Coristina X Orastina
Irismar, cabra macho como muitos que habitam o sertão nordestino, amansador de animais e derrubador de gado, estava passando por momentos nunca antes experimentados. Não mais aguentava as fortes dores no corpo, muitas cólicas, espirradeira constante e a febre alta interminável.
Diante disso, com o sofrimento
perdeu o medo e a cerimônia e resolveu apelar para o médico da cidade vizinha,
mais evoluída.
Largou a fazenda e foi enfrentar
o consultório médico, terreno desconhecido e sufocante para quem levava a vida
em contato constante com a liberdade e com a natureza.
Logo de cara, o Doutor
reconheceu tratar-se apenas de uma forte gripe. Recomendou, então, em voz alta
uma receita simples e muito conhecida: Coristina, vitamina C e cama. Oficializou
isso em sua assustadora “caligrafia”, que não tem nada de bela (kallos,no
grego).
Sem conhecer nada de medicina
e sem querer dar o mérito da cura ao Doutor, o matuto inventou de se tratar por
conta própria com sua “ciênça”, que era à base de mezinhas, garrafadas e outras
coisas. Do alto da sua macheza (ignorância) considerava covardia deixar-se
abater por uma gripezinha.
Passados alguns dias sem vir a
cura e agravando-se ainda mais o quadro, Irismar decidiu mandar a esposa
grávida, que também se chamava Irismar, buscar ajuda na farmácia, levando a
receita médica. Agora, a saída seria adquirir os medicamentos recomendados na
indecifrável receita médica.
De poucas letras e com defeito
na fala que lhe privava de pronunciar palavras iniciadas pelas letras “C”, “G”
e “Q”, dona Irismar chegou ofegante ao farmacêutico, pois já atingira o sétimo
mês de gravidez. Mesmo entregando aquele papel todo riscado pelo médico, ela pediu
uma ampola do medicamento Orastina, pois foi assim que entendeu a pronúncia.
Mas o esculápio jura de pés juntos até hoje que receitou Coristina.
Gago desde criança, o
boticário, sempre atencioso tratou imediatamente de atender a privilegiada
freguesa. De posse da receita, pairou grande dúvida sobre a interpretação do
nome medicamento. Até que tentou ler a receita, procurando diversas vezes decifrar
a péssima qualidade da letra do Doutor, ou melhor, os garranchos que talvez nem
ele mesmo entendia após alguns minutos. Mas diante do estado interessante da
freguesa arriscou.
Sem tentar descobrir os
sintomas do paciente e sem sucesso na leitura, falou mais alto não deixar
aquele freguês sair, até porque ainda não havia vendido nada naquele dia.
Assim, não titubeou e empurrou logo duas ampolas de Orastina em vez dos
envelopes de Coristina. Na dúvida, sempre prevalece o nome mais parecido e a
esperança da cura. Isso já se tornou entre a maioria dos vendedores de remédio
Enquanto isso, em casa o pobre
Irismar se contorcia de dor, o nariz escorria como uma torneira, os calafrios
da febre não o deixaram sossegar. E o retorno da esposa era aguardado
ansiosamente.
De volta para casa, dona
Irismar cuidou logo de chamar a única aplicadora de injeção da redondeza.
Naquele momento, a prioridade era injetar a Orastina nas entranhas do doente.
Para mais tristeza do Irismar, bunda à mostra e injeção aplicada.
Com poucas horas as dores
começaram a afligir ainda mais o valente sertanejo. Desta vez eram dores nas
cadeiras (nunca sentidas), mais cólicas fortes e uma sensação de que algo que
não existia queria sair de dentro do seu corpo. Não queria espalhar o que
estava acontecendo, mas achava e garantia que parece que iria parir.
E a coisa complicou. Chamaram rezadeira,
curandeira e até parteira. Essa última, muito assombrada e com visível receio, chegou
a afirmar: infelizmente, pelo que conheço só pode ser dor de menino.
Mais uma decepção para o
destemido sertanejo. E não teve outro jeito a não ser apelar para medicina do sertão.
E tome garrafadas, gororoba de tudo que aparecia. O principal e único objetivo
era sustar, impedir o parto impossível do Irismar.
Depois de muito esforço o
pseudoparturiente voltou à condição de macho. Mas as dores de parir e a
terrível decepção passada o perturbaram por muito tempo, reavivando-se sempre
em todas as rodas de fofocas daquele sertão.
Mas de toda essa via crucis
percorrida, uma lição ficou para sempre na memória daquele matuto: Irismar
decidiu nunca mais aceitar receita médica inteligível (que todos possam ler e
entender com facilidade); sempre seguirá à risca toda prescrição médica e não
mais mandará a esposa comprar remédio para ele, pelo menos enquanto possuir uma
mulher gaga e de nome igual ao seu.
(P.S.: Coristina – antigripal;
Orastina – medicamento para acelerar o parto)
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É verdade!
A Lei nº 5.991/73 assegura ao profissional que o receituário médico também pode ser escrito a mão. Desde que inteligível, de fácil leitura. Independentemente disso, dada a falta de tempo do médico, seria de bom alvitre que tais documentos fossem feitos no computador. Alô, alô, secretárias e atendentes!
Facilita!
Mesmo perdendo o tema para escrever outros contos da espécie, aplaudirei a decisão. Facilitar, e muito, para pacientes e farmacêuticos (balconistas). De sobra, fica afastado o perigo de alguém tomar medicação errada. Enfim, saúde é o que interessa.
Sem postura
Se em Sobral há o Código? Sim!
Postura firme? Não! É o que falta à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e
Meio Ambiente local para impedir a invasão das calçadas por comerciantes. Sem
saída, pedestres são obrigados a disputar os espaços dos veículos nas vias
públicas. Em casos de acidentes, o jeito é apelar para o Código Penal. É uma
pena!
DOMINGO NA EDUCADORA FM 107,5 - SOBRAL-CE
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Neste domingo (13), das 10h30 às 12h30, PROGRAMA ARTEMÍSIO DA COSTA, na Educadora FM 107,5 de Sobral. Com notícias, reportagens, entrevistas, curiosidades e música de boa qualidade. DESTAQUE: Entrevista, ao vivo, com Dr. JOSÉ LUIZ LIRA, diretor do Museu Diocesano Dom José de Sobral. Participe: 3611-1550 // 3611-2496 // Facebook: Artemísio da Costa.
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