Para
Altay, as apostas esportivas, regulamentadas por lei, são um dos principais
problemas, já que alimentam a ilusão de controle: a falsa sensação de que, por
conhecer futebol ou estatísticas, é possível prever o resultado dos jogos. Mas
trata-se de um jogo de azar, cujo resultado é fortemente influenciado por algum
dispositivo de aleatoriedade como a loteria, o jogo do bicho, o bingo ou
cassinos online, como o popular ‘jogo do tigrinho’.
Segundo
dados do Raio-X do Investidor Brasileiro, cerca de 23 milhões de pessoas
apostaram em 2024. Entre elas, 16% (cerca de 4 milhões) consideram as apostas
uma forma de investimento financeiro. O mesmo estudo aponta que, entre os
usuários de aplicativos de apostas em 2024, 3 milhões de pessoas apresentam
alta propensão ao vício.
“Se
as bets sumissem agora, já teríamos um custo na casa de bilhões de reais para
amortizar a perda de bilhões de pessoas, o impacto nos serviços públicos de
saúde, absenteísmo, entre outras consequências que já foram geradas pelas bets
até hoje. E a tendência é só crescer. É uma situação muito grave. Mesmo que
você não jogue, com certeza conhece alguém em risco patológico”, explica.
Entre
os fatores que aumentam o risco de vício, Altay destaca o tempo de exposição
aos jogos e às propagandas, presentes em todo lugar, e a desigualdade social. O
pesquisador explica que, em um país desigual como o Brasil, a maioria das
pessoas não consegue investir pensando no longo prazo. Elas precisam ganhar
dinheiro imediatamente para pagar boletos e contas urgentes. A bet entra neste
ponto ao vender a ilusão de que é possível ganhar dinheiro rápido e fácil. “A
pessoa não espera um ano para ganhar 200 reais. Ela quer ganhar 100 agora. Não
é porque é imediatista: é porque o ambiente exige isso.”
As
propagandas das casas de apostas, que associam o jogo à diversão, alegria e
entretenimento, também têm papel fundamental na normalização do vício. Altay
explica que, do ponto de vista psicológico, o sistema das bets é adaptativo: no
começo, o usuário ganha mais, o que reforça a memória emocional das vitórias.
Depois, passa a perder, mas já está condicionado a lembrar das suas vitórias.
“Você lembra das vezes que ganhou, mas não das que perdeu. A memória emocional
funciona assim: notícias boas ficam mais tempo, ruins te atingem no presente e
somem […] A bet é mais um elemento em um cenário de desigualdade, violência,
imediatismo e excesso de informação.”
Para
ele, saber que você pode se viciar é o melhor jeito de evitar o vício. “Como
cientista eu rogo para todo mundo: um pouco mais de consciência e brigar de
fato para regulamentar, e quando digo regulamentar é proibir mesmo”, defende.
Investigar
o império das bets é um assunto sério e urgente. Milhões de brasileiros seguem
expostos diariamente a jogos que exploram a ilusão de controle e colocam a
saúde mental em risco. Nesse cenário, empresas estrangeiras continuam lucrando
sem transparência e com pouca ou nenhuma fiscalização. Com o seu apoio,
queremos aprofundar essa apuração e responder quem manipula, quem lucra e quem
perde nesse sistema. Estamos na reta final da nossa campanha, apoie o
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(Ag. Brasil)
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