

“Naquele
dia, acordei e comecei a beber pela manhã. Eu estava passando por muitos
problemas. Era pandemia”. Ela, que havia enfrentado uma separação e começou a
beber inicialmente apenas esporadicamente, se viu dependente.
Vulnerabilidade
Hoje, garante que participar das
reuniões do grupo, que se organiza como uma “irmandade” com outras pessoas
que vivem o mesmo problema, mudou o rumo de sua vida. “Sirvo a mulheres
que estão em situações de vulnerabilidade como eu estava”.
Quando
o AA completa 90 anos de criação, I.F espera que alguém com dependência de
bebida alcóolica também conheça sua história e procure ajuda. “Eu peguei o
número, mandei uma mensagem e me enviaram o link de
uma reunião virtual”. Ela entrou numa reunião só com mulheres.
“Ouvi-las
falar sobre aquelas questões, sem dúvida, foi o ponto-chave para eu ficar e
querer essa recuperação dentro do Alcoólicos Anônimos”.
Ela
garante que a participação no grupo salvou-a “da destruição”. I.F. também
participa de reuniões tradicionais mistas.
A
Irmandade do AA foi criada nos Estados Unidos no ano de 1935. Para participar
das reuniões, não há custos. A ideia é que as pessoas nos grupos compartilhem
suas experiências para ajudar uns aos outros a se recuperar do
alcoolismo.
A presidente da
Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil (JUNAAB), Lívia Pires
Guimarães, afirma que, no caso das mulheres, o uso de álcool é subnotificado e
invisibilizado.
“Quando é
uma mulher, esse estigma aumenta e é carregado de adjetivos pejorativos. O
ambiente em que a mulher costuma beber frequentemente é sua casa. Então,
fica invisibilizado”, avalia a psicóloga.
Ela observa, porém, que durante a
pandemia e com as reuniões virtuais, as mulheres conseguiram encontrar um
caminho e um espaço para ter acesso à Irmandade Alcoólicos Anônimos. “A partir do
contato online, começaram a ir
para o presencial também, ou permanecer nos dois. E aí o movimento começou a
aumentar”.
Virtual
Possibilitar
a reunião virtual fez com que mais pessoas procurassem o serviço. Antes da
pandemia, havia essa intenção de fazer encontros virtuais, mas existia um
cuidado especial por causa do anonimato, um dos pilares importantes do
grupo.
Lívia
Guimarães explica que as reuniões são organizadas e feitas por membros do
grupo. “Todas as ações são feitas por integrantes da irmandade. São eles que
vão pensar, idealizar, trabalhar para acontecer e fazer”.
Bebida
na infância
Há
muitas histórias para contar como a de R.S, 61 anos, morador do Piauí, que está
há mais de 33 anos em abstinência de álcool. Ele chegou ao grupo em 1992.
Experimentou bebida alcóolica aos seis anos. “Foi a primeira vez que me
embriaguei”. O pai era dependente químico de bebida. Na adolescência e “todas
as vezes” que tinha acesso à bebida, não tinha controle.
“No meu primeiro emprego, o primeiro
salário gastei todinho com bebida. Eu vivia dependendo de parentes, de
irmãos, para me ajudar”, recorda. Ele diz que não perdeu a própria vida
por muito pouco, diante das confusões em que se envolvia.
Aos 28
anos, o homem, em uma crise de abstinência, se assustou com o próprio vômito e
se lembrou de um colega de trabalho que já havia se prontificado a ajudar. “Eu
fui para a casa dele. Isso ocorreu em 22 de abril de 1992”.
Data que ele nunca mais vai esquecer e que o levou ao grupo de AA.
Desde então, constituiu família, com um filho, fez faculdade e até
pós-graduação.
Perdas
Outro
membro do AA que descobriu a bebida muito jovem é um homem que se identifica
como Natali, de 67 anos, residente em São Paulo. “O meu histórico com o
alcoolismo começou com 13 anos quando perdi meu pai e comecei a trabalhar
em uma metalúrgica”.
Hoje,
ele entende que, aos 18 anos, já tinha problema sério com bebida. Mas, um
momento importante foi quando uma noiva dele morreu. Ele tinha apenas 21 anos
de idade. Em 1999, procurou ajuda no AA. O tempo de sobriedade mudou a
trajetória. “Muda tudo depois que você conhece o caminho da sobriedade,
evitando o primeiro gole. Você se descobre capaz de ser aquela pessoa que você
sabe que é, mas o álcool não deixava”.
(Ag.
Brasil)
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