um golpe. De acordo com o ex-ajudante
de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-presidente articulou
a realização do golpe de Estado, que só não foi adiante porque não houve a
concordância do então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire
Gomes.
Numa
reunião com os comandantes das três Forças, Bolsonaro teria apresentado uma
minuta, isto é, um rascunho, de um decreto para a decretação do estado de
defesa. Freire Gomes recusou apoio, mas o então comandante da Marinha, o
almirante Almir Garnier, teria aquiescido, segundo a delação de Mauro Cid.
Tanto Garnier quanto Bolsonaro negam.
Outros
episódios menores também podem ter contribuído para arranhar a credibilidade
das Forças diante da população. Um exemplo é o vídeo institucional divulgado
pela Marinha do Brasil no começo de dezembro, comparando a vida de privações
enfrentada pelos militares com a suposta tranquilidade dos civis. “Privilégios?
Vem para a Marinha!”, dizia um trecho do spot publicitário. Como mostrou o
Estadão, o irmão do chefe do departamento responsável pelo vídeo, que também é
da Marinha, recebeu em dólares o equivalente a R$ 216,3 mil líquidos, entre
salário, verbas indenizatórias e gratificações.
Segundo
a pesquisa Atlas, a instituição que goza da maior confiança entre os
brasileiros no momento é a Polícia Federal (PF), com 53% dizendo confiar no
trabalho dela – outros 32% dizem não confiar e 15% dizem não saber. A Polícia
Militar vem em seguida com 50% de confiança, seguida do Supremo Tribunal
Federal (STF), que tem a confiança de 49% – outros 4% dizem não saber e 47%
dizem não confiar no trabalho do STF.
Já
as instituições menos confiáveis são o Congresso Nacional, com só 9% dos
brasileiros dizendo confiar no Poder Legislativo; e 82% dizendo não confiar. As
igrejas evangélicas só tem a confiança de 18% – 73% dizem não confiar nelas. As
prefeituras vêm em terceiro lugar, com só 24% dizendo confiar nelas, e 62%
dizendo não confiar. Outros 14 disseram não saber.
A
pesquisa Atlas também questionou os entrevistados sobre o apoio a medidas em
discussão no Congresso Nacional. A proposta com o maior apoio é o corte de
gastos públicos, que tem o endosso de 54% – só 28% são contra e 17% dizem não
saber. O público se divide a respeito da anistia de presos do 8 de janeiro, com
51% a favor e 49% contra. Só 32% são favoráveis a que os deputados federais e
senadores mantenham o controle sobre as emendas impositivas; e 83% são contra a
redução do prazo de inelegibilidade dos afetados pela Lei da Ficha Limpa.
(JB - Por André Shalders)
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