

“Agora chegou a
hora de convidarmos vocês para essa nossa grande festa por um Brasil mais
amplo, plural e onde caibam todas e todos nós”, diz a introdução do livro que
foi fruto de uma pesquisa elaborada por Flávio dos Santos Gomes, Lilia Moritz
Schwarcz e Suzane Lopes, que também fez as ilustrações.
Nesta nova obra, os jovens e as crianças são convidados a mergulhar nas trajetórias de personalidades negras que foram reunidas em duplas temáticas. A ideia é aproximar nomes que estão distantes no tempo, mas próximos em suas profissões, lutas ou experiências tais como o escultor mineiro Aleijadinho (1730-1814) e a pintora Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974), dois grandes artistas brasileiros. Ou como os escritores Cruz e Souza (1861-1898) e Mário de Andrade (1893-1945).
Na apresentação do livro - que foi realizada dentro da programação da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), evento que é realizado no centro histórico de Salvador – as autoras Lilia e Suzane destacaram que, por ser uma enciclopédia, esse é um projeto que está incompleto e sem fim, podendo sempre apresentar novos personagens.
“A enciclopédia tem um ponto de começo, mas não tem um ponto final, como no livro anterior. Queremos que vocês vejam esses casos e não imaginem que sejam os únicos e tampouco que são os mais importantes. Mas queremos que esses casos animem a pensar em tantos outros de sua vida, de sua vizinhança, da sua família. O projeto da enciclopédia é fadado a nunca terminar”, disse Lilia Schwarcz, ao se apresentar ao público.
Em entrevista à Agência Brasil logo após conversar com o público da
Flipelô, Lilia Schwarcz disse que o novo livro é resultado de uma boa aceitação
do anterior. “Esse projeto Enciclopédia Negra foi muito bem abraçado e tem sido
[ainda]. E criou uma capilaridade tremenda, com muitas exposições e muitos
artistas”, disse ela. “E a gente achou que seria uma ideia bonita passar para
os jovens”, reforçou.
A Enciclopédia
Negra para Jovens Leitores, acrescentou Suzane, pretende garantir o acesso dos
jovens a essas narrativas que não estão nos livros oficiais. Trata-se, segundo
ela, de “uma jornada de descoberta sobre quem a gente é e quem são os nossos”.
“A Enciclopédia
Negra chegou na minha vida impactando. É um livro de muita responsabilidade
para a gente retratar personagens históricos que foram representados por
pessoas brancas no passado ou de forma equivocada. Então, a gente traz uma
leitura mais fiel, mais positiva, de pertencimento e de poder desses
personagens. Acho que é muito importante que o público jovem tenha acesso, de
uma forma lúdica e positiva, da própria história”, disse ela à reportagem.
Um dos objetivos desse projeto, destaca Lilia, é que ele chegue às escolas de todo o país despertando o senso crítico e abrindo os olhos dos jovens e das crianças para a pluralidade e diversidade.
“Cada vez mais a gente tem professores críticos, professores que precisam de material, professores que estão abraçando as causas e falando das causas, mas que por muitas vezes precisam desse tipo de livro para ganhar mais vocabulário, para ganhar mais crítica e para também incentivar as crianças. Então esse é um projeto, como eu disse, uma enciclopédia que tem começo, mas não tem final. A ideia agora é chegar nas escolas, no chão da escola, porque, na minha opinião, nosso futuro está nas escolas”, destacou.
Jabuti acadêmico
Na semana
passada, Lilia recebeu um novo prêmio Jabuti, dessa vez um Jabuti Acadêmico na
categoria História e Arqueologia pelo livro Imagens da branquitude: a presença
da ausência.
Neste livro, ela
analisa o fenômeno social e cultural da branquitude a partir de suas
manifestações simbólicas e iconográficas. À reportagem, a historiadora e
antropóloga disse que Imagens da Branquitude é “um livro de vida”.
“Faz 20 anos que
eu dou o curso Lendo Imagens na Universidade de São Paulo e pelo menos 10 anos
em Princeton [nos Estados Unidos]. E nesse tempo todo eu fui também mudando. Eu
fui descolonizando o curso, eu fui criticando as imagens muito eurocêntricas,
fui chamando artistas brasileiros e brasileiras e artistas negros e artistas
indígenas. Esse é um livro de 20 anos e demorei uns três ou quatro anos para escrevê-lo
porque eu queria colocar uma história que, não sendo contínua, fosse uma
história, de alguma forma, cronológica”, disse ela.
*A
equipe da Agência Brasil viajou a convite da Motiva, patrocinadora e parceira oficial de
mobilidade da Flipelô 2025
(Ag.
Brasil)
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