sexta-feira, 11 de julho de 2025

POUCAS E BOAS - artemisiodacosta@hotmail.com (Do Jornal Correio da Semana - Sobral-CE - Sábado - 12.07.25)

 Coristina X Orastina

Irismar, cabra macho como muitos que habitam o sertão nordestino, amansador de animais e derrubador de gado, estava passando por momentos nunca antes experimentados. Não mais aguentava as fortes dores no corpo, muitas cólicas, espirradeira constante e a febre alta interminável.

Diante disso, com o sofrimento perdeu o medo e a cerimônia e resolveu apelar para o médico da cidade vizinha, mais evoluída.

Largou a fazenda e foi enfrentar o consultório médico, terreno desconhecido e sufocante para quem levava a vida em contato constante com a liberdade e com a natureza.

Logo de cara, o Doutor reconheceu tratar-se apenas de uma forte gripe. Recomendou, então, em voz alta uma receita simples e muito conhecida: Coristina, vitamina C e cama. Oficializou isso em sua assustadora “caligrafia”, que não tem nada de bela (kallos,no grego).

Sem conhecer nada de medicina e sem querer dar o mérito da cura ao Doutor, o matuto inventou de se tratar por conta própria com sua “ciênça”, que era à base de mezinhas, garrafadas e outras coisas. Do alto da sua macheza (ignorância) considerava covardia deixar-se abater por uma gripezinha.

Passados alguns dias sem vir a cura e agravando-se ainda mais o quadro, Irismar decidiu mandar a esposa grávida, que também se chamava Irismar, buscar ajuda na farmácia, levando a receita médica. Agora, a saída seria adquirir os medicamentos recomendados na indecifrável receita médica.

De poucas letras e com defeito na fala que lhe privava de pronunciar palavras iniciadas pelas letras “C”, “G” e “Q”, dona Irismar chegou ofegante ao farmacêutico, pois já atingira o sétimo mês de gravidez. Mesmo entregando aquele papel todo riscado pelo médico, ela pediu uma ampola do medicamento Orastina, pois foi assim que entendeu a pronúncia. Mas o esculápio jura de pés juntos até hoje que receitou Coristina.

Gago desde criança, o boticário, sempre atencioso tratou imediatamente de atender a privilegiada freguesa. De posse da receita, pairou grande dúvida sobre a interpretação do nome medicamento. Até que tentou ler a receita, procurando diversas vezes decifrar a péssima qualidade da letra do Doutor, ou melhor, os garranchos que talvez nem ele mesmo entendia após alguns minutos. Mas diante do estado interessante da freguesa arriscou.

Sem tentar descobrir os sintomas do paciente e sem sucesso na leitura, falou mais alto não deixar aquele freguês sair, até porque ainda não havia vendido nada naquele dia. Assim, não titubeou e empurrou logo duas ampolas de Orastina em vez dos envelopes de Coristina. Na dúvida, sempre prevalece o nome mais parecido e a esperança da cura. Isso já se tornou entre a maioria dos vendedores de remédio

Enquanto isso, em casa o pobre Irismar se contorcia de dor, o nariz escorria como uma torneira, os calafrios da febre não o deixaram sossegar. E o retorno da esposa era aguardado ansiosamente.

De volta para casa, dona Irismar cuidou logo de chamar a única aplicadora de injeção da redondeza. Naquele momento, a prioridade era injetar a Orastina nas entranhas do doente. Para mais tristeza do Irismar, bunda à mostra e injeção aplicada.

Com poucas horas as dores começaram a afligir ainda mais o valente sertanejo. Desta vez eram dores nas cadeiras (nunca sentidas), mais cólicas fortes e uma sensação de que algo que não existia queria sair de dentro do seu corpo. Não queria espalhar o que estava acontecendo, mas achava e garantia que parece que iria parir.

E a coisa complicou. Chamaram rezadeira, curandeira e até parteira. Essa última, muito assombrada e com visível receio, chegou a afirmar: infelizmente, pelo que conheço só pode ser dor de menino.

Mais uma decepção para o destemido sertanejo. E não teve outro jeito a não ser apelar para medicina do sertão. E tome garrafadas, gororoba de tudo que aparecia. O principal e único objetivo era sustar, impedir o parto impossível do Irismar.

Depois de muito esforço o pseudoparturiente voltou à condição de macho. Mas as dores de parir e a terrível decepção passada o perturbaram por muito tempo, reavivando-se sempre em todas as rodas de fofocas daquele sertão.

Mas de toda essa via crucis percorrida, uma lição ficou para sempre na memória daquele matuto: Irismar decidiu nunca mais aceitar receita médica inteligível (que todos possam ler e entender com facilidade); sempre seguirá à risca toda prescrição médica e não mais mandará a esposa comprar remédio para ele, pelo menos enquanto possuir uma mulher gaga e de nome igual ao seu.

(P.S.: Coristina – antigripal; Orastina – medicamento para acelerar o parto)

**********

É verdade!

A Lei nº 5.991/73 assegura ao profissional que o receituário médico também pode ser escrito a mão. Desde que inteligível, de fácil leitura. Independentemente disso, dada a falta de tempo do médico, seria de bom alvitre que tais documentos fossem feitos no computador. Alô, alô, secretárias e atendentes! 

Facilita!

Mesmo perdendo o tema para escrever outros contos da espécie, aplaudirei a decisão. Facilitar, e muito, para pacientes e farmacêuticos (balconistas). De sobra, fica afastado o perigo de alguém tomar medicação errada. Enfim, saúde é o que interessa. 

Sem postura

Se em Sobral há o Código? Sim! Postura firme? Não! É o que falta à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente local para impedir a invasão das calçadas por comerciantes. Sem saída, pedestres são obrigados a disputar os espaços dos veículos nas vias públicas. Em casos de acidentes, o jeito é apelar para o Código Penal. É uma pena!

DOMINGO NA EDUCADORA FM 107,5 - SOBRAL-CE

ÁUDIOhttps://www.radios.com.br/play/12869

ÁUDIOVÍDEOhttps://www.facebook.com/educadoradonordestefm

NO YOUTUBERádio Educadora FM 107.5

Neste domingo (13), das 10h30 às 12h30, PROGRAMA ARTEMÍSIO DA COSTA, na Educadora FM 107,5 de Sobral. Com notícias, reportagens, entrevistas, curiosidades e música de boa qualidade. DESTAQUE: Entrevista, ao vivo, com Dr. JOSÉ LUIZ LIRA, diretor do Museu Diocesano Dom José de Sobral. Participe: 3611-1550 // 3611-2496 // Facebook: Artemísio da Costa. 

LEIA, CRITIQUE, SUGIRA E DIVULGUE

www.artemisiodacosta.blogspot.com

  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário