segunda-feira, 7 de julho de 2025

Nos Brics, Lula critica 'corrida armamentista' da Otan celebrada por Trump: 'Temor de catástrofe nuclear voltou'

No discurso de abertura da Cúpula dos Brics, neste domingo (6/7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e disse que o medo de uma "catástrofe nuclear voltou ao cotidiano".

"A recente decisão da Otan alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política", disse Lula.

"É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz", complementou.

A crítica de Lula foi em resposta à decisão da Otan, no final de junho, de aumentar os gastos em defesa dos países que fazem parte do tratado para 5% dos seus produtos internos brutos (PIB). A Otan é uma aliança militar composta por 32 países incluindo os Estados Unidos, Canadá e nações europeias.

A decisão aconteceu na primeira reunião da organização após a eleição do presidente americano Donald Trump. O aumento de gastos em defesa vinha sendo defendido por ele que, nos últimos anos, criticou os países europeus por supostamente gastarem pouco na área e deixarem os Estados Unidos como responsáveis por garantir a segurança da Europa contra ameaças estrangeiras.

O presidente dos EUA descreveu a decisão como uma "grande vitória para a Europa e... civilização ocidental".

Recentemente, a expansão da Otan em direção a países próximos à Rússia, como a Ucrânia, foi usada como um dos elementos por trás da invasão russa sobre o país europeu.

A Rússia é um dos membros fundadores dos Brics.

Em seu discurso, Lula também criticou o que classificou como a reciclagem de "velhas manobras retóricas" e a "instrumentalização" de agências da Organização das Nações Unidas (ONU) para justificar ataques militares.

"Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Assim como ocorreu no passado com a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a instrumentalização dos trabalhos da Agência Internacional de Energia Atômica coloca em jogo a reputação de um órgão fundamental para a paz. O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano", disse Lula.

A crítica acontece poucas semanas após os Estados Unidos e Israel realizarem ataques aéreos a instalações nucleares iranianas sob o pretexto de que o país do Oriente Médio estaria próximo de produzir armas nucleares.

A justificativa apresentada por israelenses e norte-americanos é semelhante à usada pelos Estados Unidos em 2003 durante a invasão do país ao Iraque. À época, os norte-americanos alegaram que o Iraque tinha armas de destruição em massa. As armas, no entanto, nunca foram localizadas. O regime iraniano, por sua vez, argumenta que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

Lula critica fome como 'arma de guerra' em Gaza

No discurso de abertura da Cúpula dos Brics, o presidente Lula criticou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e disse que o medo de uma "catástrofe nuclear voltou ao cotidiano"

Lula voltou a fazer críticas aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, usando mais uma vez a palavra genocídio.

A forte posição do líder brasileiro já levou o país sionista a o declarar "persona non grata", quando Lula comparou a situação palestina com o holocausto, no ano passado.

"Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra", disse, no Brics.

O presidente também voltou a defender o direito à criação de um Estado palestino, posição histórica da diplomacia brasileira.

"A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967".

Com linguagem mais branda, Lula criticou a invasão da Ucrânia, sem citar diretamente a Rússia, país que integra o Brics. Ele também defendeu os esforços brasileiros para mediar a paz na região, embora a iniciativa não esteja conseguindo avanços.

"É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura".

"O Grupo de Amigos para a Paz, criado por China e Brasil e que conta com a participação de países do Sul Global, procura identificar possíveis caminhos para o fim das hostilidades".

Em seu discurso, Lula também afirmou que condenou violações à soberania tanto do Irã quanto da Ucrânia.

Os líderes dos Brics estão reunidos no Rio de Janeiro até segunda-feira (7/7). O grupo é atualmente formado por Brasil, Rússia, China, Índia, Irã, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Egito, o bloco representa quase a metade da população mundial e 40% da riqueza produzida globalmente.

Presidente leva bandeira da 'justiça tributária' ao Brics

Em outra fala na cúpula, durante debates econômicos, Lula disse que o "modelo neoliberal aprofunda as desigualdades" e defendeu a "justiça tributária", proposta que se tornou a principal bandeira do seu governo nas últimas semanas.

"Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015", destacou.

"Justiça tributária e combate à evasão fiscal são fundamentais para consolidar estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis, próprias para o século XXI", disse ainda.

Seu governo tenta aprovar no Congresso o aumento da faixa isenta no Imposto de Renda para R$ 5 mil. Para compensar as perdas, a gestão Lula que aumentar tributos sobre os mais ricos, com renda acima de R$ 600 mil ao ano.

A ideia é criar uma alíquota efetiva mínima de até 10% sobre esse grupo. Ou seja, ricos que pagarem menos que isso de Imposto de Renda, teriam que contribuir com um percentual adicional.

Além disso, a gestão Lula tentou elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas a medida foi derrubada no Congresso. Críticos dizem que o aumento de impostos defendido pelo governo prejudicaria o crescimento econômico.

(Fonte:  BBC)

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