Segundo o Ipam, o Corpo de Bombeiros de cada estado da
região conta, em média, com 1.116 militares, número significativamente inferior
ao de outras regiões do país. No estado do Amazonas, a média é de um militar
para cada 140 mil hectares, enquanto em São Paulo a proporção é de um
profissional para cada 2,8 mil hectares.
Na avaliação da coordenadora de projetos em políticas públicas do Ipam, Jarlene Gomes, o despreparo institucional é explicado, em partes, pela mudança na dinâmica das catástrofes ambientais. “O que a gente sente nas discussões quando apresenta esse estudo é que, até então, o problema do Brasil, da Amazônia, era o desmatamento”, avalia. “A partir dos últimos anos, que os incêndios florestais estão sendo mais intensos, mais severos, isso vira um problema social e para a política pública”, diz.
Aprendendo com o trauma
Em 2024, o Brasil e o mundo bateram recordes de incêndio.
De acordo com o World Resources Institute (WRI), pela primeira vez em 70 anos,
os incêndios — e não a agropecuária — foram a principal causa da perda de
florestas tropicais em todo o mundo. O mundo perdeu 30 milhões de hectares de
florestas – uma área do tamanho da Itália. No Brasil, o fogo de 2024 causou a
maior devastação de sete décadas.
A Amazônica foi, em 2024, o bioma mais afetado pelos
incêndios, com 17,9 milhões de hectares queimados – quase a metade do total da
área devastada pelo fogo no país.
“2024 foi muito atípico no que diz respeito aos
incêndios florestais”, avalia diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar. “Foi um
ano muito seco, com uma seca acumulada e tivemos também, num momento de seca
acumuladas, o uso do fogo de forma criminosa, principalmente em áreas não
destinadas”, explica. Em 2024, os incêndios em terras públicas não destinadas
aumentaram 64%, em comparação com o ano anterior.
A pesquisadora acredita que a catástrofe de 2024
serviu para que a sociedade civil começasse a aplicar estratégias de controle
dos incêndios. Ela chama isso de “efeito trauma”. “Quem sofreu com a perda de
animais, de pasto, vai ser mais cauteloso em colocar fogo no ano seguinte”,
diz.
Já no âmbito de políticas públicas, é necessário ainda
mais esforços para enfrentar uma catástrofe semelhante à registrada no ano
passado. “Infelizmente, dada a proporção do que aconteceu em 2024, não acho que
seja suficiente [as estruturas e ações atuais] para um cenário semelhante”.
(Brasil
de Fato)

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